Opinião Alberto Alves: Não mude o sapato de lugar "A inclusão de pessoas com deficiência no turismo é um dos grandes desafios e missões do Ministério do Turismo"

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 27/09/2016 07:16 Atualizado em:

Por Alberto Alves
Ministro interino do Turismo

João Paulo, 14 anos, tem distrofia muscular. A doença foi descoberta aos 11 anos e desde então usa cadeira de rodas para se deslocar. O caçula de uma família de cinco irmãos tem o pai como seu anjo da guarda. Evaristo leva o filho para a fisioterapia, para a escola e para casa. Mas o que esse pai devotado não sabia era que o João Paulo pode mais. João pode se locomover com dignidade. João pode, e deve, conhecer o bairro vizinho, a cidade vizinha, o Brasil.

Foi aqui em Pernambuco que o pai de João teve a certeza que isso tudo era possível. Uma parceria entre o Ministério do Turismo e a Empresa Pernambucana de Turismo fez com que o sonho de João se tornasse realidade. João percorreu mais de dois mil quilômetros em sua primeira viagem de avião, saindo de Brasília com destino a Recife e Porto de Galinhas. Sua experiência não poderia ser melhor: na capital pernambucana conheceu o Marco Zero, o Paço do Frevo e o Mercado de Artesanato. Em Porto de Galinhas, mergulhou no mar pela primeira vez em um banho assistido em cadeira anfíbia, fez passeio de jangada no Rio Maracaípe e de bugue em Muro Alto.

A inclusão de pessoas com deficiência no turismo é um dos grandes desafios e missões do Ministério do Turismo. Projetos como o Praia sem Barreiras comprovam que realizados ajustes e dadas as condições para que essas pessoas consumam turismo, podemos transformar vidas. Mas, para isso, é preciso que empresários do setor, gestores públicos, parlamentares e sociedade civil se sensibilizem para criar condições para que vários joãos viajem pelo Brasil.

Socorro, no interior de São Paulo, é um destino internacionalmente reconhecido pela acessibilidade de sua estrutura. O hotel Campo dos Sonhos, ganhador do prêmio de sustentabilidade da Braztoa em 2015, adaptou todos os seus cômodos para receber turistas com deficiências. De acordo com o proprietário, o investimento em acessibilidade em um hotel deve provocar um aumento em torno de 5% em espaços como banheiros – porque é necessário instalar barras de apoio e outras adaptações – mas por outro lado há uma economia na compra de mobiliário, uma vez que os apartamentos e chalés adaptados devem ter menos móveis.

Além da infraestrutura, temos que nos preocupar também com a qualificação dos serviços para melhor atender esse público. Para que, ao chegar no hotel, o João tenha espaço para se locomover, tenha rampas e elevadores para acessar os andares, mas também que a equipe esteja apta a atende-lo com qualidade. Além da preocupação com rampas e portas mais largas, é importante pensar em outros tipos de deficiências, como as auditivas e visuais.

O Ministério do Turismo tem investido em qualificação profissional no setor. Um dos temas dos cursos é justamente o atendimento em libras. Outro cuidado abordado no curso é o contato com pessoas com deficiência visual. São medidas muitas vezes simples, como não tirar um sapato de lugar, mas que fazem toda a diferença na qualidade da experiência do turista.

Hoje, no Dia Mundial do Turismo, cujo mote este ano é Turismo para Todos, estamos começando uma grande campanha de sensibilização para esse tema. Temos que ter empreendimentos acessíveis, atrativos adaptados e destinos inclusivos. Viajar é para todos.


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