Por: Aline Moura - Diario de Pernambuco
Publicado em: 04/10/2015 10:00 Atualizado em: 02/10/2015 23:06
O Brasil estava prestes a sair dos anos de chumbo e promover o movimento pelas Diretas Já para eleger o presidente da República. Cerca de quatro anos antes, no dia 28 de setembro de 1981, há 34 anos, o líder das greves metalúrgicas do ABC paulista, Luiz Inácio Lula da Silva, assumia outro papel. Tornava-se um político de carteirinha ao ser eleito, aos 36 anos, como presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, do qual é cofundador. Em nota, na época, o Diario de Pernambuco anunciou a eleição do primeiro diretório petista da história e a escolha de Lula para comandar a legenda.
Orgulhoso com a nova missão, Lula fez apostas futuras. Disse que, em 1982, o PT elegeria de 63 a 84 dos 420 deputados federais. Um sonho grande demais para aquele momento. No ano pós-fundação do PT, a legenda elegeu somente oito deputados federais, entre eles, José Genoino, Luiz Dulci e Bete Mendes, os três de São Paulo. De lá para cá, contudo, o ex-operário levou sua sigla a conquistar a Presidência da República por quatro vezes consecutivas, onde percorreu caminhos e descaminhos.
Os números e nomes das últimas três décadas revelam as mudanças enfrentadas pelo PT, que ainda está sob o comando natural de Lula, mesmo que o presidente nacional seja atualmente Rui Falcão, deputado estadual de São Paulo. Essa matéria não trata das políticas sociais dos governos petistas, vistas por organismos internacionais, a exemplo da Organização das Nações Unidas, como responsáveis pela redução da pobreza. É sobre a postura do partido no poder.
Uma das transformações notadas no PT ao longo dos anos foi ficar tolerante com os erros dos companheiros. O partido que começou com um discurso radical, chegando a expulsar a deputada Bete Mendes (SP) pelo fato de ela apoiar a eleição indireta de Tancredo Neves, em janeiro de 1985, até hoje não convidou o ex-ministro José Dirceu - preso duas vezes por denúncias de envolvimento no mensalão e na Lava-Jato -, para deixar a sigla.
Outra característica que tem pesado contra a legenda é abandonar os gestores em momentos de dificuldade. Em 1985, o PT conseguiu a proeza de vencer a primeira eleição de uma capital, elegendo a socióloga Maria Luíza Fontenele como prefeita de Fortaleza. Maria Luíza venceu duas oligarquias da cidade, mas foi expulsa da sigla em 1988, porque o partido não concordava com sua forma de administrar. A então petista, eleita sob o hino de “Maria Maria”, de Milton Nascimento -, hoje está sem partido e num movimento chamado Crítica Radical, de Fortaleza.
O isolamento de Maria Luiza remete às disputas internas do PT e as “frituras” sofridas por Dilma, muitas vezes feitas por seus aliados. Bete Mendes e Maria Luíza Fontenele foram exemplos de divisões que se ampliam dois anos depois de o PT conquistar a presidência, em 2004. O PSol foi criado por descontentes do PT, pessoas que queriam mudanças, mas que eram tratadas como radicais. A ex-ministra Marina Silva e atualmente presidenciável foi jogada nos braços da oposição por falta de espaço na legenda, bem como o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).
O PT ainda mantém as prévias para a escolha de candidatos, o que é uma democracia, porém as disputas viram fratricidas, como aconteceu no Recife em 2012. Os candidatos se desconstroem durante as prévias e o que prevalece, no final, é a força dos caciques. O poder virou hierarquizado, afinal, como nos outros partidos.
Outra mudança que o tempo mostrou foi a troca de base eleitoral. A legenda surgiu com força em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, mas foi perdendo terreno nesses estados e migrando sua votação para o Nordeste, região mais beneficiada no governo Lula com obras e políticas de distribuição de renda. Mas a sigla que também flertava com a burguesia jogou os pobres contra os ricos (e vice-versa), dividindo o país em dois.
A falta de capacidade do PT de reagir às crises e atingir a opinião pública é outro aspecto nevrálgico. A relação com a opinião pública, formada por relações interpessoais, jornais impressos, televisão e internet, cambaleia. Diferentemente da época em que Lula venceu as eleições, em 2002, com o slogan “A esperança vai vencer o medo”.
O PT que permanece firme, seja em termos de militantes como de lideranças políticas, não tem passado por oxigenação e está abalado. Da época em que começou a eleger suas estrelas, poucos permanecem com visibilidade, como os ministros Aloizio Mercadante e Jaques Wagner, além do governador Wellington Dias (PI). Para manter o restinho de governabilidade da presidente Dilma, o PT cede ministérios e vira a política econômica pelo avesso.
A idade pesou para os petistas. Em 1981, havia 300 mil filiados no PT, hoje, o número é 1,5 milhão (cinco vezes mais). Entretanto, os petistas admitem que precisam corrigir os rumos. Eles não podem pegar o caminho de volta - o mundo já não é o mesmo - mas podem decidir como querem continuar nessa estrada.
Os 13 passos de Lula
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| Dia 1º de janeiro de 2003 ficou marcado pela posse de um ex-operário e ex-sindicalista como presidente da República |
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| Maria Luiza atualmente faz parte de um movimento apolítico em Fortaleza |
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| Erundina foi a primeira mulher a assumir a Prefeitura de São Paulo, eleita pelo PT. Atualmente, está no PSB |
4) Em 1990, o PT elege seu primeiro senador, Eduardo Suplicy, que perdeu a reeleição em 2014, mas atualmente é secretário de Direitos Humanos do prefeito Fernando Haddad (PT-SP) 1990. Naquele ano, a Bahia foi o primeiro estado do Nordeste a eleger deputados do PT. Atualmente, quem governa o estado é Rui Costa, do PT. Também em 1990, o PT elegeu José Dirceu como deputado federal. (Eduardo Suplicy)
5) Em 1994, o PT elegeu os primeiros governadores, do Espírito Santo, Distrito Federal, respectivamente Vítor Buaiz e Cristovam Buarque. Também naquele ano, elegeu Marina Silva como senadora do Acre. Marina filiou-se ao PV em 2009, filiou-se ao PSB em 2013 e fundou a Rede Sustentabilidade na semana retrasada. Marina foi candidata a presidente duas vezes. Vítor Buaiz saiu do PT em 1997 e Cristovam Buarque em 2004. (Cristovam Buarque)
6) Em 1998, Heloísa Helena elegeu-se como senadora do PT por Alagoas. Ela saiu do partido em 2004 e ajudou a fundar o Psol. Heloísa se candidatou a presidente uma vez. Ela se filiou à Rede na última semana. (Heloísa Helena)
7) Em 2002, o Nordeste elegeu o primeiro governador do PT, Wellington Dias. Atualmente, ele é governador do Piauí. Também em 2002, Lula elegeu-se presidente e o partido elegeu a maior bancada de deputados federais. (Wellington Dias)
8) Em 2003, o PT elegeu o primeiro presidente da Câmara, o ex-sindicalista João Paulo Cunha. Ele foi acusado de envolvimento no mensalão e foi preso. Foi preso em 4 de fevereiro de 2004 e cumpre pena, atualmente, em regime aberto. (João Paulo Cunha)
9) Em 14 de maio de 2005, o PT começou a enfrentar seu inferno, quando estourou um vídeo onde o chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correio, Maurício Marinho, foi flagrado recebendo dinheiro de propina. Ele era o elo do PTB num esquema de corrupção nos Correios. Poucos meses depois, em 6 de junho, o então deputado Roberto Jefferson (PTB) declarava, numa entrevista, sobre o esquema de mesadas dos deputados. (Roberto Jefferson)
10) Em 2007, depois de vencer a disputa contra Geraldo Alckmin (PSDB), em 2006, Lula assume novamente a Presidência da República. (Geraldo Alckmin)
11) Em 31 de outubro de 2010, Dilma Rousseff é a primeira mulher eleita presidente do Brasil. Sua gestão, em 2011, teve inicialmente a marca da austeridade e da “vassourada”. (Dilma Rousseff)
12) Em 15 de novembro de 2013, após ter a prisão decretada, ergue o punho em saudação a militantes do PT ao se entregar na Polícia Federal de São Paulo para o cumprimento da pena de sete anos e onze meses em regime semiaberto. Em de agosto de 2015, menos de um ano após progredir a pena para o regime aberto, ele volta a ser preso em Brasília, acusado de envolvimento na Lava-Jato. Virou réu novamente em 15 de setembro. (José Dirceu)
13) Em 26 de outubro de 2014, Dilma Rousseff vence o senador Aécio Neves (PSDB) na disputa pela presidência da República e anuncia o slogan "Brasil, Pátria Educadora". Atualmente, passa por uma grave crise política e o ex-petista e jurista Hélio Bicudo é um dos autores de um pedido de impeachment contra a presidente. (Aécio Neves)
