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Drenagem no Recife, desafios e propostas

Roberto Gusmão
Secretário de Infraestrutura e Serviços Urbanos do Recife

Publicado em: 03/07/2019 03:00 Atualizado em: 03/07/2019 09:13

Quinta-Feira, 13 de junho de 2019. Desde quarta à noite a Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC) havia emitido um alerta de chuvas fortes na Região Metropolitana do Recife (RMR). Após 24 horas, mais de 230 mm de chuvas atingiram a capital pernambucana, uma das maiores precipitações que já caíram sobre a cidade. Some-se a isso um pico de maré alta da ordem de 2,3 m por volta das 13h daquele dia de Santo Antônio e pudemos testemunhar problemas em toda a RMR.

Tais eventos atípicos ocorrem em consequência das alterações climáticas que muitos ainda teimam em negar. O grande desafio da atualidade é como as populações litorâneas e o poder público podem enfrentar esse novo cenário. A primeira coisa a fazer é ter a ideia do que está acontecendo nas diversas áreas da cidade e as influências das bacias de escoamento, que são metropolitanas e essenciais no estudo.

Protagonista no enfrentamento às questões de alagamentos históricos na cidade, a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) concluiu, em 2016, um inédito Plano Diretor de Drenagem onde estão contidas as diretrizes e caminhos para melhoria das condições das áreas alagadiças da cidade, bem como a formulação de projetos executivos de algumas ações e cadastros das principais redes existentes, dentre outros instrumentos. Tal plano inclui, entre outras ações, a drenagem das bacias de oito rios que cortam a cidade: Capibaribe, Camaragibe, Beberibe, Tejipió, Jiquiá, Jaboatão, Moxotó e Jordão.

Para se ter uma ideia do desafio que Recife tem, apenas na desapropriação para a macrodrenagem da cidade (canais e rios), nas bacias do Tejipió e Jiquiá (onde ficam os bairros do Ipsep, Jardim São Paulo e Afogados, localidades profundamente afetadas por ocasião de chuvas intensas) os valores de investimento chegam a R$ 225 milhões.

No total destas oito bacias de rios que cortam o Recife, entre desapropriações e obras, esses valores chegam à ordem de R$ 787 milhões (valores em 2014). Some-se a este montante os investimentos levantados para melhoria do sistema de microdrenagem (canaletas e galerias) contidos no Plano Diretor, que chegam a R$ 171 milhões, e a cidade precisará de um investimento total de R$ 958 milhões.

Em contrapartida, mesmo que a capital consiga tamanhos aportes de investimento, nossos cidadãos serão deslocados para que moradias, uma vez que os programas para habitação popular estão paralisados pelo Governo Federal? Nossos estudos apontam um número total de 85 mil pessoas que precisarão ser deslocadas em desapropriações nas bacias destes rios.

Portanto, a PCR sabe o que deve ser feito para melhoria da drenagem em nossa cidade e, juntamente com poucas metrópoles no Brasil, dispõe de projetos para captação de recursos. É o caso dos projetos que tratam da dragagem dos rios Jiquiá e Tejipió, considerados prioritários para a gestão e já apresentados junto a ministérios do Governo Federal, desde 2015, mas que ainda aguardam aprovação.

É essencial lembrar que, a despeito do Plano Diretor de Drenagem, a cidade trabalha constantemente para reduzir os impactos das áreas com alagamento e já debelou 86 pontos críticos dos cerca de 160 detectados nos levantamentos com investimentos da ordem de R$ 20,8 milhões desde 2013. Anualmente a cidade também investe R$ 6 milhões na limpeza contínua dos 99 canais que cortam a cidade para reduzir o impacto do descarte incorreto de lixo na questão dos alagamentos. Entretanto, sem uma política nacional para tratar a questão, o desafio ainda é maior.

Temos dito que o aumento do investimento público nas diversas áreas da infraestrutura em nossas cidades também é o caminho mais fácil para gerar emprego para quem mais precisa e fazer circular o dinheiro na economia brasileira. Infraestrutura urbana é tão importante quanto investir em portos, estradas e aeroportos, que tanto interessam o capital privado. Portanto, o Brasil, do jeito que está indo, diminuindo esses investimentos fundamentais nas cidades, caminha no sentido inverso da melhoria da qualidade de vida de nosso povo.

Recife continua fazendo sua parte, realizando as medidas preventivas para amenizar os problemas dentro de suas possibilidades, com uma Defesa Civil ativa e competente, realizando obras em morros, recuperando uma centena de escadarias e obras feitas pelo próprio povo, em parceria, garantindo a segurança para quem mais precisa e fazendo seu contraponto histórico às políticas anti-povo que, novamente, ameaçam nossa Pátria.

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