COLUNA

Usos práticos dos NFTs e perspectivas futuras

Publicado em: 09/12/2022 08:00

 (Foto: Freepik / Divulgação)
Foto: Freepik / Divulgação
Na coluna passada falei um pouco sobre como o NFT equivale a uma espécie de certificação de propriedade de um ativo digital e como essa tecnologia poderá impactar as relações sociais, criando toda uma economia criativa conectada globalmente. Mas para não ficar só na teoria, vamos a alguns exemplos de uso prático atual, além de algumas perspectivas futuras.

Talvez o maior uso dos NFTs atualmente se dê no campo das artes. Seja o NFT uma arte digital (uma música, um vídeo, uma ilustração, uma fotografia, etc), ou mesmo um certificado de uma obra física (como uma escultura ou uma pintura), o fato de estar registrado na blockchain faz com que todo tipo de registro histórico de sua propriedade (incluindo ofertas de pagamento, transferências de titularidade, tiragem da obra, etc.) esteja acessível a qualquer um de maneira transparente na plataforma.

Até então, a arte no meio digital não era muito valorizada porque seus arquivos podiam ser livremente copiados, o que elimina por completo o sentido de escassez daquela obra. Com o advento do NFT e a possibilidade de registro de propriedade sobre elas, uma série de experiências de usufruição da arte tradicional passam a ser replicadas no meio digital. Por exemplo, a satisfação e a busca pela distinção social ao se adquirir uma obra de um artista relevante globalmente, ou uma arte cuja tiragem é limitada, ou, ainda, uma música ou um vídeo em NFT de um artista emergente.

Um caso recente que posso citar para ilustrar essa mudança de percepção que vem ocorrendo a partir da evolução dos NFTs foi o lançamento dos primeiros NFTs da artista reconhecida mundialmente Marina Abramovic. “The Hero”, performance clássica originalmente lançada como um filme (2001), foi editada este ano de 2022 quadro a quadro para se tornar uma coleção de milhares de NFTs exclusivos. Uma nova perspectiva da Web 3 enquanto meio de expressão e, ao mesmo tempo, uma inédita possibilidade de um público maior - antes excluído do mercado da arte - ter a possibilidade de ingressar neste mercado.
  
Para o artista se abre também um universo de possibilidades através do uso do NFT. É muito inovador o poder que tem o criador de rastrear as vendas secundárias de suas obras, podendo, inclusive, receber automaticamente percentuais como royalties vinculados a cada venda futura delas. No mercado da arte tradicional, uma das grandes questões do artista é o preço único (e normalmente baixo) que ele recebe pela venda de sua obra a um colecionador ou uma galeria e, tempos depois, quando sua obra se encontra bem mais valorizada no mercado, ela é transacionada a preços estratosféricos sem que ele receba qualquer participação no produto desta venda.

Com a comunicação das redes sociais tão mais ágil nos dias de hoje, a interação entre colecionador e artista também é bem mais próxima e fluida, criando um engajamento orgânico em que os próprios colecionadores ajudam a 'viralizar' os artistas como forma de valorizar seus ativos. 

Além das obras de arte, também podemos citar as coleções PFP (profile pictures) que são imagens para uso em perfis nas redes sociais. O avatar que você usa na web é uma das maneiras mais claras de transmitir a sua identidade no meio digital. E ser dono de um NFT específico de alguma coleção PFP pode ser uma forma bem eficiente de se distinguir no jogo do status social que rege a sociedade. O senso de pertencimento é fundamental nas relações e a sensação de fazer parte de um grupo seleto, seja ele qual for, gera satisfação se o motivo do vínculo for verdadeiro. 

Pode ser uma comunidade que luta por uma boa causa, que se reúne em volta de uma mesma afinidade, ou mesmo apenas uma forma de destaque social, como os já famosos Bored Apes. Afinal os donos destes NFTs pertencem a um grupo seleto formado por celebridades como Neymar, Justin Bieber, Madonna, Snoop Dogg, Jimmy Fallon, entre outros.

NFTs podem funcionar também como um clube VIP. Quem tem posse de um NFT específico ganha benefícios, que podem vir por meio digital e também na vida real. Um exemplo bem interessante se deu na última turnê do Milton Nascimento. O show que abriu a turnê "A Última Sessão de Música" foi uma apresentação restrita a amigos próximos e àqueles que adquiriram o NFT. Além do benefício máximo de ver um show intimista do artista, pelo fato de estar registrado na blockchain, o NFT ainda existe como ativo digital e eventualmente pode até ser vendido futuramente como um item raro, vai saber.

Mais uma forma muito popular já atualmente são os ativos comprados dentro dos games. Skins, jogadores, equipamentos e experiências dentro dos jogos podem ser adquiridos e vendidos futuramente, afinal, os ativos em NFT passam a ser do usuário, e não necessariamente das plataformas.

Ainda há muito a ser explorado. Títulos e registros de bens, que hoje passam por órgãos centralizados, poderão ser registrados em blockchain dando mais celeridade e transparência nas transações. Certificados e diplomas também poderiam ser facilmente acessados caso tivessem seus registros em blockchain. As possibilidades são infinitas e dentre elas, uma especificamente me gera cada vez mais interesse: como a tecnologia NFT pode somar nas ações de impacto social. 
Pretendo me estender mais nesse tema nas próximas colunas. 

Dúvidas e críticas, fique à vontade para escrever: diarioweb3@diariodepernambuco.com.br

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