Cápsula do tempo do Diário de Pernambuco será aberta após 100 anos e promete revelar segredos de 1925
A cápsula, uma lata lacrada entregue em 1925 por Narsson Figueiredo, não teve seu conteúdo registrado em ata, o que aumenta o mistério
Publicado: 05/11/2025 às 19:53
capsula, Francisco Silva (Foto: Melissa Fernandes/DP)
O Recife se prepara para um mergulho no tempo nesta sexta-feira (7), quando será aberta a cápsula lacrada em 1925 nas comemorações do centenário do Diario de Pernambuco. O evento, que integra as celebrações dos 200 anos do jornal, promete revelar fragmentos da história guardados por um século no acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP).
De acordo com o presidente do Instituto, George Cabral, o momento é aguardado com grande expectativa por pesquisadores, jornalistas e pelo público em geral. “O público vai vivenciar a solução de uma curiosidade imensa. Essa cápsula do tempo é uma das peças mais queridas do acervo do museu. Quase todos os visitantes que entram no Instituto têm a atenção chamada por ela”, afirma.
A cápsula, uma lata lacrada entregue em 1925 por Narsson Figueiredo, não teve seu conteúdo registrado em ata, o que aumenta o mistério. “Nós provavelmente vamos encontrar lá dentro objetos deixados pelas pessoas da época, talvez um exemplar do jornal, uma carta, moedas... A gente não sabe, é realmente uma surpresa”, revela Cabral.
Para garantir a integridade dos achados, o Instituto contará com o acompanhamento da restauradora Débora Mendes. “Se houver algum documento em situação delicada de conservação, afinal são 100 anos lacrados, ela nos orientará sobre como proceder. Pode haver papéis frágeis, e a abertura será feita com muito cuidado”, explica o presidente.
O fechamento da cápsula ocorreu em um contexto político e social conturbado. O Brasil vivia o final da Primeira República, marcado por crises e movimentos de insatisfação, como o tenentismo. O então presidente Arthur Bernardes enfrentava sucessivas revoltas militares, enquanto o país ainda sentia os reflexos da Coluna Prestes, que cruzava o território nacional em busca de reformas políticas.
Em Pernambuco, o cenário não era menos turbulento. “Havia uma disputa muito grande entre os grupos políticos ligados a Dantas Barreto e Manuel Borba. Para apaziguar o conflito, Sérgio Loreto foi escolhido como um candidato de conciliação ao governo do Estado”, recorda Cabral. O cangaço, por sua vez, ainda se fazia presente nos sertões, compondo um cenário de tensões e contrastes.
A abertura da cápsula, além de resgatar a memória do Diario de Pernambuco, convida à reflexão sobre a transformação do jornalismo ao longo de um século. “Quando a cápsula foi lacrada, há 100 anos, os jornais impressos eram o meio mais forte e rápido de difusão de notícias. O rádio ainda estava começando. De lá para cá, surgiram o rádio, a televisão, a internet... e o jornal continua vivo”, afirma George Cabral.
Para ele, o bicentenário do Diario representa não apenas uma celebração, mas um reencontro com as origens da comunicação pernambucana. “O jornal é um espaço de reflexão e de manifestação de opinião, para além do seu papel informativo. É um formato que acreditamos ainda sobreviverá por muito tempo, aprendendo a conviver com as novas tecnologias”, conclui.