Opinião Alexandre Rands Barros: Normalidade Alexandre Rands é economista, PhD pela Universidade de Illinois, presidente da Datamétrica e do Diário de Pernambuco

Publicado em: 27/05/2017 07:58 Atualizado em:


A semana teve dois movimentos principais relevantes para a condução da política econômica. O primeiro foi a tentativa do Senado Federal e do Ministério da Fazenda de retomarem as pautas econômicas tentando separar a crise política do andamento da economia. O segundo foi o avanço das articulações de Michel Temer para se manter no poder, mostrando que a sua saída vai ser lenta e politicamente onerosa. Enquanto o primeiro contribuiu para atenuar o impacto econômico perverso das denúncias de Joesley Batista, o segundo gerou dúvidas quanto ao futuro que reduz as expectativas de investimentos e, por tal, promoveu a desaceleração econômica.

O resultado final dessas forças contraditórias foi o estancamento da deterioração, com pequena recuperação do otimismo com a economia, mas ainda deixando a situação do país bem longe do que ela estava duas semanas atrás. Os movimentos do Ibovespa e as revisões para baixo das previsões para crescimento do PIB em 2017 e 2018, elaboradas pelos magos econômicos de plantão, mostram claramente esse resultado.

Paralelamente, houve três boas notícias na semana que não dependem de desenvolvimentos pós-denúncias: (i) a expectativa de queda do preço da energia elétrica (de bandeira vermelha para bandeira amarela ou mesmo verde), decorrente das chuvas volumosas nas últimas semanas; (ii) superávit primário do governo federal em abril e (iii) a redução do preço da gasolina e óleo diesel nas refinarias, promovida pela Petrobras, baseada em revisões periódicas de preços nacionais e internacionais.

A divulgação do IPCA-15 também confirma a tendência de queda da inflação, algo também positivo, apesar de ter de menos impacto no momento. Certamente elas contribuíram para a recuperação parcial das deteriorações de expectativas da semana anterior. No entanto, não foram suficientes para reverter completamente o estrago causado pelas denúncias. A falta de avanços relevantes nas reformas trabalhista e previdenciária, além das dificuldades impostas pelo Ministério da Fazenda para a aprovação do Refis, contribuíram para a manutenção das desconfianças dos agentes econômicos. Ou seja, a ideia de normalidade que o governo quis passar não foi convincente porque não gerou resultados concretos. Decisões de investimentos continuaram suspensas para que se tenha uma visão melhor das perspectivas de nossa economia.

Esses comentários mostram que ainda não atingimos nenhuma situação de normalidade na economia. Certamente não vamos consegui-la enquanto houver muitas incertezas sobre as definições políticas. As acomodações nessa esfera em uma nova composição de poder deverão mudar a condução da economia e as prioridades definidas anteriormente. O avanço da pauta do esquerdismo de toga (bramidos de esquerda que, na verdade, nada mais defendem do que os interesses da alta cúpula do funcionalismo público, em detrimento inclusive dos interesses da maioria da população de baixa renda) poderá elevar gastos e eliminar perspectivas de equilíbrio orçamentário de longo prazo.

Isso deverá comprometer o crescimento a médio e longo prazos. Infelizmente, mesmo que Temer se mantenha no comando do país, ainda assim, a recomposição do equilíbrio de poder deverá ter uma solução econômica pior, na qual a maioria da população vai perder e a classe média alta que vive pendurada no governo será novamente a mais beneficiada com toda a crise.


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