Israel anuncia novos assentamentos na Cisjordânia e afirma 'enterrar' um Estado palestino
"Esta realidade enterra finalmente a ideia de um Estado palestino, porque não há nada a ser reconhecido e ninguém para ser reconhecido.", disse ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich
Publicado: 14/08/2025 às 17:08

Ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich (Menahem Kahana/AFP via Getty Images)
Nesta quinta-feira (14), o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, aprovou o plano para a construção de milhares de novas habitações entre Jerusalém e o assentamento israelense de Ma`ale Adumim.
"Esta realidade enterra finalmente a ideia de um Estado palestino, porque não há nada a ser reconhecido e ninguém para ser reconhecido. Este não é apenas um plano de construção, é uma mensagem sionista retumbante: uma Jerusalém unida é a nossa capital eterna, e Ma`ale Adumim é parte inseparável dela", disse Smotrich, que é criticado por grupos da oposição e da sociedade civil israelense.
O projeto de Smotrich prevê a construção de mais de três mil casas na zona e inclui também o desenvolvimento de uma nova estrada para separar o tráfego palestino e israelense e ligar a cidade de Belém, na Cisjordânia, ao sul de Jerusalém, com Ramallah, a norte. O plano prevê que a estrada venha a contornar a cidade de Jerusalém. A construção de novas habitações israelenses deve praticamente isolar Jerusalém Oriental do resto da Cisjordânia ocupada.
Mas, as autoridades militares, responsável pela gestão dos novos assentamentos, têm ainda de aprovar o plano de construção, que é prevista de ser ratificada na semana que vem. Apesar de haver alguns procedimentos burocráticos a serem concluídos, se o processo avançar rapidamente, as obras de infraestruturas podem já começar nos próximos meses e a construção das casas iniciadas dentro de um ano.
Bezalel Smotrich também agradeceu hoje o apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e apelou ao premiê de Israel para fazer cumprir a soberania israelense na Cisjordânia para garantir que os líderes hipócritas da Europa não tenham nada para reconhecer em setembro. Na última terça-feira, Benjamin Netanyahu afirmou que estava muito apegado à visão de um grande Estado de Israel, mas não adiantou mais detalhes. Mas, os defensores do expansionismo defendem que Israel deve controlar não só a Cisjordânia ocupada, mas partes de países árabes.
No próximo mês, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, vários países, como França, Canadá, Austrália e Portugal, devem reconhecer oficialmente o Estado palestino.
A organização israelense Peace Now, contrária ao estabelecimento de assentamentos, criticou veementemente hoje as posições do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netahyahu. "Estamos à beira de um abismo, e o governo está avançando a todo o vapor", denunciou a organização Peace Now.
O Egito, Jordânia e o Catar rejeitaram categoricamente os planos e declarações extremistas do ministro das Finanças. “É um novo indício da arrogância e do desvio israelense, que não trará segurança nem estabilidade aos países da região, incluindo Israel. Israel tem de responder às legítimas aspirações do povo palestino. As políticas de assentamentos e as condenáveis declarações de responsáveis do Governo israelense incitam ao ódio, ao extremismo e à violência e “contradizem os esforços para estabelecer uma paz duradoura e abrangente no Oriente Médio”, afirmou um comunicado do Ministério das Relações Exteriores egípcio.
O porta-voz da diplomacia da Jordania, Sufian Qudah, alertou para a contínua política expansionista extremista do Governo israelita na Cisjordânia ocupada, que incentiva a continuação de ciclos de violência e conflito no Oriente Médio.
Durante muitos anos, as autoridades de Israel tem evitado a implementação do projeto de construção, conhecido como E1, devido à pressão da comunidade internacional, que teme que a expansão impeça o estabelecimento de um Estado da Palestina vizinho a Jerusalém Oriental.
Entretanto, desde que Netanyahu assumiu o poder em 2022, liderando uma coligação de extrema-direita, foi aprovado um número sem precedentes de novos assentamentos e de apropriação de terras aos habitantes palestinos.
O principal tribunal das Nações Unidas, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), já declarou no ano passado que a presença de Israel nos territórios ocupados palestinos é ilegal e pediu à suspensão imediata da construção de assentamentos, condenando o controle de Israel sobre as terras que conquistou há quase 60 anos.

