Editorial A América caminha para trás

Publicado em: 05/07/2018 03:00 Atualizado em: 05/07/2018 10:23

O mundo seria muito melhor se a cor da pele, a origem das pessoas, os hábitos, os costumes, a orientação sexual, a prática religiosa e tantos outros elementos que compõem a individualidade e caracterizam a diversidade cultural não fossem elementos de discórdia, preconceito, discriminação e motivo para ações extremistas, como os conflitos bélicos. Felizmente, parte das sociedades está engajada no processo de respeito às diferenças. Mas ainda existem os que buscam tornar o que é ruim muito pior. Um desses personagens é o republicano Donald Trump, presidente do Estados Unidos.

Um dia após a Lei de Direitos Civis, que rompeu com a segregação étnico-racial, completar 54 anos, ele recomendou, na terça-feira, que as instituições de ensino norte-americanas desconsiderem a origem étnica dos estudantes, revertendo a política de cotas, implantada pelo seu antecessor, Barack Obama, o primeiro negro a comandar a maior potência do planeta. Para o governo Trump, a partir de agora, a diversidade étnica não existe. Abre-se caminho para a descontrução do legado ancestral de cada indivíduo. Rejeita-se a contribuição histórica de cada raça ao desenvolvimento social e econômico do país. Pela lógica do republicano, tais elementos devem ser ignorados para a admissão de crianças e jovens nas unidades de ensino primárias e secundárias.

A medida mereceria aplausos se não fossem os Estados Unidos um país belicista, onde todos podem ter armas e as chacinas ocorrem em série. A população negra, historicamente, é alvo da intolerâncias dos defensores da supremacia branca, como a Ku Klux Klan, e das forças policiais. As tensões raciais, provocadas pelas execuções de negros durante o governo Obama, não arrefeceram com a eleição do republicano. Ante a decisão de Trump, a tendência é de recrudescimento da violência segracionista.

Em menos de dois anos de governo, Trump tem se destacado pelas políticas de retrocessos. Entre eles, a retirada dos Estados do Unidos do Acordo de Paris, apoiado por mais de 150 nações, para enfrentar o aquecimento global, o que exige de todos iniciativas voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa. Para Trump, não passam de balela os estudos científicos que associam os eventos climáticos extremos ao aumento da temperatura da Terra. Ele se colocou, frontalmente, contra qualquer política de controle de venda de armamentos no território norte-americano.

A xenofobia do republicano o levou a editar uma das mais agressivas políticas de migração. Separou pais e filhos e colocou crianças dentro de jaulas como se fossem animais. A “tolerância zero” pune criminalmente os clandestinos que são, sumariamente, confinados em penitenciárias federais. As reações internas e as críticas no estrangeiro foram muitas contra a decisão dos EUA. Mas, para Trump, isso é o que menos importa. A intenção é garantir a união e a fidelidade da extrema direita nas eleições legislativas de novembro próximo.

O presidente norte-americano age na contramão do seu lema de campanha “America first” (América em primeiro lugar), a fim de garantir o bem-estar da sociedade americana. Segue obstinado por derreter todas as iniciativas humanitárias e diplomáticas promovidas pelo democrata Barack Obama, como se esse fosse o caminho mais adequado à construção de uma sociedade melhor. Hoje, aos olhos do mundo, a América caminha para trás, tendo Trump como timoneiro.

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