Saúde
Preconceito aumenta as chances de desenvolver diabetes, depressão, hipertensão e obesidade
Por: Alice de Souza - Diario de Pernambuco
Publicado em: 01/08/2015 15:30 Atualizado em: 28/09/2015 19:18
A aposentada Ana Cláudia Nascimento toma medicamentos para controlar as crises de ansiedade e depressão desenvolvidas depois de uma sequência de preconceitos sofridos |
Moradora do Brejo da Guabiraba, Zona Norte do Recife, Ana Cláudia precisa vencer lances de degraus, além de uma ladeira à qual muitos carros não conseguem subir, para acessar o ponto de ônibus mais próximo de casa. Esse é apenas um dos desafios pelos quais ela está disposta a passar para concluir os estudos básicos. Das vezes em que conseguiu, por pressão junto ao poder público, uma vaga nas salas de aula, sofria com piadas dos colegas.
Somadas ao histórico de preconceito sofrido por ela ao longo da vida - incluindo o dia em que uma médica se recusou a dar um atestado de incapacidade física só porque “não era paga para fazer o trabalho de outro profissional”, as piadas agravaram o quadro depressivo de Ana Cláudia. Insônia, crises de ansiedade e dores pelo corpo são apenas alguns dos sintomas evitados com o uso dos medicamentos.
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Enquanto espera a solução do poder público e não consegue concluir os estudos do português e outras matérias, Ana Cláudia desenvolve as habilidades de DJ em uma mesa de aparelhagem adaptada ao computador. Com a ajuda do tradutor online, conversa em inglês com amigos virtuais e, vez ou outra, mobiliza ajuda nas redes sociais. Fica triste, toma os remédios, sente as dores, mas em nenhum momento mostra semblante de quem abandonou o sonho.
Chances de desenvolver depressão são quatro vezes maiores em quem já sofreu preconceitos
Casos de discriminação aumentam em quatro vezes as chances de desenvolver depressão e crises ansiedade. Essas são apenas algumas das doenças cujas pessoas que já passaram por situação de preconceito estão mais sujeitas a desenvolver. Estudos realizados pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostram que além de mexer com o psicológico, as atitudes discriminatórias levam a alterações físicas.
“A discriminação induz um estresse na vítima, que resulta na liberação de hormônios como o cortisol. Eles, por sua vez, produzem o aumento da pressão arterial. Algumas pessoas também podem enfrentar a discriminação desenvolvendo hábitos de alimentação de pior qualidade nutricional”, professor do Departamento de Saúde pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisador do tema há 10 anos João Luiz Bastos. A compensação também pode ocorrer com a ingestão exagerada de bebidas alcoólicas e tabaco.
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