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Pitombeira relança camisa vestida por Wagner Moura em O Agente Secreto; conheça a história

A partir desta sexta-feira (6), a Pitombeira dos Quatros Cantos vende exemplares da camisa de 1978, vestida por Wagner Moura em "O Agente Secreto".

Camila Estephania

Publicado: 07/11/2025 às 11:55

Wagner Moura vive o pernambucano Marcelo, em

Wagner Moura vive o pernambucano Marcelo, em "O Agente Secreto". A trama se passa no Recife, no período de carnaval, em 1977. (Reprodução)

Quem poderia imaginar que Wagner Moura um dia vestiria a camisa da Pitombeira dos Quatro Cantos como qualquer folião pernambucano? O diretor recifense Kleber Mendonça Filho não só pensou nisso, como transformou a cena em realidade no filme “O Agente Secreto”. A peça vestida pelo ator é uma reprodução de um modelo comercializado pelo clube carnavalesco nos anos de 1970 e agora pode ser parte do guarda-roupa de cinéfilos e admiradores contemporâneos da folia olindense.

Com a estreia do filme em circuito comercial na quinta (6), a Pitombeira anunciou que irá vender exemplares do modelo a partir desta sexta-feira (7). “Ficamos muito felizes não só pelo reconhecimento, mas também porque acreditamos que pode ser mais uma fonte de receita para o carnaval do ano que vem”, comenta Hermes Neto, presidente da agremiação.

O carnavalesco lembra que o modelo é do carnaval de 1978, ano em que a Pitombeira fez um de seus desfiles mais glamourosos custeada, justamente, pelas vendas volumosas das camisas. “Nessa época, o desfilante que vendesse mais bonés e camisas saía com a fantasia mais luxuosa. Por isso, havia uma competição entre os próprios desfilantes para vender mais”, explica o motivo por trás da alta demanda.

Com o sucesso do filme e interesse dos espectadores, Hermes tem a expectativa de que a Pitombeira possa fazer um carnaval maior em 2026, mas acredita que a folia da Marim dos Caetés pode crescer como um todo. “É um reconhecimento não só para a gente, mas também para o frevo. Espero que, através da Pitombeira, todas as agremiações se sintam prestigiadas ali, como um reconhecimento do carnaval olindense”, comenta.

A atriz carioca Isadora Ruppert, que também atua no longa-metragem, é um exemplo do fascínio que o filme pode despertar em relação ao carnaval do estado. Em entrevista concedida à revista Rolling Stone neste mês, ela declarou que a camisa da Pitombeira seria o único acessório de época do filme que escolheria para usar hoje.

A história por trás da camisa

Segundo Hermes, originalmente a camisa era branca, tinha o escudo pintado de amarelo e, acima dele, o nome da Pitombeira e ano de 1978 tingidos de preto. Em 2020, o modelo foi reeditado pela primeira vez, apenas em amarelo e preto, que são as cores tradicionais do bloco. Esse último protótipo teria servido de referência para o figurino de “O Agente Secreto”, que apenas apagou o ano da peça, já que o filme se passa em 1977.

Os relatos dos jornais da época contam que a popularidade do clube carnavalesco em 1978, e consequentemente da camisa, está intrinsecamente ligada ao sucesso da folia olindense em 1977. Naquele ano, o prefeito Germano Coelho assumiu a gestão da cidade em meio a uma grande crise e anunciou que não teria verba para investir no carnaval, convocando à própria população e agremiações para contribuir com a programação e decoração das ruas.

O que era crise se transformou em grande sucesso: “Carnaval sem palanque, sem concurso, sem oficialização, estritamente carnaval festa do povo”, elogiou a edição do Diario, em 24 de fevereiro de 1977. Com o engajamento da população, cerca de 50 mil pessoas acompanharam a Pitombeira naquele ano. A repercussão foi tão positiva que, no ano seguinte, o número cresceu para 200 mil foliões atrás do bloco.

“É assim o carnaval participação de Olinda, um expressivo exemplo de festa democrática feita pelo povo e vivida pelo povo. Festa popular, festa de união de todos, festa de confraternização de todas as Olindas”, disse o leitor Barreto Guimarães, em texto publicado na seção de Opinião do Diario, em fevereiro de 1978.

A descrição contrastava com o modelo de “carnaval-espetáculo” que vinha sendo adotado pelo Recife na época, quando as agremiações se apresentavam em uma passarela, separada do público. As críticas a esse formato cresceram especialmente com a instauração da Ditadura Militar, em 1964, quando a população passou a reivindicar progressivamente o direito à ocupação do espaço público como forma de resistência.

Nesse contexto, vestir a camisa da Pitombeira poderia significar mais do que simplesmente adorar um bloco. Tratava-se de apoiar o carnaval de rua enquanto movimento democrático popular.

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