Eleições

Lula diz que PT do estado precisa decidir se vai ficar brigando com o PSB

Ex-presidente disse, em entrevista, que é preciso maturidade para tomar as decisões para a próxima eleição estadual. Bruno Araújo afirma que PT estadual pretende manter candidatura própria

Publicado em: 07/02/2018 06:00 | Atualizado em: 06/02/2018 21:32

Peu Ricardo/DP

 

aline.moura1@diariodepernambuco.com.br

 

Se depender da vontade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT em Pernambuco refaz a aliança com o PSB. Mas ele deixou claro, ontem, que a decisão será tomada de acordo com o cenário político do estado e as avaliações internas da legenda. “Está chegando a eleição e os partidos precisam pensar no que é melhor para o povo brasileiro e o povo de Pernambuco. Se é (melhor) a gente continuar brigando com um possível aliado, capaz de construir um programa para o estado, ou se a gente vai simplesmente fazer sozinha a eleição. Temos que discutir com muita maturidade”, afirmou, ao ser indagado se o PSB merecia “confiança” nessa disputa eleitoral de 2018.

Lula falou sobre as eleições estaduais e nacionais no programa de Geraldo Freire. Ele   lembrou que, no passado, foi muito próximo do então governador Eduardo Campos e que ambos se admiravam. O ex-presidente mencionou, ainda, a necessidade de alianças com o MDB de alguns estados para se governar, porque, para ele, nem todos os diretórios do MDB rezam na cartilha do presidente Michel Temer.  

O petista destacou, como exemplo de aliança, a reaproximação entre Jarbas Vasconcelos (MDB) e Eduardo Campos, em 2012. Eduardo e Jarbas foram adversários históricos. “Vamos começar a falar disso a partir de abril. O PT pode voltar a conversar com o PSB, com Armando Monteiro Neto, pode ter candidatura própria. Temos o nome de Marília (Arraes), Odacy Amorim e José Antônio”, destacou.

Indagado se conseguiria unir o país, tão dividido, caso conseguisse disputar a eleição e vencer pela terceira vez, Lula respondeu que sim. Ressaltou ter enfrentando muita intolerância, no passado, e resistido. O ex-presidente falou sobre as ações que fez pelo Nordeste, três dias depois de o presidente Michel Temer vir a Pernambuco. “Eu agora estou muito tranquilo, tenho confiança que posso ajudar o povo brasileiro, consertar esse país para que ele possa voltar a crescer, gerar emprego, renda e não jogar a culpa da desgraça do Brasil em cima da legislação trabalhista e dos aposentados. Se fosse assim, no tempo da escravidão, o Brasil era maravilhoso e não era. Temos que parar com essa cretinice de determinado tipo de gente que acha que o povo tem que trabalhar quase como escravo, de ter escala intermitente, não ter férias... Não é possível que a tente tenha gente pensando assim no Brasil”.

O ex-presidente também provocou o juiz Sérgio Moro, que justificou falta de aumento salarial para solicitar o auxílio-moradia do Poder Judiciário. “Agora eu aprendi uma nova. O povo brasileiro que não tem aumento de salário faça como o juiz Moro, ou faça como os procuradores... Como pode uma pessoa receber R$ 30 mil e pedir auxílio-moradia, enquanto as pessoas que ganham um salário-mínimo estão sendo despejadas...”

Ligação antes e depois para Bruno Ribeiro

O presidente estadual do PT, Bruno Ribeiro, conversou duas vezes com Lula, ontem, quando ele deu sua primeira entrevista após ser condenado pelo TRF4. Segundo Bruno, o ex-presidente está atualizado de todo o cenário político de Pernambuco, de modo que vai apoiar a decisão do partido, que pretende manter candidatura própria, mas ainda não escolheu o nome. “Tudo vai ser combinado com ele e com a direção nacional. Ele sabe de nossas três candidaturas, sabe da unidade que temos por uma candidatura própria. Ainda temos tempo para ver se vai combinar a realidade local com a nacional”.

Para Bruno, embora o PSB tenha se colocado como oposição ao governo Temer, o PT estadual faz parte da base de oposição ao governo de Paulo Câmara e não foi sequer procurado ainda para conversar.

“Uma coisa é o diálogo com o PSB nacional para evitar o agravamento das medidas do governo Temer, também temos conversado com outros partidos de esquerda. Outra coisa é a realidade daqui. Lula não falou na entrevista, mas também não há nenhum sinal do PSB nacional de que vai apoiar a candidatura de Lula. No campo local, somos oposição e não temos conversado”.  

Segundo Bruno, é muito injusto que falar que o ex-prefeito João Paulo e o senador Eduardo Campos defendem uma reaproximação com o PSB, diferentemente do sentimento da base. “Humberto e João Paulo estão sintonizados com essas duas realidades: o PT de Pernambuco, o projeto nacional e Lula. Eles tão atentos aos dois fatos”, destacou.

Indagado sobre como analisava as declarações do grupo de oposição comandado pelo senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), que tem comemorado o fato de Marília Arraes ter se fortalecido politicamente, ele reagiu, frisando que o PT não tem nada em comum com esse bloco. “Entendemos que há uma falsa polarização em Pernambuco. Fernando Bezerra, Bruno Araújo, Mendonça Filho se elegeram juntos (com Paulo Câmara) em 2014, votaram juntos em Aécio Neves (PSDB), votaram juntos a favor do impeachment, iniciaram juntos o governo de Michel Temer (MDB). Eles precisam justificar ao povo porque estão arengando. Eles são responsáveis por tudo de difícil que o Brasil e Pernambuco está vivendo. O PT não tem qualquer interação possível com o grupo de FBC, Mendonça e Bruno Araújo. Vamos continuar propondo um caminho diferente em Pernambuco”.

Bruno Ribeiro voltou a explicar sobre as diferenças com o PSB local. “Temos discordâncias profundas em relação à gestão em várias frentes. Não há essa dicotomia entre a direção do PT e a base. Não há esse aquário, essa parede vidro entre base e direção”.

A vereadora Marília Arraes (PT), que foi lançada em Serra Talhada como uma das pré-candidatas do PT, acredita que Lula manteve as portas abertas para o PSB, como é de seu perfil, mas conhece a realidade de Pernambuco. “Lula faz política abrindo portas, agregando, principalmente na construção de um projeto político nosso que está sendo posto em xeque. Sou totalmente a favor que a gente busque alianças com outros partidos, que a gente faça a defesa de Lula de verdade, não de faz de conta ou apenas se abstenha. No estado, o povo não aceita uma aliança por algum cálculo eleitoral”, afirmou, fazendo alusões indiretas a Paulo Câmara. O governador não se posicionou sobre a condenação de Lula pelo TRF4 no dia do julgamento e cumpriu uma extensa agenda administrativa.

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