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Trump e Putin se encontram no Alasca para cúpula que pode selar destino de guerra na Ucrânia

Os presidentes Trump e Putin terão reunião nesta sexta-feira (15) para discutir a guerra

Estadão Conteúdo

Publicado: 15/08/2025 às 08:53

Presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin/Fotos: Vyacheslav Prokofiev / POOL / AFP e Mandel NGAN / AFP

Presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin (Fotos: Vyacheslav Prokofiev / POOL / AFP e Mandel NGAN / AFP)

Pela primeira vez em seis anos, os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia apertarão as mãos durante um encontro no Alasca nesta sexta-feira, 15. Também é a primeira vez que Vladimir Putin pisa em terras norte-americanas em 10 anos. O objetivo é discutir o futuro da guerra na Ucrânia, que já se arrasta por mais de três anos e vive um momento de congelamento dos avanços no campo de batalha. O governo ucraniano, porém, não estará à mesa de negociação.

O que sairá desse encontro de Putin com Donald Trump é incerto. Analistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) dizem que um acordo de paz é altamente improvável. Mas um compromisso russo com um cessar-fogo temporário é uma possibilidade real. "O problema com Trump é que você nunca sabe ao certo o que ele vai fazer", opina Stefan Wolff, cientista político alemão especialista em segurança internacional e solução de conflitos.

"Para Trump o que possivelmente está na agenda é um cessar-fogo para a Ucrânia. Mas também acho que Trump está muito interessado em algum tipo de reinício das relações com a Rússia. Ele poderia sair com ambos. Ele poderia sair com nada também. Nesse sentido os resultados reais são muito incertos", disse Wolff.

O próprio governo americano admitiu que essa reunião histórica servirá para "ouvir Putin" mais do que desenhar qualquer tipo de acordo, por isso a Ucrânia estaria de fora. Mas apenas uma foto ao lado do presidente americano poderá ser considerada a consolidação das vitórias diplomáticas do russo depois de ter sido considerado um pária internacional por sua invasão da Ucrânia em 2022.

"Tem muito de teatro político e pouco de substância em termos de negociação", analisa Carlos Gustavo Poggio, internacionalista e professor associado do Berea College, no Kentucky. "É muito claro o que Putin quer com a guerra. Este é um encontro em que você não está incluindo a Ucrânia e outros parceiros."

"O governo Trump diz que é um encontro para escutar Vladimir Putin. O Putin claramente entende que ele tem uma influência sobre Donald Trump. Quando eles tiveram esse tipo de encontro similar no passado, o Trump saiu repetindo toda a versão do Vladimir Putin nas questões que eles discutiram", dizze Poggio.

Na quinta-feira, 14, o Kremlin sinalizou que também estava interessado em discutir outros assuntos além da guerra, como laços econômicos e armas nucleares. Putin disse acreditar nos "esforços bastante enérgicos para interromper os combates, pôr fim à crise e chegar a acordos de interesse para todas as partes envolvidas neste conflito".

Futuro do território ucraniano

Desesperado, o presidente ucraniano Volodmir Zelenski se reuniu na quarta-feira, 13, com líderes europeus para tentar convencer Trump a defender os interesses da Ucrânia. O medo é que os dois líderes transformem o encontro em uma nova Yalta, onde a Europa foi dividida como uma colcha de retalhos após a derrota da Alemanha nazista. Putin e Zelenski têm demandas territoriais que se chocam e são inegociáveis.

Desde que a Rússia invadiu o país, 30% do território ucraniano chegou a estar sob domínio russo. Após contraofensivas da Ucrânia, a Rússia domina 19% do país, incluindo a Crimeia anexada ilegalmente desde 2014, segundo o Instituto para o Estudo da Guerra, sediado nos EUA. Esse controle engloba toda a região de Luhansk, cerca de três quartos das regiões de Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia e pequenas áreas de Kharkiv e Sumy, no norte da Ucrânia.

"A perda de território já aconteceu 'de facto', mas não 'de jure' (legalmente). Os ucranianos não aceitam isso", explica Angelo Segrillo, professor no Departamento de História da USP especializado na história da Rússia e União Soviética. "E a maioria dos países ocidentais também não aceita. É uma situação muito difícil e contraditória em todos os campos, tanto no lado do Zelenski, quanto pelo lado do Trump e menos pelo lado de Putin."

Zelenski viajou à Alemanha na quarta e, ao lado do chanceler Friedrich Merz, conversou por vídeo com Trump antes do encontro desta sexta. Segundo ele, Trump concordou com cinco princípios: incluir a Ucrânia em conversas futuras; recusar-se a discutir termos de paz e cessão de territórios sem antes estabelecer um cessar-fogo; garantias de segurança após a guerra, incluindo o direito de se juntar à Otan em algum momento; e aumentar a pressão econômica sobre a Rússia se as negociações fracassarem.

"A Ucrânia não concordaria em ceder território. Nada, nem um metro quadrado. Nem mesmo a Crimeia", enfatiza o analista político ucraniano Oleksandr Slivchuk, coordenador no Transatlantic Dialogue Center, um think tank com sede em Kiev. "Não porque não queiramos a paz, mas porque as pessoas entendem que isso não faz sentido. É como abrir mão de algo que não tem valor para o adversário. Porque a essência e as razões desta guerra nunca foram questões territoriais."

"Para a Ucrânia este é agora um momento de máxima ansiedade porque eles podem sair completamente entregues ou podem sair com um apoio muito mais forte dos EUA ou Trump pode simplesmente ir embora e dizer 'continue lutando'."

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