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Economia
Tarifaço

Acionar a OMC foi "ato simbólico" de Lula, diz economista

Na visão do economista, o pedido de consulta do Brasil à OMC pode não surtir um efeito diferente do que já foi alcançado pelo país

Thatiany Lucena

Publicado: 06/08/2025 às 23:02

Nesta quarta-feira (6), o governo federal acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros/ Foto: EVARISTO SA/AFP

Nesta quarta-feira (6), o governo federal acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros ( Foto: EVARISTO SA/AFP)

Com o início do tarifaço, que entrou em vigor nesta quarta-feira (6), o governo brasileiro acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros. De acordo com o economista e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), Edgard Leonardo, a medida é simbólica e deve demorar para ser analisada.

Na visão do economista, o pedido de consulta do Brasil à OMC pode não surtir um efeito diferente do que já foi alcançado pelo país. “É um recurso muito mais simbólico do que prático, inclusive a gente tem solicitação lá parada desde antes da pandemia”, disse.

De acordo com ele, a análise da eventual violação por parte dos Estados Unidos leva um tempo para ser feita, e outra situação que pode atrasar ainda mais essa solicitação é que o órgão provavelmente deverá julgar os outros países sobretaxados que também recorrerem ao órgão.

Negociação

Para Leonardo, o melhor caminho para o país seria buscar o diálogo, algo que não está sendo sinalizado por ambos os lados. Porém, “o Brasil foi muito mais na direção de um embate”, afirma. Segundo ele, ao contrário do posicionamento agressivo do presidente Donald Trump, o Brasil deveria ter tentado se aproximar para negociar. Algo que, na análise dele, não aconteceu e que poderia ter sido iniciado anteriormente, quando a taxa sobre as exportações brasileiras ainda era de 10% e o país "tinha vantagem em relação aos outros países".

O economista destaca também que o Brasil teve o impacto minimizado, com a retirada de quase 700 produtos da tarifa, porque os Estados Unidos sabem que o Brasil é um parceiro relevante: “33% da importação são dentro do mesmo grupo, ou seja, é uma matriz americana importando de uma filial americana. Então, eles sabem que são itens que ele não produz lá". "Essas concessões foram feitas porque o país não quer perder esse parceiro”, disse.

Decisão conjunta com o BRICS

Nesta quarta-feira (6), Lula disse em entrevista à Reuters que quer tomar uma decisão conjunta com o BRICS sobre o tarifaço. Também nesta quarta, o presidente Donald Trump, publicou um decreto impondo a sobretaxa de 25% sobre os produtos da Índia, com o argumento de que o país importa direta ou indiretamente petróleo russo. Com isso, a tarifa aos produtos indianos chega a 50%, mesma taxa que a do Brasil.

Para Leonardo, essa seria uma estratégia ruim, já que o presidente norte-americano tem preferência por negociações bilaterais. “Trump já demonstrou, desde o governo anterior dele, que gosta de negociações bilaterais. Eu entendo que Lula queira isso como estratégia. Ele pode fazer esse aceno aos BRICS, se reunir e procurar saídas enquanto grupo, mas a melhor estratégia é negociar com os Estados Unidos de forma bilateral”, disse.

Segundo ele, pela prática do governo anterior, esse foi o tipo de negociação que deu certo. Leonardo aponta ainda que Trump não abre “brecha” para nenhum grande grupo e que os países que negociaram individualmente o tarifaço com os EUA, incluindo países dos BRICS, conseguiram vantagens comerciais.

 

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