° / °
Viver
Cinema

Jennifer Lawrence dá à luz as pressões extremas da maternidade no filme ‘Morra, Amor’

Em Morra, Amor, já em cartaz nos cinemas do Recife, Jennifer Lawrence retorna às pressões extremas da maternidade, mas de forma drasticamente diferente

Andre Guerra

Publicado: 01/12/2025 às 13:11

Jennifer Lawrence/Mubi/Divulgação

Jennifer Lawrence (Mubi/Divulgação)

Algo está muito errado com a escritora Grace (vivida por Jennifer Lawrence). Desde que se mudou com seu marido, Jackson (Robert Pattinson), para uma casa de campo isolada e começou a criar o filho recém-nascido, ela parece ter entrado em uma espiral de depressão e autodestruição. As discussões do casal crescem exponencialmente, enquanto os sinais de que algo terrível está para acontecer são percebidos até nos sons da natureza ao seu redor. 

Em Morra, Amor, já em cartaz nos cinemas do Recife, a cineasta Lynne Ramsay (dos igualmente desconfortáveis Precisamos Falar sobre Kevin e Você Nunca Esteve Realmente Aqui) adapta o livro homônimo da autora argentina Ariana Harwicz, publicado em 2012. Narrada pela perspectiva da personagem principal, a obra original era carregada da subjetividade de uma mulher entrando em colapso — ideia transformada agora na tela em um redemoinho sensorial de energia vulcânica. 

Jennifer Lawrence venceu o Oscar de Melhor Atriz com apenas 21 anos por O Lado Bom da Vida, em 2013. Em 2017, ela se lançou no mais desafiador papel de sua carreira com o altamente controverso Mãe!, trabalho que, aliado à necessidade de se voltar para sua vida pessoal, levou a atriz a um longo período fora de sets, com apenas alguns papéis leves e esporádicos ao longo desses oito anos. Agora, com Morra, Amor, a atriz retorna às pressões extremas da maternidade, mas de forma drasticamente diferente: se no filme de Darren Aronofsky ela era o alvo da brutalidade, a sua presença é aqui corpo ativo da violência. 

Com toda a encenação de Lynne Ramsay apoiada no seu magnetismo, Jennifer Lawrence se joga sem qualquer rede de segurança e com toda a fisicalidade que consegue no papel de Grace. O humor ácido contraposto a um olhar cada vez mais distante da atriz mantém o espectador preso à narrativa durante quase toda a projeção, ainda que o roteiro não demore a dar indícios de esgarçamento.
Pouco é explorado sobre os coadjuvantes, como a sogra (vivida pela veterana Sissy Spacek) e o vizinho (Lakeith Stanfield). O que importa à narrativa são os surtos da protagonista em uma jornada irrefreável de rejeição ao papel que lhe foi desenhado. Para sustentar essa experiência sensorial, contudo, o texto precisaria de uma progressão narrativa que saísse desse caos mental recreativo. 

O norte de Morra, Amor é claramente o clássico Uma Mulher sob Influência, de John Cassavetes, mas o resultado carece justamente do desenvolvimento dramático que ultrapasse da superfície do tema. No centro gravitacional de tudo, Jennifer Lawrence vai longe — o filme que gira em torno dela, no entanto, termina não muito longe de onde começou.

Mais de Viver

Últimas

WhatsApp DP

Mais Lidas

WhatsApp DP

X