Concessão da orla do Recife: comerciantes do Mercado do Peixe apreensivos com mudanças do novo projeto
Projeto de concessão da Orla Parque, na Zona Sul do Recife, à iniciativa privada prevê novo Mercado do Peixe, entre os bairros do Pina e Brasília Teimosa
Publicado: 15/12/2025 às 07:25
Jaqueline Silva, proprietária de um boxes do mercado (Marina Torres/DP Foto)
O projeto de concessão da orla do Recife à iniciativa privada prevê a construção de um novo Mercado do Peixe, entre os bairros do Pina e Brasília Teimosa, na Zona Sul. O anúncio da iniciativa, no entanto, tem causado apreensão entre os comerciantes e pescadores ocupantes do mercado que já existe no local que receberá o novo equipamento.
Eles temem que a concessão não garanta espaço para todos na nova estrutura, encareça as condições de permanência no local e altere a dinâmica da clientela. De acordo com a Prefeitura do Recife, essas informações só poderão ser dadas após o processo de licitação da concessão da Orla Parque, que passará a administração de 11 km de orla para a iniciativa privada por 25 anos.
“Atualmente, a gente não paga nada para trabalhar aqui. A gente tem medo de o produto se tornar mais caro, fazendo a clientela cair. Às vezes, o espaço fica lindo depois da obra, mas o cliente vai embora”, afirma Diego Albuquerque, um dos 12 comerciantes que trabalham no local.
Para discutir o projeto de concessão a prefeitura realizou consulta pública entre os dias 23 de dezembro de 2024 e 22 de janeiro de 2025, além de uma audiência pública no dia 7 de janeiro deste ano. “Não fiquei sabendo. Soube só de uma reunião aqui na praia, porque me ligaram e fui correndo”, lamenta Diego.
O comerciante conta que trabalha no mercado desde os 10 anos de idade, quando chegou ao local acompanhado do pai, de quem herdou o ponto. O local foi ocupado de forma comunitária, por peixeiros que atuavam em bancas na orla do Pina.
Em 1983, o mercado foi assumido pela prefeitura, que o reformou em 1990.
“A gente não tem banheiros, nem estrutura boa. Reformei meu box com um piso novo, porque corria água para nosso lado. Ninguém gosta de comprar comida em um local sujo”, comenta Jaqueline Silva, proprietária de um dos pontos.
Com os cortes e a circulação recorrente de pescados, os comerciantes precisam despejar frequentemente água nas bancadas e no piso do mercado. Assim, o chão fica frequentemente empossado, sobretudo nas áreas sem calçamento. “A gente quer que o mercado seja bonito e organizado. Para a gente continuar aqui”, diz Jaqueline.
Projeto
De acordo com o projeto de concessão apresentado pela prefeitura, o Mercado do Peixe terá "grande porte" e será elaborado para se transformar em um novo pólo cultural do Recife, "permitindo a integração dos usuários com a frente de água".
Para o equipamento, estão previstos uma praça de apresentação, 18 boxes de conveniência, 13 boxes gastronômicos e uma área de alimentação com terraço sombreado. A nova estrutura também contará com uma área técnica e parte administrativa de almoxarifado e vestiário, além de área de estacionamento.
Liderança da comunidade de Brasília Teimosa, Marcelo Pirrita se engajou nos momentos de discussão sobre o projeto, mas demonstra preocupação com a permanência dos atuais comerciantes no futuro estabelecimento. “Tem histórias de vida no entorno desse mercado, gente que cresceu trabalhando aqui. As pessoas que sempre sobreviveram daqui precisam ser beneficiadas com os futuros quiosques que vão existir no mercado”, afirma Marcelo.
O líder comunitário também demonstra preocupação com um eventual período de obras do novo equipamento. “Precisamos saber se haverá um novo ponto de trabalho nesse período. As pessoas não podem parar de trabalhar, são famílias que dependem dessa renda”, destaca.
Após a realização da consulta pública, a prefeitura encaminhou o projeto de concessão ao Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE). Procurado pelo Diario de Pernambuco, o órgão informou que enviou recomendações à Secretaria de Projetos Especiais do município e aguarda a versão revisada do projeto.
Não há prazo determinado para conclusão da análise do TCE-PE. Apenas após essa fase, o projeto será encaminhado para licitação.