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É bom ter filhos e eu posso provar

Virgínia Gonzaga
Jornalista e mãe de três (Dom, Gael e Otto)

Publicado em: 02/03/2023 03:00 Atualizado em: 02/03/2023 23:12

Quem me conhece sabe o quanto eu respeito a opinião alheia, mesmo que muitas vezes eu precise me esforçar bastante para entender e absorver algo que não esteja tão presente no meu cotidiano, na minha caixinha. Mesmo sendo apaixonada pelo universo infantil e, agora, muito mais encantada por ter me tornado mãe de três crianças maravilhosas, consigo compreender a decisão de quem opta por não ter filhos. Respeitar essa escolha tão íntima e que pode estar ligada a inúmeras motivações é o mínimo que nos compete. Entretanto, não posso deixar de falar aos que se interessam pelo assunto, mesmo que despretensiosamente, do quanto a chegada desses pequenos seres em nossas vidas é revolucionária.

Ter um filho nos torna automaticamente pessoas melhores com outras pessoas, com os animais, com o universo. Depois que temos filhos, tornamo-nos, inclusive, seres humanos mais cautelosos, empáticos, menos exigentes e, por que não, menos vulneráveis. É que todos os nossos medos transformam-se em força e coragem para combater qualquer mal que esteja à espreita. Ao passo que paramos de dar valor ao ter (coisas, bens, patrimônios) e passamos a prezar mais pelo estar (junto, perto, feliz, inteiro), nos reeducamos nas zonas mais indefinidas da nossa vida e das nossas relações.

Caminhar por essa rota inicialmente desconhecida nos traz descobertas inimagináveis sobre nós mesmos, despertando potenciais até então ignorados. À medida que entendemos a necessidade dos filhos à nossa presença física e emocional, passamos a cuidar mais de nós, da nossa saúde, mudamos nossa alimentação, buscamos um exercício físico e focamos no que realmente faz bem. Aprendemos a nos reeducar financeiramente, a comprar e consumir com mais consciência, a estimular práticas econômicas e sustentáveis. Desenvolvemos habilidades que jamais teríamos contato. Adquirimos um medo de morrer insuportável, mas paralelamente ao pavor a vontade de viver ganha uma fúria incontrolável.

Passamos a ser mães/pais com multitarefas e, consequentemente, com múltiplos saberes, reconhecendo-nos psicólogos, dentistas, recreadores, professores, chefes de cozinha e por aí vai. É um mundo, um mundo inteirinho de descobertas.

A maternidade/paternidade nos leva a reencontros com nós mesmos, nos reportando às salas de aula, nos fazendo reviver momentos únicos das nossas vidas, a maioria deles já perdidos nas curvas do esquecimento. O letramento, o andar de bicicleta, as comidas favoritas, as brincadeiras de rua. Relembrar é mergulhar em um túnel do tempo onde as alegrias e conquistas são reanimadas, e as feridas, que muitas vezes ficaram lá atrás, passam a ser saradas. Ter um filho nos faz entender que algumas vezes a lógica da vida se inverte, e passamos a aprender muito mais do que ensinamos.

Seria desonesto deixar de reconhecer que ter filhos também cansa, dá trabalho, congela planos, nos limita consideravelmente a coisas banais, desde um banho sossegado até a privação da vida social, por exemplo. Mas o que ganhamos de recompensa é tão infinitamente superior que posso garantir: vale muito à pena. Com os filhos adquirimos diplomas que as faculdades não emitem; ganhamos experiências que o dinheiro não consegue comprar; criamos histórias que os livros e filmes mais notáveis não são capazes de contar; exploramos mundos que a geografia não alcança. É lindo! É vívido e manso. É agonia e descanso.

Por tudo isso, te aconselho que, se (re)considerar, não tenha apenas um filho, mas tenha dois, três, quatro, menino ou menina, gerados na barriga ou no coração. Tenha o tanto de filhos que caiba no seu sentimento, na sua vontade de ser a sua melhor versão para eles e para o mundo todos os dias.

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