Polêmica

Ambientalistas e europeus questionam escolha do novo chanceler

Diplomata é crítico da teoria que associa a emissão de gases de efeito estufa ao aquecimento do planeta

Publicado em: 17/11/2018 16:35 | Atualizado em: 17/11/2018 16:42

Para Araújo, o que ele chama de "climatismo" tem o objetivo, entre outros, de favorecer o crescimento da China. Foto: Sergio Lima/AFP (foto: Sergio Lima/AFP)
Para Araújo, o que ele chama de "climatismo" tem o objetivo, entre outros, de favorecer o crescimento da China. Foto: Sergio Lima/AFP (foto: Sergio Lima/AFP)
Ambientalistas e cientistas do clima reprovam o anúncio de Ernesto Araújo como futuro ministro das Relações Exteriores. 
 
O anúncio de que Ernesto Araújo ocupará o Itamaraty no governo de Jair Bolsonaro desagradou ambientalistas e cientistas climáticos. O diplomata é um conhecido crítico da teoria que associa a emissão de gases de efeito estufa ao aquecimento do planeta. No blog mantido por ele, o Metapolítica 17, sustenta que essa relação, demonstrada por estudos científicos, não passa de retórica de partidos da esquerda.

Num post de 12 de outubro, o futuro chanceler chama de “climatismo” o que seria uma “ideologia climática”, e discorre: “O climatismo juntou alguns dados que sugeriam uma correlação do aumento de temperaturas com o aumento da concentração de CO2 na atmosfera, ignorou dados que sugeriam o contrário e criou um dogma científico que ninguém mais pode contestar, sob pena de ser excomungado da boa sociedade — exatamente o contrário do espírito científico”.

A relação entre elevação de gases de efeito estufa e aquecimento já foi demonstrada em centenas de estudos teóricos e práticos. No ano passado, o Nobel de Economia premiou os norte-americanos William Nordhaus e Paul Romer, que criticam o desenvolvimento insustentável e alertam sobre os riscos das mudanças climáticas antropogênicas.

Araújo, porém, oferece uma explicação alternativa a dos cientistas do clima. “Esse dogma (o 'climatismo') vem servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados sobre a economia e o poder das instituições internacionais sobre os Estados nacionais e suas populações, bem como para sufocar o crescimento econômico nos países capitalistas democráticos e favorecer o crescimento da China.”

A preocupação dos ambientalistas justifica-se pelo protagonismo do Itamaraty nas negociações climáticas, especialmente nas conferências do clima, as COPS, da Convenção Quadro sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas. Em nota, o Observatório do Clima, que reúne instituições atuantes no tema, classificou de “estarrecedora” a escolha de Ernesto Araújo. “Sua nomeação contraria uma longa tradição da política externa brasileira e traz o risco de tornar o Brasil um anão diplomático e um pária global. O radicalismo ideológico manifesto nos escritos do futuro ministro cria, ainda, uma ameaça para o planeta, ao negar a mudança do clima e, presumivelmente, os esforços internacionais para combatê-la.”

O Observatório lembra que o Brasil esteve à frente de negociações, como a Conferência de Estocolmo, em 1972; sediou a Agenda 21 da ONU, em 1992; liderou a defesa dos países em desenvolvimento no Protocolo de Kyoto, em 1997; foi um dos idealizadores dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, em 2012; e um dos principais negociadores do Acordo de Paris em 2015. O país está cotado para sediar a COP de 2019.

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