Vida real Morar em casa tombada significa burocracia, custos altos e falta de incentivos

Por: Marcionila Teixeira - Diário de Pernambuco

Publicado em: 01/06/2015 11:59 Atualizado em: 01/06/2015 12:08

Marcos Simão, arquiteto, 50, mora onde poucos escolhem viver. Residente do imóvel 140 na Rua do Apolo, no Bairro do Recife, ele deixou um apartamento de 300 m2 à beira-mar de Candeias, Jaboatão, e se mudou para a casa do século 18. O motivo: apreço por imóveis antigos. Marcos possui três casarões no Recife Antigo. O arquiteto, pensa, é privilegiado por morar em um bem tombado. Ao mesmo tempo, tem que enfrentar os dissabores de viver nesse tipo de habitação, entre eles a demora na aprovação de de reforma e os custos altos de manutenção.

Das três casas de Marcos, só uma está no nome dele. “A maioria dos imóveis antigos tem problemas com documentação. Estou contratando um advogado para resolver o inventário. Regularizar exige tempo e dinheiro e por isso não consigo isenção do IPTU”, lamenta o arquiteto. Ele se refere à isenção de até 100%, por quatro anos, no caso de reforma pelo proprietário.

As dores de cabeça da professora Rosana Justino, 36, moradora da Rua Alto do Bonfim, 48, no Sítio Histórico de Olinda, começaram quando ela e o marido, recém-casados, construíram um anexo no terreno de uma casa com mais de 100 anos. “Meu marido respondeu a um processo no Ministério Público Federal e ficou sem poder votar. Tivemos que apresentar mais de um projeto de reforma até a aprovação na prefeitura e Iphan.”

Fátima mora na Cidade Alta, mas reclama dos cuidados que precisa ter a mais na hora de reformar a casa. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press
Fátima mora na Cidade Alta, mas reclama dos cuidados que precisa ter a mais na hora de reformar a casa. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press
Perto dali, Fátima Cavalcanti, dona do imóvel 25 da Rua do Bonfim, no quintal da casa 278, também reclama da burocracia para uma simples reforma. “Qualquer mudança pode demorar vários anos para ser aprovada. A prefeitura e o Iphan exigiram o embutimento da caixa d’água da casa 278, onde morou minha mãe, mas não há espaço. Outro dia, tentamos trocar grades de ferro por alumínio e não foi permitido”, critica.

Fernando Nogueira Cruz, 72, e Francisca Cruz, 65, têm quatro casas do início do século passado em Muribeca dos Guararapes, Jaboatão. O lugar está em processo de tombamento municipal. Eles reclamam, no entanto, da falta de incentivo. “Este ano, estamos pagando R$ 1,4 mil de IPTU”, diz Fernando.

Jaboatão tem 16 imóveis tombados, incluindo conjuntos como o lugar onde vive o casal Cruz. “Por estar em processo, o lugar já é incluído na lista de bens tombados”, explica o secretário de Cultura, Isaac Luna. Segundo ele, a ideia é implantar no município o mesmo processo ocorrido na capital, onde o proprietário ganha isenção de IPTU caso promova melhorias.

Fernanda e Francisco fizeram adaptações dentro da casa onde vivem há 40 anos, na antiga Rua do Rosário, hoje chamada Matriz, mas mantiveram a fachada intacta, com o ano 1912 estampado imponente bem no alto.

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