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Dia Nacional do Forró: documentário destaca o papel das mulheres na consolidação do gênero musical

O documentário "A História das Mulheres no Forró" já está disponível no Youtube e conta a trajetória de forrozeiras,como Anastácia, Terezinha do Acordeon, Tereza Accioly e Rita de Cássia.

Camila Estephania

Publicado: 13/12/2025 às 06:00

Com mais de 600 composições escritas, a pernambucana Anastácia é uma autoras mais importantes da história do forró. /Nando Chiappetta/Arquivo DP

Com mais de 600 composições escritas, a pernambucana Anastácia é uma autoras mais importantes da história do forró. (Nando Chiappetta/Arquivo DP)

Luiz Gonzaga já vivia fora de Exu há mais de dez anos, quando gravou o seu primeiro compacto em 1941 com músicas instrumentais como “Vira e Mexe” e “Véspera de São João”. O projeto de tocar o Nordeste estava claro, mas a princípio encontrou resistência entre os produtores do Rio de Janeiro, onde o Mestre Lua já estava radicado na época. Com persistência, o sanfoneiro conseguiu emplacar a cultura nordestina na Era de Ouro da rádio e, dentro de alguns anos, tornou-se o maior fenômeno pop da época.

Em 1950, o sanfoneiro já era conhecido como o “Rei do Baião”, sendo fundamental para a consolidação do forró enquanto gênero musical. Por isso, neste sábado (13), quando é comemorado o aniversário de Gonzaga, convencionou-se celebrar também o Dia Nacional do Forró. Porém, a data serve não só para reverenciar o pernambucano, como também para lembrar de outros nomes fundamentais para o estilo.

É o que faz o documentário “A História das Mulheres no Forró”, disponível no Youtube e realizado pelo pesquisador Igor Marques, que comanda a página Igoarias Musicais. Motivado pelo desejo de reverter o apagamento das referências femininas no forró, Marques traz à tona o papel de diversas mulheres que contribuíram para a construção do gênero musical, sendo até mesmo pioneiras no segmento.

Um dos casos ilustrados pelo material é o da recifense Stefana de Macêdo, que gravou a canção “Estrela D’Alva” em um compacto de 7 polegadas em 1930, dando origem ao primeiro registro de uma música rotulada como “baião”. Além de ter feito o trabalho onze anos antes de Gonzaga lançar seu primeiro compacto, a cantora também rompeu com o canto lírico e teria ajudado a formatar o canto popular, com sotaque pernambucano, ainda incomum para o mercado fonográfico da época.

Outro exemplo curioso é o da japonesa Ikuta Keiko, que foi a primeira a internacionalizar o forró com interpretações em japonês de “Baião de Dois” e “Paraíba”, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, em gravações de 1951. Dos primórdios da cena até os dias de hoje, o documentário engloba quase cem anos de produções femininas, destacando mais de 110 nomes.

O recorte chega até a sanfoneira Karol Maciel, a estrela do piseiro Talita Mel e a cantora Joyce Alane, que despontam na cena contemporânea. Outros nomes consolidados há mais tempo também ganham espaço, como Terezinha do Acordeon e Tereza Accioly, que hoje é presidente da Sociedade dos Forrozeiros Pé-de-Serra e figura-chave na preservação do gênero.

Compositoras relevantes, como Anastácia, também são ressaltadas pelo documentário. A pernambucana tem mais de 600 composições já gravadas, várias delas, como “Eu só quero um Xodó”, em parceria com Dominguinhos, tornaram-se clássicos da música brasileira. A lista segue com a paraibana Cecéu, que compôs para nomes como Luiz Gonzaga, Gal Costa, Alcione, Trio Nordestino e Ivete Sangalo; Glória Gadelha, parceira de Sivuca em “Feira de Mangaio” e em tantas outras canções; e a cearense Rita de Cássia, que emplacou vários dos maiores sucessos da Mastruz com Leite e demais bandas do forró eletrônico dos anos 1990.

Segundo Marques, o próprio Gonzaga também buscou reconhecer o trabalho de várias mulheres no forró ainda décadas atrás. “Marinês iniciou a carreira cantando com ele, Anastácia seguia em turnê com ele e Dominguinhos - fazendo desde o gerenciamento do dinheiro até a divulgação nos rádios. Ele também presenteou uma cavaquinista cearense, a Luzirene do Cavaquinho. Viajou à Paris pela primeira vez graças à Nazaré Pereira, forrozeira do Pará. Deu o título de rainha do baião à Carmélia Alves, e o de Rainha do Forró para Joana Angélica”, lista.

“Uma história de resiliência, né? São muitas décadas de história delas alargando as poucas brechas do mercado para as gerações seguintes”, comenta Marques. O pesquisador também destaca a atuação de Dona Joana Alves para a transformação do forró em Patrimônio Cultural pelo Iphan, depois de décadas capitaneando formações em políticas públicas para o gênero musical.

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