Opinião Alexandre Rands Barros: Emprego no terceiro trimestre Alexandre Rands Barros é economista, PhD pela Universidade de Illinois, presidente da Datamétrica e do Diario de Pernambuco

Publicado em: 05/11/2017 07:05 Atualizado em: 06/11/2017 07:20

A curta semana contou com liberação pelo IBGE de dados da Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílios contínua para o Brasil como um todo no terceiro trimestre do ano (concluído em setembro). Infelizmente os dados para estados e regiões ainda não foram liberados. As principais conclusões dos dados apresentados talvez sejam que há queda da taxa de desemprego e crescimento da renda total do trabalho recebida pela população. A constatação ruim é que o crescimento do emprego veio principalmente dos trabalhadores sem carteira assinada e por conta própria, categorias que comumente estão relacionadas mais com o setor informal. Ou seja, a qualidade do emprego na retomada não tem sido boa. Apesar disso, a renda média real do trabalho aumentou.

Duas tendências recentes do emprego no Brasil têm surpreendido os economistas. A primeira é a própria reação positiva da ocupação ainda muito no início da retomada. Geralmente o emprego demora a se recuperar, pois os custos de demissão e admissão (qualificação) fazem com que as empresas prefiram inicialmente utilizar horas estendidas do que elevar o emprego quando precisam satisfazer aumentos da demanda. Somente após a estabilização desta última em patamares mais elevados elas aumentam as contratações. A relação entre rendimento habitualmente recebido e efetivamente recebido indica que essa já é uma tendência no nosso mercado de trabalho. No emprego informal os custos de admissão e demissão são menores e por isso a reação é mais rápida. Por isso, o tamanho do aumento desse é que tem surpreendido. Talvez a magnitude da crise e o nível elevado de endividamento das famílias tenham levado as pessoas a aceitarem piores condições de trabalho. Isso pode justificar a surpresa no crescimento da mão de obra informal.

Entretanto, tal justificativa aparentemente esbarra na segunda surpresa nas tendências recentes no mercado de trabalho brasileiro, que é o aumento persistente do rendimento real do trabalho, mesmo com taxas de desemprego elevadas. Contudo, quando partimos o rendimento real médio recebido por nível de instrução, percebe-se que há queda no rendimento de pessoas com menor nível de instrução, enquanto se elevou o rendimento de pessoas com nível superior incompleto e completo. Como a queda do emprego foi principalmente entre pessoas com menor nível de instrução, puxada pela construção civil, a média do rendimento subiu. O aumento de emprego entre pessoas com maior nível de instrução foi puxado pela necessidade das empresas de promoverem muitos ajustes e a consequente contratação de consultores e colaboradores momentâneos, e o crescimento do número de empregadores, que mostra uma tentativa da população de fugir do desemprego se tornando empresários. Ou seja, apesar de uma queda efetiva do rendimento para posições semelhantes no mercado de trabalho, a reestruturação ocorrida está elevando os rendimentos médios. Ou seja, os empregadores, contas próprias e trabalhadores informais mais qualificados têm aumentado a participação deles no total de pessoas empregadas e isso tem elevado o rendimento do trabalho. Por isso, a aparente contradição entre taxa de desemprego e elevação do rendimento médio do trabalho.

Em Pernambuco, as tendências são semelhantes às brasileiras. Apenas com um pouco mais de radicalização na perda de rendimento dos trabalhadores de menor nível de instrução e melhora do rendimento das pessoas com maior nível de instrução. As necessidades de ajustes por aqui têm sido maiores pelo impacto mais forte que a crise teve no estado. O recurso ao autoemprego também tem sido maior aqui por causa das maiores dificuldades do mercado de trabalho. Certamente as próximas estatísticas do IBGE já deverão mostrar um cenário mais fortemente em melhora em Pernambuco, principalmente puxado pela boa safra de cana de açúcar.


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