COLUNA

As carteiras digitais e a descentralização na prática

Publicado em: 23/12/2022 07:46

 (Foto: Pexels / Divulgação)
Foto: Pexels / Divulgação
Muito já foi falado nesta coluna sobre o termo 'descentralização' e como a tecnologia Blockchain traz ao mundo novos modelos de interação social que não necessitam de agentes centralizados. 

Mas, na prática, como isso funciona? Para alcançar um maior entendimento, vale a pena fazer um paralelo com o que existe nos dias de hoje. Comecemos pelas transações financeiras. 

Desde que me conheço por gente, é tarefa dos bancos a custódia do nosso dinheiro. Por motivos de segurança, são poucos os aventureiros que guardam suas economias embaixo do colchão. A humanidade se acostumou tanto com a ideia de transferir essa responsabilidade para os bancos que, além de prestar esse serviço de custódia, esses bancos passaram também a servir como prova de confiança para a sociedade de uma forma geral. Não basta só guardar o dinheiro no banco, nós também confiamos nele para fazer qualquer movimentação em nosso nome. Ou seja, não só usamos o cofre, mas abrimos mão da posse de suas chaves. A dependência chega ao ponto de termos que seguir certas regras para movimentar nosso próprio dinheiro. Restrições de horário, limites de valor são apenas algumas.

De maneira alguma quero com isso demonizar a figura do banco. Só tenho a intenção de demonstrar uma relação de confiança que gira em torno de uma figura centralizadora. As transações entre as pessoas, em sua maioria absoluta, são feitas através dos bancos, com ambos os lados assumindo uma confiança inerente à transação que o próprio banco provê.

Já no ecossistema cripto, a ideia é que a custódia de suas criptomoedas, NFTs e qualquer outro item digital baseado na blockchain passa a ser própria, ou seja, as pessoas são responsáveis pelos seus próprios ativos. E a partir disso, as transações podem ser feitas de pessoas para pessoas, sem necessidade dos bancos dando a prova de confiança. 

É como se voltássemos à dinâmica do dinheiro físico embaixo do colchão, só que ao invés de guardar as cédulas e moedas físicas, guardamos dinheiro digital e ao invés de colchão, temos as carteiras digitais. E quem dá a prova de confiança das transações nesse caso é a própria blockchain e os contratos inteligentes.

E como funcionam as carteiras digitais? Elas podem ser hot wallets (ou carteiras 'quentes'), que significa que elas estão conectadas com a internet ou cold wallets (carteiras 'frias'), que não estão conectadas a internet. As hot wallets são mais práticas, em forma de aplicativos web/desktop/mobile, mas por estarem conectadas a grande rede, são mais vulneráveis a ataques. Já as carteiras frias são dispositivos similares a um pendrive, e por não terem acesso direto a rede, são mais seguras, apesar de pouco práticas. O objetivo nos dois casos é o mesmo. Custodiar seus próprios ativos ao invés de fazer uso de bancos para isso. 

Mas é muito importante também levar em conta os desafios que este modelo traz. No modelo atual, se você perde acesso a sua conta, perde uma senha ou esquece o nome do usuário, tudo isso pode ser resolvido via banco. É responsabilidade dele o acesso e suporte à ferramenta e também o dever de guardar os seus ativos em segurança. Já no caso de uma carteira digital, isso não existe. Você é dono de seus dados e é de sua própria responsabilidade guardar suas chaves. De modo que se você perdê-las ou alguém roubá-las, não há nenhuma instituição que possa reverter isso.

Pensando nisso, para muitos a opção de deixar suas criptos sob custódia da própria corretora que você comprou seus ativos pode ser atrativa. Mas nesse caso, a falta de regulação também pode pesar contra, afinal não são poucos os casos da história das criptomoedas que uma corretora faliu por mal gerenciamento de seu tesouro e deixou seus clientes sem seus ativos.

A descentralização como conceito é uma tendência global e sua adoção vai acelerar ao longo dos próximos anos, mas como exatamente se dará sua aplicação nas dinâmicas sociais ainda é uma incógnita. Penso que haverá espaço para as pessoas que desejam custodiar seus próprios ativos em suas carteiras digitais, e para aqueles que preferem delegar essa responsabilidade para terceiros. Vantagens e desvantagens existem e existirão em ambos os casos. O importante é observar o que melhor se encaixa no próprio perfil e seguir em frente.

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