Saladorama Projeto dá oportunidade no mercado de trabalho e acesso à comida saudável Localizado em quatro comunidades do Brasil, o objetivo é movimentar a economia local, já que a empresa capacita os próprios moradores

Por: Mariana Fabrício - Diario de Pernambuco

Publicado em: 15/07/2016 11:18 Atualizado em: 15/07/2016 13:51

Edilene Maria de Oliveira participou da capacitação para aprender o manejo com saladas, tanto no preparo como na conservação desses alimentos.
Foto: Mariana Fabrício/DP.
Edilene Maria de Oliveira participou da capacitação para aprender o manejo com saladas, tanto no preparo como na conservação desses alimentos. Foto: Mariana Fabrício/DP.

Há dois anos sem conseguir emprego, a dona de casa Edilene Maria de Oliveira, de 54 anos, encontrou na cozinha além de uma oportunidade de trabalho, uma forma mais saudável de se alimentar e mudar de vida. Nascida no bairro de Nova Descoberta, ela participa há cinco meses do Saladorama, projeto que se estabelece em comunidades brasileiras para capacitar moradores, tornando a alimentação de qualidade uma opção acessível.

Como o nome sugere, o negócio social vende saladas a partir de R$ 15, que são produzidas pelos próprios moradores das áreas mais pobres do Brasil. O objetivo é apostar em alimentos equilibrados, mas com pouco custo para quem compra. Os pedidos são feitos através de um site e o serviço conta com equipe de cozinheiras, entregadores, nutricionista e um estagiário em vendas reeducando pela Funase. Além do lucro, o objetivo é tornar o negócio autossustentável, gerando renda e treinamento aos moradores da comunidade. "Percebemos que poucos serviços são direcionados para as classes C, D e E. Teríamos público em bairros nobres e em grandes centros, mas, quando a gente entra em uma comunidade, percebe que está introduzindo um novo hábito", compara o criador do Saladorama, Hamilton Henrique, de 27 anos.

Depois de conhecer melhor sobre os alimentos em que iria trabalhar, Edilene levou a rotina da cozinha do Saladorama para a mesa da família. "Alguns temperos e até verduras mesmo que eu não sabia nem que existiam e passei a gostar. Minha rotina era de cozinhar em casa, mas hoje posso aperfeiçoar e levar para meu filho uma comida mais saudável. Coisas que ele dizia que não gostava, mas eu coloco na comida e ele nem percebe. É o modo de preparo que faz a diferença", diverte-se a cozinheira. A mudança nas refeições diárias refletiu diretamente na saúde. Com hipertensão, Edilene diz que os sintomas diminuíram depois da mudança na rotina alimentar.

Entre as opções estão oito saladas temáticas que podem ser pagas pelo sistema online PagSeguro e à vista.
Foto: Mariana Fabrício/DP
Entre as opções estão oito saladas temáticas que podem ser pagas pelo sistema online PagSeguro e à vista. Foto: Mariana Fabrício/DP

"Nós fizemos um levantamento e percebemos que 68% dos moradores de Nova Descoberta tem alguma doença crônica, como diabetes, por exemplo. Então a ideia é dar opção na montagem do cardápio dessas pessoas democratizando o acesso, tanto no conhecimento de novas possibilidades de alimento, como no preparo deles", explica a cofundadora do Saladorama, Isabela Ribeiro, atualmente responsável pelas operações da empresa no Nordeste. Também original do bairro em que instalou o empreendimento, ela teve um olhar de quem já conhecia a rotina e os costumes da comunidade para apostar que o negócio ia dar certo.

Há quase um ano no Recife, a iniciativa vai expandir para mais cinco cidades, além do Rio de Janeiro, onde foi fundada, Florianópolis, São Gonçalo e Sorocaba. A ideia é chegar a Fortaleza e ao sertão do Cariri ainda este ano. "Sentimos uma dificuldade inicial por conta da falta do hábito de comer salada. Mas hoje conseguimos atender 200 pedidos por semana. Por ser daqui, percebi que a venda de porta em porta funciona muito, o que facilita na adaptação também", conta Isabela.

A mudança de hábito percebida aos poucos é promovida por mulheres que são, por vezes, o pilar da economia de suas famílias e acabam influenciando no costume alimentar da própria comunidade. Com objetivo de empoderar essas pessoas, muitas delas montam seu próprio negócio. "O primeiro contato é 'não gosto de salada' ou 'tenho dificuldade para montar', mas depois essas mulheres conseguem adaptar opções saudáveis ao seu gosto. Uma delas participou de nossas turmas e criou sua própria marca de bolos funcionais", exemplifica.

Como o objetivo é formar um ecossistema que movimente a economia local, depois de um tempo de maturação, os negócios criados por quem já passou pelo Saladorama é acelerado e atua em conjunto, seja na revenda ou distribuição dos alimentos. "Então, além de uma salada, as pessoas podem pedir um pudim ou bolo, com receitas criadas aqui, para acompanhar, tornando o empreendimento autossustentável", conta Isabela.

Além das folhas, é possível escolher entre massa integral, feijão, batata doce e salpicão de frango.
Foto: Mariana Fabrício/DP
Além das folhas, é possível escolher entre massa integral, feijão, batata doce e salpicão de frango. Foto: Mariana Fabrício/DP

Modelo sustentável
Os clientes do Saladorama são virtuais. Fazendo o pedido pelo site, a salada é enviada por delivery, tornando os custos menores, já que não existe uma estrutura física para vendas além da cozinha. A salada grande (com 650g) custa R$ 18 e a pequena (com 400g), R$ 15, que somam com a taxa de entrega e a embalagem por R$ 6. Segundo Isabela o lucro é de 100%. Isso porque eles buscam a matéria prima orgânica direto no agricultor. "A gente passou um tempo para entender toda a cadeia de valor e perceber como poderia aproveitar o máximo do que é produzido. Então aqueles produtos feinhos, que o público de supermercado não compra, a gente aproveita e o agricultor não manda mais pro lixo porque os nutrientes e o sabor são os mesmos", explica.

As saladas têm um alto fluxo de saída, principalmente nas sextas-feiras, já que o serviço não está disponível nos finais de semana. Entre as opções estão montar a salada com os itens escolhidos ou modelos temáticos já prontos. "Além das folhas, temos opções de proteínas que podem acompanhar, como filé de frango, carne desfiada, queijo e sardinha. Ainda há leguminosos, como lentilha, grão de bico e feijão, tubérculos como batata doce e jerimum", conta a nutricionista Raiane Duarte. As entregas são feitas das 11h às 18h e os pedidos devem ser feitos somente no dia anterior à entrega.


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