Opinião José Paulo Cavalcanti Filho: A universidade das aflições José Paulo Cavalcanti Filho é Jurista e membro da Academia Pernambucana de Letras

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 03/11/2017 07:08 Atualizado em:

Olavo de Carvalho fez parte da Tariga, ordem mística mulçumana do Islã; mas, com o tempo, acabou católico convicto. Na Ditadura Militar, era membro do Partido Comunista Brasileiro (1966 a 1968); e, depois, foi ser ideólogo da Nova Direita. Mudou muito. Hoje, é professor de filosofia na universidade de Richmond (Virgínia, Estados Unidos). Não é pouca coisa. Seus pensamentos filosóficos, nos textos acadêmicos, seriam fundamentados na defesa dos princípios metafísicos das antigas civilizações e no combate à perda do sentido histórico do universo. Não gosto de suas ideias. O que não tem nenhuma importância. Posto que tem o direito de ser ouvido. No tanto em que principal liberdade, fundamento de todas as outras na democracia, é a da consciência. E uma consciência livre, para ser formada, requer ausência de qualquer censura.
 
O filósofo é odiado por parte de nossas esquerdas. Desde quando sugeriu andarem na busca da Vitória Perfeita. Para não entendidos, seria aquela obtida sem lutar, pela entrega do adversário – palavras de Lenin. Declarando mais que, para conseguir isso, adotaram a estratégia de Antonio Gramsci. Essa teoria do filósofo italiano é conhecida como a da Hegemonia Cultural. Que seria o exercício das funções de direção, intelectual e moral, para controle do poder político. Mais simplesmente, a estratégia consiste em controlar, primeiramente, o pensamento da mídia, dos sindicatos, da cultura, das universidades. E, só mais tarde, conquistar o poder. Fazer a revolução cultural, antes da revolução política.
 
Não há ninguém mais perseguido, hoje, por aqui. No CinePE deste ano, cineastas ditos democráticos assinaram Manifesto (15/5/2017) protestando contra a exibição de um filme sobre a vida de Olavo, O Jardim das Aflições. E retiraram seus filmes da competição, gritando Fora Temer. Na ditadura militar, caso fosse proibida a exibição de filme sobre um intelectual de esquerda, diriam todos que seria censura. Inclusive esses mesmos cineastas/revolucionários do festival, imagino. A contradição é gritante. Antes, era censura. Agora, só um gesto democrático. O festival, apesar de tudo, foi realizado em seguida. E acabaram, as Aflições de Olavo, recebendo prêmio de “Melhor Filme”. Uma ironia.
 
Na última sexta-feira, o vandalismo se transferiu para o auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco. Onde foi exibido esse filme sobre Olavo. Em 1969, impedido de estudar no Brasil pela Ditadura Militar, acabei ganhando bolsa para Harvard. Fui embora, claro. E lá, todos as noites, eram exibidos filmes censurados pela Motion Pictures. De cineastas marxistas, maoístas, do Viet-Nam, de todas as matrizes. Quem não gostava, não ia. Tudo bem democrático.
 
Para (Benjamin) Disraeli, Universidade é lugar de estudo, liberdade e luz. Deveria ser. Porque militantes do Partido da Causa Operária, e da União da Juventude Socialista, prepararam uma espécie de emboscada. No corredor por onde sairiam os espectadores do filme. E começaram as agressões. A palavra de ordem é que o filme não vai mais passar. Em lugar nenhum. No pasarán!, como às tropas franquistas dizia, na Guerra Civil Espanhola, Isidora Dolores Ibárruri Gómez – La Pasionaria.
 
A Universidade Federal se limitou a uma simples nota, no dia seguinte. Dizendo que a intolerância deve ser firmemente rechaçada. Sem abrir inquérito. Nem tendo interesse em identificar os agressores. O que seria fácil, a partir dos rostos que aparecerem nos vídeos. Sequer desejou saber se os agressores seriam alunos. Ou baderneiros profissionais, remunerados, infiltrados em seu campus a serviço de partidos políticos e movimentos sociais. No fundo, com essa omissão, incentivando que agressões assim voltem a acontecer. É pouco. Esperávamos bem mais da universidade. Mais democracia. Mais liberdade. Mais luz. 


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