Diario de Pernambuco
Busca

CORONAVIRUS

O COI e seus motivos para não adiar os Jogos de Tóquio-2020

Por: AFP

Publicado em: 21/03/2020 13:17

Foto: Philip FONG / AFP

 

Apesar dos pedidos cada vez mais numerosos para que o evento seja adiado devido à pandemia do coronavírus, o Comitê Olímpico Internacional (COI) segue defendendo a ideia de manter as datas oficiais dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, a quatro meses da cerimônia de abertura.

 

Neste sábado (21), a poderosa federação de atletismo dos Estados Unidos afirmou que seria melhor adiar os Jogos de Tóquio, se juntando assim ao coro de pedidos nas últimas horas vindos de diversas entidades, como do comitê olímpico norueguês ou das federações de natação americana e francesa.

 

A dúvida é: qual o motivo de tanta resistência do COI, em um momento em que outros grandes eventos esportivos, como a Eurocopa ou a Copa América de futebol, já foram adiados?

 

- Há margem de tempo:

"Não sabemos qual será a situação" em quatro meses, lembrou nesta semana o presidente do COI, Thomas Bach, esperando assim que a situação da pandemia de coronavírus melhore até 24 de julho, data da cerimônia de abertura. Por isso, o mandatário acredita que tomar uma decisão agora seria "prematuro".

 

O francês Jean-Christophe Rolland, presidente da Federação Internacional de Remo (Fisa), questionado pela AFP, afirmou "compreender" e apoiar esta decisão: "Estamos ainda longe de 24 de julho. Diante desta crise totalmente inédita, ninguém pode prever com segurança sua evolução e seus numerosos cenários diferentes".

 

. O peso dos Jogos Olímpicos:

Para Patrick Clastres, diretor do Centro de Estudos Olímpicos e de Globalização do Esporte na Universidade de Lausane, o princípio de periodicidade de quatro anos é "tão importante quanto o da atribuição dos Jogos Olímpicos a uma cidade diferente: é uma marca que distingue os Jogos Olímpicos de todas as outras competições mundiais".

 

"Isso tem um valor simbólico imenso caso os Jogos sejam adiados ou cancelados", explicou Nathalie Nenon-Zimermann, diretora-geral em Paris da agência de marketing esportivo Only Sport & Passion, especialista em esporte olímpico.

 

De fato, até após a crise financeira de 1987 ou da Guerra do Golfo, em 1991, os Jogos Olímpicos de 1988 e 1992 foram realizados. Somente as duas Guerras Mundiais foram responsáveis pelo cancelamento de edições de Jogos, em 1916, 1940 e 1944.

 

. Consequências financeiras:

O COI redistribui para as federações esportivas e para os atletas cerca de 90% de suas receitas, que nos últimos Jogos Olímpicos do Rio-2016 alcançaram 5.7 bilhões de dólares.

 

O ecossistema dos Jogos Olímpicos é formado também pelas emissoras de televisão e pelos patrocinadores, que investiram muito dinheiro no COI e no Comitê de Organização.

 

. Processo de decisão diluído:

Embora a decisão formal corresponda ao COI, o governo japonês terá a última palavra, junto ao Comitê Organizador Local e com os conselhos da Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

. Situação dos atletas:

Alguns atletas de primeira linha, como o francês Kevin Mayer (decatlo) ou a grega Ekaterina Stefanidi (salto com vara) já pediram ao COI que adie os Jogos devido ao risco de saúde.

 

O COI e as federações internacionais enfrentam também outro problema complicado: cerca de 43% dos atletas previstos em Tóquio ainda não se classificaram oficialmente para os Jogos. E, além das dificuldades para treinar, o sistema de combate ao doping também foi afetado pela pandemia, fazendo surgir um problema de igualdade entre os atletas.

 

. Os grandes preparativos:

Sediar os Jogos Olímpicos representa muitos desafios a nível de organização para o país anfitrião (transporte, alojamento...).

 

Diversas instalações construídas para os Jogos Olímpicos darão lugar a outras formas de uso assim que o evento terminar.

 

É o caso dos alojamentos da Vila Olímpica, que esperam receber mais de 11.000 atletas antes de serem cedidos aos seus novos proprietários.

 

"A Vila Olímpica é um problema entre outros milhares", analisou Jean-Loup Chappelet, professor do Instituto de Estudos em Administração Pública (IDHEAP) de Lausane e especialista do COI. "Mas é dever do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, desbloquear os orçamentos necessários para tomar medidas legislativas", afirmou. 

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.