Diario Editorial: Não aos escravocratas

Publicado em: 04/10/2017 06:54 Atualizado em:

Foi uma condenação em consonância com o que a população espera e com aquilo que brasileiros negros e comunidades quilombolas merecem essa proferida pela juíza Frana Elizabeth Mendes contra o deputado federal Jair Bolsonaro. O dano moral coletivo, acusação da ação de autoria do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, não é reparado com o pagamento da indenização fixada em R$ 50 mil, mas o reconhecimento da postura do parlamentar como ato de infração cumpre função educativa.

Ainda que o valor de R$ 300 mil pedido pelos procuradores Ana Padilha e Renato Machado tenha encolhido e que Jair Bolsonaro tenha informado por meio de assessoria o desejo de recorrer da decisão judicial. Porque não se pode achar banal, ofender e depreciar indivíduos pela cor de pele ao dizer - como fez Bolsonaro - que quilombolas "não fazem nada (...) nem para procriador servem mais".

Mais: nem referir-se a eles como afrodescendentes usando o termo "arrobas" para fazer citações em 3 de abril, durante palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro. É inaceitável o estímulo à discriminação contra este povo e contra negros de uma forma mais ampla. Fechar os olhos ou relativizar comentários semelhantes ao do deputado é omitir-se diante de uma escravidão perpetuada por séculos. É como se não bastasse a falta de oportunidades secular.

A condenação do deputado Jair Bolsonaro no caso da ofensa aos quilombolas e negros, ele que deveria ser exemplo enquanto liderança política, torna mais oportuno se lembrar que, na escala de exclusão social do Brasil, os quilombolas se destacam em primeiro lugar. Mais de dois milhões de pessoas, em três mil comunidades, a maioria de mais de 50% dos remanescentes de escravos moradores do Nordeste, ainda se ressentem com uma abolição incompleta.

Sempre é hora de ressaltar que foi uma abolição formal, aquela assinada em 13 de maio de 1888 pela Princesa Isabel com a Lei Áurea. Porque, como disse o poeta, a abolição “veio sem asas e sem pão”. Ainda se sofre muito em terras quilombolas com a exclusão e a pobreza, resquícios claros do século 19. Assim, há muita luta diária a se vencer.
 


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