Saúde Preconceito aumenta as chances de desenvolver diabetes, depressão, hipertensão e obesidade

Por: Alice de Souza - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/08/2015 15:30 Atualizado em: 28/09/2015 19:18

A aposentada Ana Cláudia Nascimento toma medicamentos para controlar as crises de ansiedade e depressão desenvolvidas depois de uma sequência de preconceitos sofridos (Rafael Martins/Esp.DP/D.A Press)
A aposentada Ana Cláudia Nascimento toma medicamentos para controlar as crises de ansiedade e depressão desenvolvidas depois de uma sequência de preconceitos sofridos
O maior sonho da vida de Ana Cláudia Nascimento, 40 anos, é concluir o ciclo escolar. Deficiente, ela sempre dependeu da solidariedade para estudar e, muitas vezes, viu o desejo frustrado pela falta de interesse da gestão pública em ajudá-la. A sequência de “nãos”, muitas vezes dados de formas agressivas, desencadeou um processo de depressão em Ana Cláudia. Além de nunca ter conseguido uma vaga no ensino médio, ela toma remédios há mais de 10 anos para controlar os sintomas.

Moradora do Brejo da Guabiraba, Zona Norte do Recife, Ana Cláudia precisa vencer lances de degraus, além de uma ladeira à qual muitos carros não conseguem subir, para acessar o ponto de ônibus mais próximo de casa. Esse é apenas um dos desafios pelos quais ela está disposta a passar para concluir os estudos básicos. Das vezes em que conseguiu, por pressão junto ao poder público, uma vaga nas salas de aula, sofria com piadas dos colegas.

Somadas ao histórico de preconceito sofrido por ela ao longo da vida - incluindo o dia em que uma médica se recusou a dar um atestado de incapacidade física só porque “não era paga para fazer o trabalho de outro profissional”, as piadas agravaram o quadro depressivo de Ana Cláudia. Insônia, crises de ansiedade e dores pelo corpo são apenas alguns dos sintomas evitados com o uso dos medicamentos.

“Há obstáculos onde você pede ajuda. Quando seus direitos são negados, você se sente humilhada. A autoestima baixa, você começa a chorar”, relata Ana Cláudia. A última solução dada a ela para concluir os estudos foi mudar de residência, para ficar mais próxima ao ponto de ônibus e à escola. A solução é inviável, já que Ana Cláudia mora sozinha com a mãe, também doente, e precisa da ajuda de parentes para realizar as atividades domésticas. Em uma eventual mudança, ela ficaria longe da família.

Enquanto espera a solução do poder público e não consegue concluir os estudos do português e outras matérias, Ana Cláudia desenvolve as habilidades de DJ em uma mesa de aparelhagem adaptada ao computador. Com a ajuda do tradutor online, conversa em inglês com amigos virtuais e, vez ou outra, mobiliza ajuda nas redes sociais. Fica triste, toma os remédios, sente as dores, mas em nenhum momento mostra semblante de quem abandonou o sonho.

Chances de desenvolver depressão são quatro vezes maiores em quem já sofreu preconceitos


Casos de discriminação aumentam em quatro vezes as chances de desenvolver depressão e crises ansiedade. Essas são apenas algumas das doenças cujas pessoas que já passaram por situação de preconceito estão mais sujeitas a desenvolver. Estudos realizados pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostram que além de mexer com o psicológico, as atitudes discriminatórias levam a alterações físicas.

 (Rafael Martins/Esp.DP/D.A Press)
Dentre elas, impulsionam a incidência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, como diabetes e hipertensão. Pessoas que sofreram preconceito têm acúmulo mais exagerado de gordura corporal, aumentando a possibilidade de obesidade, pressão mais elevada e ainda há o risco de desenvolver alguns tipos de câncer.

“A discriminação induz um estresse na vítima, que resulta na liberação de hormônios como o cortisol. Eles, por sua vez, produzem o aumento da pressão arterial. Algumas pessoas também podem enfrentar a discriminação desenvolvendo hábitos de alimentação de pior qualidade nutricional”, professor do Departamento de Saúde pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisador do tema há 10 anos João Luiz Bastos. A compensação também pode ocorrer com a ingestão exagerada de bebidas alcoólicas e tabaco.

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