Saúde Dengue: agentes ambientais são barrados em bairros nobres no Recife Taxa de recusa a entrada dos agentes nas residências é alta em Boa Viagem, Graças e Casa Amarela

Publicado em: 04/04/2015 15:00 Atualizado em: 03/04/2015 22:16

 (Paulo Paiva/DP/D.A Press)
Oito em cada 10 focos do mosquito vetor da dengue, o aedes aegypti, estão nas residências, por isso o Recife - em epidemia - lançou mão de plantões extras para que agentes de saúde ambiental percorram os imóveis da cidade fazendo trabalho de prevenção e contagem de ovos. A eficiência da estratégia, porém, esbarra na recusa dos moradores. Algumas portas permanecem fechadas para as visitas na cidade, a maioria delas em bairros de área nobre.

O líder do ranking de recusas, em números absolutos, é o bairro de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife. Dos cerca de nove mil imóveis informados à Secretaria de Saúde municipal, os agentes não puderam entrar em 160 deles simplesmente porque o morador não quis abrir as portas. Isso significa que dois em cada dez imóveis do bairro não passaram por serviço de prevenção, quando somam-se os imóveis fechados.

No distrito sanitário seis, o campeão de recusas é o bairro de Boa Viagem. Dos 12 mil imóveis informados, 4,7 mil estão fechados. Em outros 158, os proprietários recusaram a ajuda dos agentes. O resultado é que, em uma das áreas mais turísticas da cidade, três em cada dez imóveis não estão prevenidos contra a dengue.
Dentre todos os distritos, em números relativos, o caso mais grave é o do bairro do Hipódromo, próximo aos bairros do Arruda e da Encruzilhada. Na localidade, se somadas as recusas aos imóveis fechados, a quantidade de casas não visitadas chega a 47%.

O administrador Luiz Henrique Miranda e família tomam cuidado dentro de casa, pois já tiveram dengue em anos anteriores. (Nando Chiappetta/DP/ D. A Press)
O administrador Luiz Henrique Miranda e família tomam cuidado dentro de casa, pois já tiveram dengue em anos anteriores.
O administrador Luiz Henrique Miranda, 26 anos, já teve dengue e enche a boca para dizer que não deseja a doença para ninguém. No apartamento onde mora, ele e a família tomam cuidado para evitar acúmulo de água parada, mas não checam se o mesmo exemplo é seguido pelo condomínio. A falsa sensação de estar livre da doença é comum a moradores de edifícios.

“Não recebemos nenhum informativo educativo ou aviso de que a vigilância esteve aqui”, admite. Luiz Henrique mora nas Graças, onde os agentes ambientais não conseguiram entrar em cerca de quatro em cada dez casas de janeiro até o começo de março. “Muitos porteiros dizem que não têm autorização”, pontua a coordenadora do laboratório de Entomologia e Apoio Diagnóstico da Secretaria de Saúde do Recife, Vania Nunes.

O risco de fechar a porta para os agentes ambientais vai além de favorecer o surgimento de focos do mosquito. “Ficamos sem dados precisos para medir o índice de infestação do mosquito na região, então fica difícil saber se os casos estão aumentando”, alerta Vania Nunes.

Atualmente, mil agentes estão trabalhando, inclusive nos fins de semana para cobrir os imóveis fechados durante a semana. Para eles, é possível recorrer até juridicamente, em último caso, para entrar. No caso de recusa, não há amparo legal. “O que a gente faz é enviar a equipe novamente, ir com supervisor, tentar conversar e convencer”,  explicou Vania Nunes. A cada dois meses, os agentes retornam aos pontos de visitação.

Saiba mais

Bairros com maior incidência de recursas de visitação dos agentes ambientais (4 de janeiro a 7 de março)

Casa Amarela - 160
Boa Viagem - 158
Jordão - 90
Graças - 83
Ipsep - 73

Bairros com maior percentual de pendência (Recusas + imóveis fechados)
Hipódromo 47%
Graças 38%
Boa Viagem 36%
San Martin 35%
Alto José do Pinho 35%

Pernambuco

Em 2015

12.023 casos notificados
1.778 confirmados
151 municípios

No mesmo período de 2014

2.602 casos notificados
847 confirmados

Aumento de 362,07% em relação ao mesmo período de 2014

Óbitos

2015
9 casos suspeitos em investigação

2014

18 óbitos suspeitos
15 confirmados

No Recife

4.063 casos notificados
863 estão confirmados = 21% do total

Aumento em relação ao mesmo período de 2014
729,2% em relação aos casos suspeitos
449,7% quando comparados os comprovados

Fonte: Secretarias de Saúde do Estado e do Recife



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