Ícone do teatro pernambucano, Augusta Ferraz chega à TV em 'Guerreiros do Sol''
Reconhecida como uma das grandes atrizes do teatro pernambucano, Augusta Ferraz estreia nas novelas vivendo Berenice em Guerreiros do Sol, produção do Globoplay.
Publicado: 15/07/2025 às 04:00

Augusta Ferraz no teatro Santa Isabel para o Giro. 08/07/2025 (Marina Torres)
Na língua portuguesa, Augusta Ferraz é um substantivo próprio. Mas, no vocabulário do teatro pernambucano, é o próprio ato de criar, emocionar e resistir. Atriz de alma e de ofício, ela acumula mais de 50 anos de trajetória que, por si só, compõem um capítulo essencial na dramaturgia do estado. Mas, somente há um mês, expandiu seu talento para a televisão, estreando nas novelas como Dona Berenice, a mãe dedicada de Rosa (Isadora Cruz) e Otília (Alice Carvalho) em Guerreiros do Sol, de George Moura e Sérgio Goldenberg, disponível no Globoplay.
Em meio aos preparativos para Sobre os Ombros de Bárbara, seu novo espetáculo que estreia em novembro no Teatro de Santa Isabel, Augusta recebeu a equipe do Viver para uma conversa franca. “Nunca imaginei que isso fosse acontecer”, admite ela, quando o assunto é seu debut na TV. O desejo, porém, sempre esteve ali, à espera do momento certo. “Foi uma experiência fabulosa. Mas eu quero mais”, completa, já pensando em novos projetos para as telinhas.
Para construir Berenice, a atriz pensou em uma mulher cuja ternura e delicadeza permaneciam intactas no olho do furacão da corrupção. “Não quis criar uma cangaceira, nem uma mulher de arroubos explosivos. Os arroubos que ela tem são muito contidos, muito precisos. Ela não grita. Sua força está em uma condução diferente, mais centrada e específica”, destaca.
Na vida real, longe dos refletores, a exigência é por vozes mais altas. Militante das causas artísticas desde sempre, Augusta Ferraz ajudou a construir as trincheiras da cultura pernambucana, como a Federação de Teatro de Pernambuco (Feteape). “Ser atriz e militante é algo que me faz sentir viva. Sinto que é meu dever me posicionar, observar, comentar, especialmente sobre a política cultural da cidade”, explica a artista, que vê os mesmos desafios retornarem. “Os espetáculos seguem entrando nos teatros da cidade sem iluminação adequada, sem sonorização mínima. E isso compromete a potência das obras”, lamenta.
Mas se há algo que Augusta nunca fez foi recuar. Em Jesus Cristo Superstar, sua primeira experiência cênica, ela seguiu no palco mesmo depois de um prego perfurar a sua mão. “Naquele instante, senti um nível de energia e controle sobre mim mesma que me fez entender o que era um estado de atuação. Dentro daquela história, daquela vivência, eu comandava o meu destino”, relembra. A partir dali, ela levou essa força para mais de 70 produções, incluindo A Mais Forte, de August Strindberg, e Malassombro, de Ronaldo Correia de Brito, grandes momentos de sua carreira.
“Satisfeita? Nunca. Eu vou ser enterrada gritando em pé”, afirma Augusta Ferraz, citando Dercy Gonçalves, a quem ainda promete homenagear nos palcos. “Quero curtir, amar, fazer, experimentar até o meu último suspiro e a falência da minha libertação”, vibra a atriz. Se depender dela, haverá sempre uma cena por vir, uma personagem por nascer, uma causa por lutar. Sorte do teatro. Sorte do público. Sorte da vida.

