Opinião Nagib Jorge Neto: A velhice do espectro Nagib Jorge Neto é jornalista

Publicado em: 18/11/2017 08:21 Atualizado em: 18/11/2017 08:33

Antes da Abolição da Escravatura, da Proclamação da República, as forças no poder temiam as greves, rebeliões, conflitos, que ocorriam na Europa e ameaçavam as instituições no país. Era reflexo do espectro do Manifesto Comunista de Karl Marx e Engeks, de 1848, das lutas de operários e camponeses, lideradas por anarquistas, socialistas e comunistas. É nesse cenário que Ariel Tavares Pereira – autor do livro Um espectro ronda a ilha – faz a abordagem crítica da crise política e econômica em fins do século 19 em São Luis, no Maranhão e no país, obra densa em forma e conteúdo.
Na análise do advento da República, Ariel retrata a crise, a visão dos donos do poder, que ignoravam os efeitos do modelo liberal, de 1898. Então o governo aceitou hipotecar as rendas das alfândegas, valorizar o mil-réis, cortar gastos, demitir servidores, reduzir despesas com inativos, medidas que agravaram a crise em 1920/30 e ampliou a cruzada explorando o perigo vermelho, a criminalização da política, que voltou agora a ser a tônica do discurso das reformas contra a maioria do nosso povo.

Naquela fase, no Maranhão e no país - jornais e revistas, jornalistas (só Lima Barreto em 1918 defendeu o “maximalismo”) tornavam constantes as acusações e boatos, com destaque para organizações como A Ordem – de combate ao extremismo - do padre Astolfo Serra. Daí o religioso foi nomeado governador e terminou afastado porque os jornais acusaram o padre de atos de corrupção e ter um suposto filho a quem deu o nome de Lenine.

No conjunto da obra, com base em economistas, cientistas, sociólogos, - Foucault, Max Weber, Durkheim,  Bandeira Tribuzzi e outros - Ariel Tavares enriquece sua narrativa, com dados sobre o universo da época, centrado na Ilha, no estado e com espaço nas linhas, entrelinhas para a reflexão sobre a mídia nacional, suas distorções, que confirmam a crítica de Millor Fernandes “uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa”..
Algumas manchetes dos jornais da época, que seguem a linha dos jornais de outros estados, sobretudo do Centro Sul, constituem exemplos da tendência de criar no imaginário social a imagem do perigo comunista, esquerdista: “Perigoso Extremista; Soturna Perspectiva; A Foice, O Sigma, e A Cruz; A Quadrilha era Comunista; Furto de Gado – Ordem do Komintern; Repulsa ao Comunismo; Educação e Comunismo; A Mulher no Regime Proletário; Terror Vermelho na Espanha; Catolicismo e Comunismo; Gustavo Barroso e a Caravana Integralista; O Credo de Moscou; Pena de Morte. A pesquisa deixa claro, pois, a posição dos jornais O Combate, Pacotilha, O Imparcial, Tribuna, Diário do Norte, Notícias e A Lucta.

De resto, o livro de Ariel é abrangente, com opiniões sobre a economia do estado, do país, a crise social no período, as rebeliões, conflitos, e a persistência do imaginário contra o comunismo ou comunista, socialistas e movimentos sociais, neste século em que a mesma imprensa, os conservadores, argumentam que não há mais direita ou esquerda e ignoram o crescimento do fascismo e do ódio em nosso país.


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