Opinião Luiz Ernesto Mellet: Um dia o Recife para Luiz Ernesto Mellet é gestor governamental da Secretaria de Planejamento de Pernambuco

Publicado em: 15/08/2017 07:18 Atualizado em:

A crise de mobilidade que paralisa as capitais brasileiras oportuniza refletir sobre o horário do expediente. Em geral, empresas públicas e privadas dividem em dois turnos: pela manhã e à tarde. Esse modelo, implantado nas fábricas durante a revolução industrial, padronizou a hora de comer dos operários. Estivessem eles com fome ou não. Assim, mantinha todos enfileirados na montagem das peças acelerando a esteira de produção.

  Pesquisas sobre o desempenho no trabalho atestam que a satisfação no serviço tem influência direta sobre a produção.  Isso quer dizer que trabalhador feliz produz mais. Os estudos apontam, também, que o rendimento após o almoço é inferior ao da manhã. E recomenda a pausa de ao menos 15 minutos a cada duas horas. De modo que soa insensato manter um esquema nos nossos dias estabelecido duzentos anos atrás, ainda mais quando a tecnologia tornou dispensável a presença física em muitas atividades.

Algumas empresas optaram por modelos alternativos na relação homem-trabalho, em que a sujeição ao tempo e a presença do empregado não prejudicam o desempenho funcional. Microsoft, Apple, Intel e a Toyota de Talichi Ohno – cujo sistema de produção, Jus-in time, eliminou desperdícios e revolucionou a gestão nos anos 70 – permitem determinados funcionários trabalhar em casa.

Toda manhã passageiros brigam para embarcar nas estações. É óbvio que após uma ou duas horas espremido em pé num ônibus, qualquer um chegue estressado ao serviço. Isso custa o mesmo para empregados e patrões porque reflete na economia. O Recife é a terceira cidade do país em que mais se demora nos congestionamentos. Um gasto inútil de tempo e energia. E de nada adianta dirigir uma potente picape rodando na velocidade de uma carroça. O trânsito inferniza a vida de todos. Independentemente de quem seja.

Não que se vá passar a trabalhar em casa de uma hora para outra. Não é isso. Os aspectos socioculturais pressupõem a recusa dos setores produtivos mais conservadores a essa inovação. Mas é bom começar a pensar no assunto. Antes que a imobilidade paralise tudo de vez. Em junho, mais 1700 carros passaram a circular no Recife. Já são dez mil emplacados este ano. Não há engenharia urbana que suporte uma frota de 700 mil veículos numa cidade secular e de ruas estreitas.

 É louvável a criação de ciclovias e faixas exclusivas de bicicleta pela prefeitura. A rede ciclável do Recife já soma 51,6 km. Dar condições e incentivar os moradores a pedalar faz bem à saúde e à cidade também. Mas do jeito como anda o trânsito, bem que os vereadores poderiam rever a proposta que altera o horário de funcionamento do serviço público que está parada faz tempo na Câmara. Seria bom examinar essa pauta para reduzir o fluxo de carros na hora do rush. Antes que um cenário apocalíptico nos atinja. Como o previsto num conto hiper-realista de Julio Cortaza, no qual pessoas atônitas largam os automóveis num enorme engarrafamento. Afinal, qual entre nós já não sentiu vontade de fazer isso sobre o Viaduto Joana Bezerra?


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL