Diario Editorial: O exemplo que vem do Alabama

Publicado em: 14/12/2017 07:16 Atualizado em: 14/12/2017 07:20

Cada lugar tem suas especificidades, mas há comportamentos gerais que vez por outra se espalham pelo mundo.. Daí valer a pena, nem que seja por mera informação, tomar conhecimento sobre o que acaba de acontecer no Alabama, simpático estado do Sul dos EUA. Trata-se de um “bastião conservador” daquele país, conforme definição da alemã Deustche Welle, ou “um dos rincões mais conservadores dos EUA”, na expressão do espanhol El País.

Pois bem, e o que houve neste “bastião”? Houve uma eleição para o Senado, e a votação ocorreu anteontem. Não foi uma eleição qualquer, porque chamou a atenção do país inteiro.

O favorito era o juiz Roy Moore, candidato do Partido Republicano, o mesmo do presidente Donald Trump. Há 25 anos que os Republicanos elegem o senador no estado. Na eleição presidencial de 2016, Trump venceu lá por folgada margem, com 28 pontos percentuais de vantagem.

O juiz Roy Moore parece um personagem de seriado: um “fanático religioso”, segundo reportagem do El País.  Para ele, os atentados de 11 de setembro deveram-se ao afastamento dos americanos de Deus. Considera que o momento em que os EUA foram de fato “grande” aconteceu quando havia escravidão no país, porque “as famílias estavam unidas”. E a homossexualidade, que ele compara com o “bestialismo”, deveria em sua opinião ser proibida. Moore presidiu a Suprema Corte do seu estado por duas vezes. Na primeira, mandou construir um monumento em homenagem aos Dez Mandamentos e o instalou no saguão do prédio. A Justiça determinou a retirada da obra, e ele preferiu renunciar a fazer isso.

O candidato adversário, Doug Jones, do Partido Democrata, representava o seu oposto: advogado de direitos civis, ganhou notoriedade ao processar dois integrantes da seita racista Ku Klux Klan, acusados de participação num atentado de 1963, que matou quatro jovens negras. Nunca havia disputado um cargo político. Jones tentava o impossível: ser o primeiro Democrata a vencer uma eleição para o Senado no Alabama, em 25 anos.

Mas eis que no meio do caminho do candidato conservador surgiu uma pedra: durante a campanha ele foi acusado por oito mulheres de abuso sexual. Ele negou, porém  a denúncia permeou toda a campanha. E, no final, aquilo que antes parecia improvável se tornou realidade: o resultado oficial, ontem, mostrou que Doug Jones, o advogado dos direitos civis, derrotou o juiz conservador, Roy Moore, numa disputa apertada: 49,9% dos votos, contra 48,4%. A vitória terá rebatimento no Senado, estreitando ainda mais a já estreita maioria do governo Trump na Casa. Antes, o presidente americano tinha o apoio de 52 senadores entre 100. Agora será 51.

É possível fazer muitas ilações dessa disputa entre um advogado de direitos civis e um juiz conservador considerado fanático religioso, no Alabama. Uma delas é que mesmo ondas que parecem fortes às vezes podem ser contidas por uma simples pedra no caminho.


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