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Primeiro teste na Assembleia expõe força relativa de Doria e racha no PSL

Por: FolhaPress

Publicado em: 16/05/2019 21:39

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Ao aprovar nesta quarta (15) o enxugamento de estatais, o governador João Doria (PSDB) passou pelo seu primeiro grande teste na renovada e fragmentada Assembleia Legislativa de São Paulo, mas não obteve adesão completa da maior bancada - a do PSL, que se dividiu.

Foram 57 votos a favor e 26 contrários à extinção da Codasp (Companhia de Desenvolvimento Agrícola), da CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços) e da Emplasa (Empresa Paulista de Planeja­mento Metropolitano), além da fusão entre a Imesp (Imprensa Oficial do Estado) e a Prodesp (Companhia de Processamento de Dados).

A Assembleia não costumava ser empecilho para as gestões tucanas no estado, mas mudou de cara nesta nova legislatura. Para conseguir maioria, o governo teve que reelaborar o projeto original e abrir mão de extinguir a Dersa (responsável por obras como a do Rodoanel e alvo de investigação) num primeiro momento.

Mesmo após ter cedido, Doria não alcançou apoio irrestrito dos 15 deputados do PSL eleitos na onda Jair Bolsonaro - somente oito votaram pelo enxugamento, sendo que a legenda defende a redução do Estado. Parte da bancada se opôs em protesto por considerar que Doria negligencia demandas dos servidores da segurança pública, que engrossam o eleitorado do PSL.

"Votei favoravelmente porque são empresas que dão prejuízo e defendo a desestatização", diz Frederico D'Avila (PSL). Segundo o deputado, "o governo terá apoio do PSL em todas as boas pautas".

Maior expoente do partido, Janaina Paschoal foi a favor. Ela chegou a criticar o texto como genérico, mas aderiu à nova versão mais detalhada.

Embora digam que são favoráveis à desestatização, seis membros do PSL votaram contra o projeto para mandar ao governador o recado de que não abrirão mão das reivindicações. Eles querem dar ao Palácio dos Bandeirantes uma demonstração de força. Um sétimo deputado do PSL votou pela obstrução da pauta, sem contabilizar como contra ou a favor.

Major Mecca (PSL) foi contra o projeto. Ele diz que, além de marcar posição quanto à pauta da segurança, considerou insuficientes os planos do governo para os funcionários das empresas afetadas.

"Acho que o governo precisa respeitar as pessoas. Muitas dependem desses empregos e precisam ser ouvidas. Assim como nós, deputados, precisamos também", afirma.

O líder do grupo, deputado Gil Diniz, diz que os deputados podem votar de acordo com suas convicções e que ele é avesso a imposições. Gil, que tem policiais em sua base de apoiadores, votou contra.

Para o líder de governo, Carlão Pignatari (PSDB), a votação é um sinal de que a base de Doria na Casa está se consolidando. No entanto outros deputados dizem que o número de votos desta quarta não significa necessariamente que essa será a base do governo. A análise, de acordo com eles, será feita projeto a projeto.

"Dificilmente essa base vai se manter", afirma Campos Machado (PTB), que se opôs à proposta de desestatização.

"Foi algo pontual. Havia apoio à pauta", diz Caio França (PSB), que votou pela obstrução à pauta, por discordar do formato da proposta. A maior parte do PSB foi favorável.

O deputado Carlos Giannazi (PSOL), ao contrário, avalia que a base de Doria veio para ficar e que o PSDB continua com a mesma força na Assembleia, apelidada de "puxadinho do Bandeirantes".

Giannazi, que faz oposição a Doria, diz que a maior parte dos projetos do governo é "pró-mercado e de ataque aos servidores", o que geralmente têm apoio além da base.

"Como só se vota esse tipo de projeto, vai ter um apoio não muito diferente do que houve no passado", afirma.

Líder do PSDB, Carla Morando também diz acreditar que "as coisas vão acabar funcionando da mesma forma tranquila como antes".

A deputada diz que o projeto teve que passar por ajustes, pois há deputados que não concordam integralmente, mas apoiam a desestatização.

A extinção da Dersa ficou para um próximo projeto que o governo quer enviar o quanto antes. De acordo com Morando, a estatal será votada em separado por ter mais ativos e passivos que as demais.

A Dersa, cujo ex-diretor Paulo Preto está preso e é suspeito de ser operador do PSDB, é objeto de um pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que o PSDB inviabilizou na Assembleia.

Para Giannazi, o governo retirou a estatal porque haveria constrangimento dos deputados em aprovar sua extinção - pareceria uma tentativa de dar fim às investigações.

Entre os deputados novatos na Casa, a bancada do Novo, com quatro deputados, e o Arthur Mamãe Falei (DEM) também encamparam a desestatização, ampliando a base tradicional tucana, composta por PSDB, DEM, PR, PRB e PP. Partidos de esquerda, como PT e PSOL, votaram contra. 

Também novata, Marina Helou (Rede) foi contra o projeto por não concordar com sua tramitação. "Sugeri que a gente votasse contra e obrigasse o governo a enviar um projeto melhor. Foi uma tramitação que não respeitou a importância do Legislativo."
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