Cápsula do tempo do Diario de Pernambuco é aberta após um século durante celebração dos 200 anos
A cápsula foi guardada durante um século e estava no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP)
Adelmo Lucena e Larissa Aguiar
Publicado: 07/11/2025 às 16:37
Presidente do Diario de Pernambuco, Carlos Frederico Vital, comemora abertura da cápsula centenária (Foto: Cryslli Viana/DP Foto)
Na última sexta-feira (7), para celebrar os 200 anos do Diario de Pernambuco, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) revelou uma cápsula do tempo guardada há um século para marcar, justamente, os 100 anos do jornal. O momento marcou um dos pontos altos das comemorações do bicentenário do jornal mais antigo em circulação da América Latina.
Dentro da cápsula, cuidadosamente preservada, foram encontrados objetos que simbolizam a rotina e a cultura da época, como um abridor de cartas, uma caneta e exemplares originais do Diario de Pernambuco publicados na época. As páginas amareladas trazem notícias sobre a própria festa do centenário do veículo, realizada em 1925, registrando a relevância que o periódico já possuía na história pernambucana.
Entre os itens, também havia um documento sobre a Confederação do Equador, uma fotografia do mobiliário do jornal, fotos da família de Narsson Figueiredo e uma carta escrita por ele. “Nasci no Povoado São João dos Bombos, município da Victória - Pernambuco, numa quinta-feira, aos 14 de abril de 1887, primogênito e legítimo filho do Cap. Eng. Sergio Figueirêdo e Silva e Maria Figueirêdo e Silva. Vim para o Recife em 2 novembro de 1901 como telegrafista da Estrada de Ferro Central (hoje Great Western) até março de 1906, quando deixei a Estrada, entrei para a Livraria Francesa, à rua 1º de Março nº 9 (esta Livraria acabou e o prédio reformado é hoje uma casa de café e frutas do país)”, diz a carta escrita a punho.
A descoberta emocionou os presentes, que puderam observar de perto os itens que atravessaram gerações. A cápsula estava exposta em uma vitrine semelhante a um cofre de vidro. A peça que armazenava os itens centenários, feita de madeira de cedro, foi aberta em três etapas. A primeira consistiu na retirada dos parafusos, que não eram manipulados há cem anos. Em seguida, a tampa foi removida, até então, não se sabia se ela estava fechada por rosca, lacre ou encaixe.
Por fim, os arames que envolviam a estrutura foram cortados, revelando os objetos. Como não havia espaço suficiente para retirar os itens, foi necessário abrir a cápsula ao meio com um abridor de lata. O evento lotou o auditório e reuniu autoridades, historiadores, jornalistas e admiradores da imprensa pernambucana. A cerimônia foi conduzida pelo presidente do IAHGP, George Cabral, que destacou a importância histórica do Diario como testemunha e protagonista dos grandes acontecimentos do estado e do país ao longo de dois séculos.
Em um ambiente de celebração, Cabral apresentou a cápsula do tempo, que foi aberta diante do público e da imprensa. O público acompanhou o momento com entusiasmo e a redescoberta dos itens, marcados pelo tempo, foi recebida com aplausos. A cerimônia contou com transmissão para quem não conseguiu entrar no auditório, lotado desde cedo, e que também acompanhou o ato histórico da parte externa do prédio.
Entre as autoridades presentes, além do presidente do IAHGP, George Cabral, estavam o presidente do Diario de Pernambuco, Carlos Vital; o superintendente do jornal, Diogo Vital; professor Lourival Holanda, presidente da Academia Pernambucana de Letras; Marcelo Canuto, presidente da Fundação de Cultura da Cidade do Recife e também João Baltar Freire, presidente da CEPE.
O ato contou ainda com representantes do meio acadêmico e de entidades históricas do Estado: Manoel Moraes representou o chefe de gabinete do reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), professor Pedro Gonçalves; Plínio Vitor esteve presente pelo Conselho de Patrimônio do Círculo Histórico de Olinda; e Vanessa Sial representou o Instituto Histórico de Goiana.
O presidente do Diario de Pernambuco, Carlos Frederico Vital, celebrou os 200 anos do jornal e comentou a surpresa e a ansiedade durante a abertura da cápsula centenária. “E esse era o grande momento da minha vida, como advogado e empresário que adquiriu um jornal. E a emoção que sinto é como lembrar de estar na minha casa e ir e ler o Diario de Pernambuco. A foto de Narsson Figueiredo que estava armazenada na cápsula é uma coisa maravilhosa e trouxe uma emoção ainda maior. Imagine as pessoas que tiveram a ideia de fazer isso há 100 anos. Esse momento de abertura da cápsula vai entrar para a história, mas eu acho que a grande história foi eles que construíram”, afirmou o presidente.
Vital também destacou a importância da circulação do jornal impresso como forma de manter viva a tradição do periódico. “Eu acho que o papel nunca vai acabar. As redes sociais e o digital são um caminho que já está com a nova geração. Mas acho que o papel ainda é muito forte”, complementou. O presidente do IAHGP, George Cabral, ressaltou que os itens deixados dentro da cápsula representam o momento vivido pelo Diario há um século.
“Nós encontramos dentro da cápsula um conjunto muito denso de papéis. Então, em um primeiro momento, fomos abrindo esses papéis e identificamos o livro Nordeste, de Gilberto Freyre. Mas, à medida que fomos avançando, apareceram outras coisas, como fotografias e uma carta pessoal. Narsson Figueiredo deixou para a gente um testemunho muito completo do que ele vivia naquele momento”, frisou.
A neta de Narsson Figueiredo agradeceu pela preservação da cápsula e pelo cuidado em celebrar a data histórica. “Para a família, foi de grande importância o Instituto ter preservado o desejo do nosso avô de que houvesse essa abertura. Isso significa que devemos dar importância à história. Narsson acreditava que o Diario ia durar mais 100 anos e teve essa ideia porque era uma pessoa à frente de seu tempo, inteligente, irreverente e com atitudes que sempre nos surpreendiam”, registrou.
Agora, os itens encontrados passarão por um processo de restauro, sob responsabilidade da empresa Arte Sobre Arte Restauro. “Minha grande preocupação era como estava a situação dentro da caixa. Esse é o pensamento do restaurador, porque a gente pensa realmente na durabilidade e no estado de conservação do material”, disse Débora Mendes, conservadora e restauradora.
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