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No Recife, João Amoêdo defende privatizações e liberação de armas

O candidato ao Planalto João Amoêdo confronta Bolsonaro e dá ênfase ao discurso para conquistar liberais. Veja os principais trechos da entrevista

Publicado em: 31/08/2018 07:00

Indagado sobre qual reforma da Previdência defende, ele disse apoiar uma mudança semelhante a que já vem sendo discutida Foto: Tiago Calazans/divulgação

 

O candidato à Presidência da República pelo Novo, João Amoedo, fez a primeira visita ao estado ontem, durante a campanha eleitoral, mas chegou ao Recife sem um discurso direcionado ao Nordeste, região do país onde a pobreza e a violência mais cresceram, segundo últimos dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (Pnad) e do Atlas da Violência. Sem as propostas regionalizadas, ele defendeu a reforma da Previdência nos moldes em que está sendo discutida, posicionou-se em defesa das privatizações, inclusive da Petrobras e Chesf, e da liberação do porte de armas. Também disse que não moraria no Palácio da Alvorada, onde somente os cuidados com o jardim custariam R$ 4 milhões ao ano.
Amoedo tenta conquistar um eleitorado que se identifica com o liberalismo, mas também flerta com os simpatizantes de Jair Bolsonaro (PSL), que está em segundo lugar nas pesquisas. Segundo Amoedo, o que falta no Brasil também se adapta ao Nordeste como liberdade para as pessoas empreenderem, melhorias na infraestrura – especialmente no Turismo – e capacitação básica para as pessoas. “O Nordeste tem muitas coisas boas e parte acaba se adaptando muito ao resto do Brasil. O que falta no Brasil? Primeiro, falta liberdade para as pessoas empreenderem; segundo, melhorar a infraestrutura, o turismo que é uma área essencial para o Nordeste, e a segurança. Terceiro, queremos melhorar a capacitação básica das pessoas, tanto na educação fundamental como na técnica”, declarou, em entrevista coletiva concedida no comitê eleitoral do Recife, no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife.

Indagado sobre qual reforma da Previdência defende, ele disse apoiar uma mudança semelhante a que já vem sendo discutida. Defendeu o aumento da idade mínima de aposentadoria para 65 anos, a desvinculação do reajuste da aposentaria com o salário-mínimo, o tempo mínimo de contribuição e um teto de aposentadoria de R$ 5,6 mil para os servidores, como o da iniciativa privada.

“O último ponto também é se valeria ter uma contribuição para os aposentados da área rural. Só para lembrar, a aposentadoria rural hoje deixa um buraco muito grande na Previdência e apenas 2% dos que recebem a aposentadoria rural são os 20% mais pobres da população”, disse o candidato.

Ele frisou apoiar a liberação de armas, mas ressaltou ter diferenças entre ele e Bolsonaro. “O Bolsonaro tem um discurso liberal, nós temos a prática. A gente não usa dinheiro público, não usa dinheiro do fundo partidário, corta assessores, corta verba de gabinete. O Partido Novo elegeu quatro vereadores em 2016, os quatro cortaram 39 assessores, vão economizar R$ 16 milhões. Enquanto isso, tem gente que contrata funcionário e coloca para trabalhar em Angra. O que o eleitor tem que fazer para não ser enganado mais uma vez? Ir atrás das práticas e não do discurso”, declarou.

Presidenciável frisou apoiar a liberação de armas, mas ressaltou ter diferenças entre ele e Bolsonaro. Foto: Tiago Calazans/divulgação
Veja, abaixo, principais trechos da entrevista que João Amoêdo concedeu à imprensa de Pernambuco

Sobre as privatizações, Eletrobras e Chesf
Eu não tenho dúvida que o nosso processo de privatização não é só a privatização. O que a gente quer é aumentar a concorrência, acabar com o monopólio da Petrobras e, com várias empresas ofertando o combustível você, através da guerra de preço e da competição, os preços serão melhores, haverá produtos de mais qualidade. O fato de você ter um único só fornecedor acaba com que o preço fique (alto), quem paga a conta é o consumidor brasileiro.

Eu sou favorável da privatização da Eletrobras exatamente no modelo que foi colocado ai. A gente não vai privatizar o rio, a privatização da Eletrobras vai ser fundamental para a gente conseguir investir, as subsidiárias da Eletrobras estão com problemas, e o processo de privatização que foi desenhado é muito interessante. Primeiro, (pelo que foi proposto) ele faz com que o sócio maior tenha no máximo 10% do controle da Eletrobras. Segunda coisa da forma como está prevista, o governo vai indicar o presidente do Conselho de Administração e vai ter uma ação de destaque onde ele pode vedar algumas coisas de interesse nacional. O governo continua tendo um certo poder. Quarto ponto, tem uma quantidade de recursos que vai ser destinada a atender as comunidades ribeirinhas, são cerca R$ 600 milhões nos primeiros anos, depois são R$ 300 milhões por ano para ser colocado para as comunidades ribeirinhas, a gente trará investimento, será bom para os consumidores e bom para o estado brasileiro também.

Reajuste do Judiciário
Achei lastimável o presidente Temer não ter vetado esse aumento do Judiciário, acaba trazendo um aumento em cascata para vários funcionários. Ele está lá para defender não uma minoria, mas os interesses da população brasileira. A primeira coisa que a gente tem que fazer é equilibrar as contas públicas. O que a gente tem que fazer é cortar verba de gabinete, cortar quantidade de assessores, não quero morar em Palácio do Planalto, não vou usar avião da Fab (para viagens pessoais). A gente tem que resolver as contas da Previdência, então a gente tem uma grande diferença nas aposentadorias pagas no setor privado e no setor público.

Reforma da Previdência que defende
A Previdência se transformou num grande problema de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos. nós pretendemos reduzir a quantidade de secretarias, montar 12 ministérios, não como a gente tem hoje. Acho que, de fato, esse é mais uma vez aquele tema que os candidatos procuram não falar sobre ele, os candidatos têm medo de perder voto. A única forma é durante a campanha dizer a verdade, especificamente com relação a Previdência. Nós queremos colocar o que já vem sendo discutido até para ter um processo de aprovação mais rápido. O que a gente quer fazer? Aumentar a idade mínima para 65 anos, o tempo mínimo de contribuição para terem 100% da aposentadoria e ter uma regra também para que seja sustentável, na medida que aumente a perspectiva de vida, a gente possa aumentar a idade da aposentadoria, desvincular o reajuste da aposentadoria que hoje é feito em cima do salário-mínimo. Queremos dar um tratamento mais igualitário às pessoas, hoje é uma grande distorção.

A gente vai colocar uma regra que a aposentadoria da área pública será a mesma da aposentadoria privada, com um teto de R$ 5,6 reais acabar com aposentadorias de mais de R$ 30 mil. O último ponto também é se valeria ter uma contribuição também para os aposentados da área rural. Só para lembrar, a aposentadoria rural hoje deixa um buraco muito grande na Previdência e apenas 2% dos que recebem a aposentadoria rural são os 20% mais pobres da população. São vários problemas que existem e quem está pagando a conta são os realmente os mais pobres.

Comparação com Bolsonaro
A gente está muito otimista que a gente vai estar no segundo turno, a gente tem muito pé no chão, mas não tem como não ser otimista, o partido existe há menos de três anos e começa a aparecer nas pesquisas, na medida que a gente crescer, abre outros horizontes. Eu, de fato, tenho várias dúvidas se ele (Bolsonaro), na prática, defende uma filosofia liberal, nunca foi isso que ele mostrou nos quase 30 anos de deputado federal. Acho que isso é um discurso que a gente vê na prática o que vai acontecer. Qualquer que alinhamento que gente vier a fazer tem que ser em cima das ideias. Como eleitor eu aprendi uma coisa: eu não julgo nenhum político pelo que ele fala, julgo pelo que ele fez o que ele faz. Normalmente, quando a gente ouve o que as pessoas falam depois, na prática, é muito diferente.

O Bolsonaro tem um discurso liberal, nós temos a prática, o que significa a prática? A prática é exatamente isso, a gente não usa dinheiro público, não usa dinheiro do fundo partidário, corta assessores, corta verba de gabinete... O Partido Novo elegeu quatro vereadores em 2016, os quatro cortaram 39 assessores, vão economizar R$ 16 milhões. Enquanto isso, tem gente que contrata funcionário e coloca para trabalhar em Angra. O que o eleitor tem que fazer, para não ser enganado mais uma vez, é ir atrás das práticas e não do discurso.

Propostas para o Nordeste
O Nordeste tem muitas coisas que boas e parte acaba se adaptando muito ao resto do Brasil. O que falta no Brasil? Primeiro, falta liberdade para as pessoas empreenderem. O Brasil tem muito pouca liberdade econômica. A gente tem uma série de empreendedores, a gente tem um Polo Digital (aqui,por exemplo), tem muita gente querendo empreender. Primeiro, precisamos melhorar o empreendedorismo, segundo, melhorar a infraestrutura, o turismo que é uma área essencial para o Nordeste e (precisamos melhorar) a falta segurança. Terceiro é capacitação básica das pessoas, tanto na educação fundamental como na técnica e melhorar a qualificação vai fazer com que o país volte a crescer. Temos que acabar as obras inacabadas, como a transposição do São Francisco, mas tem que botar isso para funcionar, esse é o melhor caminho hoje

Aviões da Fab e jardins da Alvorada
O jato pretendo usar para viagens oficiais, mas o presidente da República hoje tem direito a usar a Fab para viagens pessoais, acho isso um absurdo. A questão do Palácio da Alvorada é o seguinte. Você tem que dar o exemplo, ser um funcionário comum, eu vou morar num apartamento ou numa casa. O Alvorada seria mais um lugar de turismo para incentivar as pessoas que vão em Brasília e isso acaba com a ideia de alguém que mora num palácio. Isso é muito importante. Essa coisa de vossa excelência, (parar) de colocar as pessoas que deveriam estar trabalhando para o público como de fato alguém quase como um monarca. Só para dar um número, a Presidência da República custa R$ 560 milhões por ano, 60% a mais do que custa a monarquia inglesa, não faz o menor sentido para o país com tantas necessidades e tantas carências gastar isso.

Liberação das Armas
A questão das armas é um legítimo direito do cidadão. O cidadão que fizer mau uso tem que ser criminalizado, é um dos princípios do Novo, a liberdade com responsabilidade. Se ele brigou no trânsito, sacou uma arma e atirou em alguém ele tem que ser preso e encarcerado por muito tempo. Agora, a gestão não pode tirar a liberdade dele por isso (por ter uma arma). O que acontece no Brasil é que os criminosos estão armados e os cidadãos de bem desarmados. Eu não pretendo usar arma, não é meu perfil, mas o estado tem que ter a responsabilidade, inclusive a responsabilidade número 1 é preservar nossa segurança, nossa vida, mas nós temos que dar as pessoas liberdade para ter o uso de arma.

Contra a liberação das drogas
A guerra contra as drogas não tem funcionado, mas, nesse primeiro momento, temos uma inúmera quantidade de problemas para resolver no Brasil, precisamos melhorar o emprego, a educação, a saúde, não queremos trazer uma nova variável que é descriminalizar as drogas. A gente preferia atacar os problemas existentes, aguardar um pouco a experiência que está sendo feita em outros países, no Uruguai, que fez a descriminalização (da maconha), a violência aumentou, a gente gostaria de aguardar um pouco a maturidade dessas experiências

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