Reciclagem Talento de artesão do Agreste dá vida à sucata Ex-serralheiro usa peças de moto em trabalho que surpreende público

Por: Tânia Passos - Diário de Pernambuco

Publicado em: 28/05/2017 11:36 Atualizado em: 29/05/2017 20:32

O ex- serralheiro Valmir Reginaldo da Silva, 37 anos, passou a maior parte de seu tempo no ofício fabricando portões de ferro em Agrestina, a 150 quilômetros do Recife. Em 2013, quase que por acaso, teve sua primeira experiência como artesão de peças feitas com sucata. Ao ver que seu vizinho, dono de uma oficina mecânica, iria jogar no lixo correntes de moto, ele as pediu e a partir delas criou um jacaré. A peça foi colocada em frente à casa dele, nas margens da BR-104, ainda para receber pintura, mas antes disso apareceu o primeiro comprador, que fez também a encomenda de um cavalo. O serralheiro aceitou o desafio e deu lugar ao talentou de artesão, que não imaginava ter.

“Eu disse que iria tentar. Fiz as medidas de um cavalo em tamanho real, juntei as peças e comecei a montá-lo”, contou Reginaldo. O cliente que fez a encomenda não teve nem tempo de ver o cavalo pronto. Um outro comprador apareceu antes. “O cavalo dele acabou sendo o terceiro e até agora já fiz 18 cavalos”, revelou. Cada equino metálico pesa em média 500 quilos, o que significa nove mil quilos de ferro longe do lixão.

O artista usa basicamente peças de moto no seu trabalho. No início, buscava a matéria-prima em ferros-velhos, mas não demorou para receber dos próprios donos de oficina, que queriam se desfazer das sucatas. “Depois que comecei a vender com mais frequência, eles agora negociam, mas ainda é melhor do que jogar no lixo”, explicou.

Depois do jacaré e dos cavalos, ele deixou a imaginação correr solta pelo mundo animal. Fez também boi, elefante, leão e caranguejo. Os detalhes no acabamento chamam atenção. O rabo e a crina do cavalo, por exemplo, são feitos com o comprimento da correntes, que recebem uma pintura especial para destacar a cor. Já o corpo é formado com peças em forma de disco, usadas na moto para fazer a tração. “Também uso vigas de ferro de construção civil, que ajudam a dar o formato à cabeça das peças”, explicou.

A criação de um transformer com três metros de altura, que além de peças de moto recebeu também peças de carro, foi a que mais atraiu o público infantil. “Eu vi que a peça causou uma reação muito forte nas crianças e decidi fazer outras com o tema infantil”, explicou. Desse universo já saíram Wolverine, personagem da franquia X-Men, também o Exterminador do Futuro, ambos em tamanho real. Para quebrar um pouco o clima de violência, ele fez ainda o Pernalonga, ícone dos desenhos animados, e Emília, personagem de Monteiro Lobato.

A primeira exposição com as peças foi em um shopping de Caruaru. “A exposição funciona como uma vitrine. Não se traduz exatamente em vendas, mas amplio a minha rede de contatos”, explicou. Dessa vez, ele foi convidado pela Colégio Fazer Crescer, na Zona Norte do Recife, que trabalha com a temática da sustentabilidade, para expor suas peças na unidade Ecoprédio Urbano Vitalino. “Uma das diretoras passou pela BR-104, viu as peças expostas e fez o convite. A experiência está sendo muito boa. É impressionante a reação das crianças e como elas transportam a imaginação para o cenário que está diante delas”, contou.

Lixo vira arte

A exposição com as peças do artista plástico ficará aberta ao público no dia 5 de junho, quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente. Desde o dia 25, os pais dos alunos têm acesso à mostra do artista. As crianças com idades de seis a nove anos aproveitam o horário do recreio para admirar as peças montadas na área interna da escola. Além dos animais, há ainda a escultura de Luiz Gonzaga com uma sanfona também fabricada de sucata. Apenas o chapéu que compõe o figurino é de couro. Mesmo sem nunca terem visto o forrozeiro, falecido há 28 anos, elas dançam e cantam em frente a escultura do artista, como se o conhecesse.

Na entrada da escola, um elefante dá as boas-vindas e a pomba da paz recepciona os visitantes. Um dinossauro foi encomendado pela escola e instalado na entrada do laboratório dos alunos do ensino fundamental. “A exposição tem sido um grande sucesso não apenas com as crianças, mas também com os pais que estão encantados com as peças”, contou Andressa Barros, auxiliar de marketing da escola.

Serviço

Exposição Lixo vira arte
Onde: Eco-prédio da Colégio Fazer Crescer, na Rua Couto Magalhães, no Rosarinho
Quando: De 25 de maio a 5 de junho (aberto ao público só dia 5) Entrada: gratuita

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