Diario Editorial: Mudar ou não mudar, eis a questão

Publicado em: 17/08/2017 07:27 Atualizado em:

Tão profunda é a crise de representação que estamos vivendo que os partidos estão mudando de nome  para excluir da legenda a palavra que identifica o que eles são: partido. A tendência atingiu até a legenda que está no poder. Ontem o presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá, informou ter encaminhado ofício ao Tribunal Superior Eleitoral requerendo mudança de nome da agremiação: sai PMDB e em seu lugar entra MDB. Desaparecem o “p” e o “partido” e fica Movimento Democrático Brasileiro. O MDB original surgiu em 1966, durante a ditadura. Tornou-se PMDB em 1979, quando se deu a reorganização partidária. Um curioso detalhe histórico: naquela época, seus dirigentes optaram por acrescentar um  “partido” ao nome, a fim de aproveitar-se do recall positivo que a legenda possuía, como opositora do regime militar. 

A mudança de nome do  PMDB — a efetivar-se na sua convenção nacional, em 27 de setembro próximo — não é o primeiro caso dessa tendência. Segundo o noticiário, o DEM pretende tornar-se MUDE. E já temos o “Podemos”, que antes era o PTN, e o “Avante”, que era o PTdoB.  E o PSDC quer virar “Democracia Cristã”, e o PEN, “Patriota”. Cada um com seus argumentos. “Nós não queremos ser um partido, queremos ganhar as ruas com uma nova programação”, disse o senador Jucá. “Nós estamos querendo o partido de acordo com o que tem de mais moderno no mundo hoje. Os novos partidos não são registrados como partido”.  Segundo ele, o motivo da troca de nomes não é uma tentativa de “esconder” o partido com uma nova denominação e assim escapar de possíveis desgastes que a legenda tem hoje.

Não se pode negar às agremiações políticas o direito de mudar de nome nem de serem criadas já sem a palavra “partido”. Da mesma forma que não se pode impedi-las de buscarem alternativas para enfrentar dificuldades do momento. Ressalve-se, ainda, que não estamos diante de uma característica exclusiva do Brasil, nem de prática restrita a um espectro ideológico. Na Espanha foi criado, com sucesso, o Podemos, de esquerda. Na França, o candidato centrista Emanuel Macron elegeu-se em maio passado presidente da República à frente de um movimento registrado anos antes, o Em Marcha! (En Marche!), posteriormente (depois da eleição dele) rebatizado de A República em Marcha (La République en Marche). No caso francês, uma peculiaridade que (ainda) não temos aqui: as letras iniciais do movimento En Marche são as mesmas de Emmanuel Macron.

A crise de representação política que se vê no Brasil vê-se também no cenário internacional. Externa uma insatisfação de motivações mais complexas do que aparentam as questões pontuais aqui e acolá. É pouco provável que uma simples mudança de nomes (desacompanhada de mudanças na prática política) seja medida suficiente para reverter a situação.


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