Ilustrador pernambucano Rodrigo Fischer une memória afetiva e cultura pop em mais de 20 livros infantis
Com mais de 20 livros publicados, artista pernambucano Rodrigo Fischer defende que ilustração deve ampliar sentidos do texto e não apenas repeti-lo
Publicado: 10/11/2025 às 04:00
Ilustrador pernambucano Rodrigo Fischer (Foto: Divulgação)
Há um fio invisível que conecta as memórias de infância aos caminhos que percorremos na vida adulta. Para Rodrigo Fischer, esse fio é feito de traços. Para Rodrigo Fischer, esse fio é, antes de tudo, feito de traços. Primeiro, os dos gibis que devorava nos anos 1980 e 1990 e, depois, os dos livros ilustrados que descobriu já crescido, entre as estantes da Biblioteca Comunitária Peró, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes. Há dez anos, o escritor e ilustrador pernambucano usa esses fios para tecer mundos em livros infantis, como no recém-lançado O País Perfeito, obra que ele escreveu e coloriu com suas próprias mãos.
A trajetória de Fischer é marcada por idas e vindas, como um personagem em busca de seu próprio enredo. Desenhou na infância, parou na adolescência, formou-se em Letras, tornou-se professor, quase concluiu Artes Visuais. A vida o levou por caminhos que pareciam afastá-lo do desenho, até que o acaso - ou talvez o destino - o colocou como mediador de leitura naquela biblioteca comunitária. Entre livros coloridos e pequenos leitores, aconteceu o reencontro: "Me apaixonei, porque percebi que não preciso tratar a criança de forma infantilóide”, recorda em conversa com o Viver.
A epifania coincidiu com a abertura da Usina de Imagens, primeira escola de ilustradores do Brasil, fundada pela autora pernambucana Rosa Queiroz, a quem Fischer carinhosamente chama de Rosinha. Ali, ele embarcou na jornada de quatro anos de aprendizado que mudaria seu rumo profissional. “Me ensinaram tudo sobre o universo literário e além”, diz. Hoje, menos de uma década depois, Fischer acumula mais de vinte livros no currículo, além de parcerias consolidadas com Companhia das Letrinhas e Elefante Letrado.
Mais recentemente, o ilustrador passou a também escrever. Em O País Perfeito, seu primeiro trabalho como autor integral, ele une palavras e imagens para falar de utopia, sonho e resistência. “Eu produzo ilustrações que contribuam para a ampliação do significado do texto, e não o reduzam”, destaca. A bibliografia do autor não para de crescer. Em dezembro, chega às livrarias O Livro do Meio, pela Leiturinha, desenvolvido para as mãozinhas curiosas dos bebês, com capa dura e páginas resistentes que convidam à exploração sensorial.
Virar a página de um título ilustrado por Fischer é como abrir uma porta secreta. O texto guia por um caminho, mas suas ilustrações revelam atalhos, paisagens alternativas e personagens inesperados, como Jaspion, que aparece em um trecho de Ótimo, Timóteo, no qual se menciona apenas um senhor ajudando a salvar o cão de uma criança, mas cuja ilustração amplia a perspectiva da menina, que o enxerga como um verdadeiro herói. “Algum adulto vai reconhecer o personagem e, assim, ampliar o repertório da criança”, explica.
Como educador que nunca deixou de ser, o autor vê a literatura infantil como ferramenta essencial para o desenvolvimento do pensamento crítico. "Posso desafiá-la, conduzi-la por caminhos mais críticos, até políticos. Não partidários, óbvio, mas com discussões sociais". No final, Rodrigo Fischer continua sendo aquela criança que descobriu nos gibis a magia das histórias. A diferença é que agora, adulto, ele devolve à infância – sua e das crianças que leem seus livros — o encantamento que um dia recebeu.