Diario Editorial: Trump e o risco de impeachment

Publicado em: 22/05/2017 07:03 Atualizado em: 22/05/2017 07:13

Donald Trump dá a impressão de que não tomou consciência do significado de ocupar a Casa Branca. Age como menino mimado que ganhou um brinquedo novo e, sem saber como funciona, aperta qualquer botão. O resultado pouco lhe importa. Se não funciona, deixa-o de lado e parte para outro.

Nas mídias sociais, o comportamento se mantém. Viciado em Twitter, posta mensagens sem compromisso com a verdade. Desdenha retuítes, que multiplicam em progressão geométrica os 140 caracteres. A irresponsabilidade inspirou a criação do verbete pós-verdade, vocábulo que o *Dicionário Oxford *considerou a palavra de 2016.

Os caprichos do dono da bola e do campinho ultrapassaram os limites tolerados. Nos quatro meses no comando do Executivo da maior potência do planeta, uma sucessão de fatos comprometedores põe em risco o mandato conquistado nas urnas. A mais grave suspeita que pesa contra ele é o possível acordo com a Rússia para influir nas eleições presidenciais a fim de prejudicar a democrata Hillary Clinton.

Sem ouvir assessores e sem experiência da complexidade do universo que comanda, Trump comete erros que comprometem o Estado americano. Na semana passada, por exemplo, vazou para diplomatas russos informações secretas fornecidas pelo governo de Israel. Não só. Tornaram-se públicos memorandos de James Comey, ex-diretor do FBI demitido dias antes.

Reportagem do jornal The New York Times informa que Trump apelou para prática muito em voga no Brasil na era da Lava-Jato. Tentou obstruir investigações contra Mike Flynn, demitido pouco depois de assumir o cargo por ter mentido ao vice-presidente, Mike Pence. O então conselheiro de Segurança Nacional falsificou os fatos ao falar sobre contatos com representantes de Moscou durante a campanha eleitoral. Perdeu o cargo e vai responder a processo.

Comissão do Senado entrou na história. Convidou Comey para prestar esclarecimentos sobre as denúncias e requisitou o material de que o FBI dispõe sobre o assunto. Trata-se de passo importante para jogar luz sobre a realidade. Se as conclusões evidenciarem obstrução da justiça, pode ter sido dado um passo para o impeachment do presidente. Trata-se, porém, de avanço importante mas não suficiente.

O Partido Republicano (PR), de Donald Trump, tem maioria na Câmara e no Senado. A sigla precisaria se dividir a fim de abrir caminho para o impedimento. A questão é se o fará. Fará? Depende da capacidade de Trump de negociar. Ele, embora eleito pelo PR, é considerado um estranho na legenda.

Não conta, por isso, com o apoio automático do núcleo duro da agremiação. Tampouco domina o jogo diplomático, em que as partes são capazes de eliminar arestas, sentar-se à mesa e seguir as trilhas do diálogo. No poder, Trump continua agindo como o menino mimado. Personalista, atropela negociações e firma a convicção de que não está à altura do cargo.

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