STF

Denúncia contra Aécio desgasta PSDB e abre portas para novos partidos

Enquanto Alckmin defende que Áecio não seja candidato, especialistas avaliam o impacto da abertura de ação penal contra o senador

Publicado em: 19/04/2018 11:42 | Atualizado em: 19/04/2018 11:44

Alckmin sobre Áecio: "Vamos aguardar ele tomar a iniciativa, como tomou ao deixar a presidência do partido".Foto: Antonio Cunha/CB/D.A Press

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de aceitar as denúncias de corrupção e obstrução de Justiça contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e torná-lo réu desgasta a legenda, ameaça todos os políticos citados nas delações do empresário Joesley Batista e abre caminho para novos nomes e partidos na corrida eleitoral. De acordo com especialistas, a “pecha da corrupção” fará com que PT e PSDB percam o protagonismo de décadas na disputa pela Presidência da República, o que deve beneficiar candidatos “limpos”.

Para o presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e virtual candidato ao Palácio do Planalto, “o ideal” é que Aécio não seja candidato. “Vamos aguardar ele tomar a iniciativa, como tomou ao deixar a presidência do partido. Mas ele conhece a minha opinião”, disse ontem. O ex-governador paulista e ex-vice-presidente nacional do PSDB Alberto Goldman disse que uma candidatura majoritária de Aécio “não parece conveniente”. O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Nilson Leitão (MT), minimizou o episódio: “Não há impacto para o partido. A eleição dele é regional”, afirmou.

Na opinião do analista político da Arco Advice, Cristiano Noronha, o desgaste de Aécio prejudica o PSDB, especialmente Alckmin, porque deve gerar dificuldades de negociar apoio de outros partidos. “É mais um ex-presidente de partido com problemas na Justiça. Porém, isso ocorre a seis meses das eleições e a lei eleitoral jogou mais para a frente, até 5 de agosto, o prazo para coligações”, destacou.

Noronha ressaltou que, a curto prazo, os candidatos que aparecem como alternativas são beneficiados, como Joaquim Barbosa, que ensaia concorrer pelo PSB. “Marina (Silva, da Rede), que ficou de fora na última eleição porque foi esmagada por duas candidaturas muito competitivas, pode aproveitar que PT e PSDB estão debilitados”, analisou. O especialista também alertou que, ao considerar provas da delação válidas, o Supremo deixou inquietos muitos políticos. “Centenas foram citados”, lembrou.

“Faltam nomes”

O especialista em direito constitucional, cientista político e advogado Marcus Vinícius Macedo Pessanha, do escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, ressaltou que a situação do PSDB se complicou. “Se a candidatura de Aécio para o Senado já era difícil, acho que nem para deputado federal ele consegue respaldo. A legenda está desgastada e segue o caminho do PT, saindo do protagonismo”, sentenciou.

Com isso, destacou o especialista, legendas que sempre foram coadjuvantes buscam lançar candidatos próprios, como o PCdoB, antigo parceiro do PT, do qual quer se desvincular com a candidatura de Manoela D’Ávila (RS). “São políticos que estão brigando pelo espólio da esquerda e do centro-direita. O PSDB sempre aglutinou os nomes do centro”, avaliou. Para Pessanha, a decisão do STF traz grande insegurança, porque mais candidaturas podem ser “alvejadas no início do voo”, o que colocaria em jogo o destino da legenda. “É um momento delicado. No Brasil, sempre houve protagonismo maior das pessoas do que dos partidos. Agora faltam nomes com capacidade de mobilizar a vontade popular”, disse.

Para Ricardo Caldas, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), além do prejuízo para imagem do PSDB com Aécio, Alckmin também foi citado. “Embora tenha conseguido empurrar o processo para a Justiça Eleitoral, não tem como dissociá-lo. O processo está rolando e ele está sem foro privilegiado. O partido perdeu a oportunidade de lançar um nome novo”, avaliou. Segundo ele, Aécio pode tentar se candidatar por Minas Gerais para recuperar fôlego e foro. “Já Alckmin está no jogo do tudo ou nada”, disse.
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