Opinião Giovanni Mastroianni: Vaqueiro também tem dia consagrado Giovanni Mastroianni é advogado, administrador e jornalista

Publicado em: 17/07/2017 07:23 Atualizado em:

20 de julho é a data dedicada ao vaqueiro, indivíduo que, nos campos, lida com o gado. Embora pouco conhecido como campeiro, os dicionários registram, também, como vaqueiro, o condutor ou guarda de qualquer gado vacum (vacas, bois e novilhos). Dessa forma, no Brasil, o termo simboliza pessoa responsável por cuidar de um rebanho de gado, assemelhando-se, portanto, ao conceito do cowboy americano. No Nordeste, o vaqueiro caracteriza-se pela sua tradicional vestimenta, que se compõe, geralmente, de gibão, luvas, perneiras, jaleco, chapéu e sandálias, além dos inseparáveis cantil e equipamentos de sobrevivência. A predominância de suas vestes é o couro cru e curtido, cuja coloração é parecida com a ferrugem. Apesar de utilizar-se de um processo primitivo de fabricação, o couro cru, de bode ou veado, é uma peça desprovida de pelos, que se mantém bastante macio e até bem flexível, confeccionado através de técnicas rudimentares de curtimento.

O gibão, ou véstia, é um sobretudo, fechado com cordões também de couro, enfeitado por pesponto, que é um ponto de costura muito unido, visível na peça concluída, feita na mão ou à máquina, de forma que a linha passe duas vezes no mesmo orifício. As luvas protegem o dorso das mãos contra espinhos. Sua parte interna constitui-se de duas tiras de couro, uma prendendo o polegar e outra para os demais dedos. As perneiras, que são longas e, em dupla, partem da virilha até o pé. São ajustadas ao corpo e presas por correias igualmente em couro. O jaleco aparenta-se a um “bolero,” extraído do couro de carneiro, reservado, geralmente, para comemorações.

Com duas frentes, uma para o frio das noites, pois conserva a lã; a outra, o lado oposto, para as temperaturas quentes do dia. O chapéu, enfeitado com um cordão, conhecido como “barbichado”, envolto no queixo para não cair nos corre-corres do sertão, abriga o vaqueiro do sol, dos espinhos e galhos da caatinga, servindo, curiosamente, para se beber água, tendo, também, outras utilidades. As sandálias são um calçado especial, com solas e correias que protegem os dedos dos pés do campeiro.

É comum o vaqueiro usar sempre um par de esporas - instrumento de metal, armado de pontas, que se prende à parte posterior do calçado para estimular a montaria -, bem como, nas mãos, uma chibata de couro (chicote) – vara curta, em cuja extremidade há tiras de couro ou mesmo uma corrente, peça que serve para açoitar animais. Data de 1816 a mais antiga descrição da indumentária do vaqueiro sertanejo, divulgada no livro “Viagens ao Nordeste do Brasil”.Também o escritor Euclides da Cunha, em “Os Sertões” descreveu a vestimenta do vaqueiro das caatingas baianas da seguinte maneira: “O seu aspecto recorda, vagamente, à primeira vista, o do guerreiro antigo, exausto da refrega. As vestes são uma armadura. Envolto no gibão de couro curtido, de bode ou de vaqueta; apertado no colete, também de couro; calçando as perneiras, de couro curtido ainda, muito justas, cosidas às pernas e subindo até as virilhas, articuladas em joelheiras de sola, resguardados os pés e as mãos pelas luvas e guarda-pós de veado. São acessórios uma manta de pele de bode, um couro resistente, cobrindo as ancas do animal, peitorais que lhes resguardam o peito e as joelheiras apresilhadas às juntas”. Assim, conseguem romper incólumes as caatingas e os pedregais cortantes.

O vaqueiro também tem uma tradicional missa que se realiza todos os anos em Serrita, interior de Pernambuco, em homenagem ao mais famoso campeiro da região, Raimundo Jacó, assassinado em 1970. Aguardada com muita ansiedade pelos sertanejos, a missa é o acontecimento primordial que, todos os anos, move a economia regional, pois recebe cerca de setenta mil pessoas, durante os três dias de sua realização, gerando um milhão de reais para a região. A 47.ª maior festa do sertão está prevista para 23 de julho. Mas, a missa não é a única festa de tradição em Serrita, pois, no Parque JM daquela cidade interiorana, há alguns anos, vem sendo realizada uma tradicional Vaquejada.



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