Estado tem média diária de mais de 3 casos de agressão a motoristas de ônibus: "Reagi a tempo"
De acordo com dados do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco (Sintro-PE), em 10 meses de 2025, número já supera o número de agressões verbais e físicas contra condutores de ônibus registrado em todo o ano passado
Publicado: 27/10/2025 às 14:11
Passageiro assume direção de ônibus após motorista deixar veículo (Foto: Reprodução/Instagram)
A violência contra os motoristas de ônibus acendeu um alerta no estado. Episódios recentes mostraram os riscos que a categoria corre por causa de agressões físicas e verbais.
Em quase 10 meses de 2025, 1.075 casos de assalto e agressão a rodoviários ocorridos no estado foram notificados ao Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco (Sinstro-PE).
A média diária é de 3,5 casos de agressões.
Na semana passada, um motorista foi xingado e deixou o veículo na rua, fazendo com que um passageiro levasse o veículo até o terminal da Macaxeira, na Zona Norte. Outro levou um golpe chamado de "voadora" de um ciclista.
A pedido do Diario, o sindicato revelou também que foram registrados 237 afastamentos em decorrência de situações violentas este ano.
Os números superam o total contabilizado em 2024, quando 935 casos de violência física ou verbal foram apurados, com 187 afastamentos de profissionais.
O Diario de Pernambuco conversou com um motorista de ônibus que trabalha há 10 anos no volante.
O trabalhador, que preferiu não ser identificado, conta que a violência faz parte do dia a dia de quem trabalha conduzindo coletivos.
“O principal incômodo (na profissão), é a falta de segurança, impunidade ao vandalismo, e reconhecimento do motorista que transporta vidas”.
O motorista compartilhou que sente falta de respeito por parte de muitos passageiros.
“O sentimento é de falta de reconhecimento do profissional, tanto na parte financeira quanto na por parte, dos usuários que não têm o mínimo respeito pelo profissional que está arriscando a vida dele, para que os usuários possam voltar para sua casa em segurança. Infelizmente, a maioria dos usuários não entende, acha que o motorista está ali por diversão, sem ter a mínima noção que o motorista tem que estar bem de saúde mental para ele transportar todos com segurança. Se ele estiver com o nível de estresse muito alto por conta de xingamentos ou outro tipo de agressão, ele pode a qualquer momento ter um infarto e parar ali mesmo, e a vida de todo mundo ali dentro do trasporte vai para o espaço. Situação de agressão verbal sempre aparece, mas a gente evita o conflito e segue viagem. Já passei por várias situações, mas eu reagi levantando da cadeira para evitar que o agressor chegasse perto de mim. Não tenho uma quantidade exata, mais é muito frequente no nosso cotidiano.”.
Insegurança
O trabalhador relatou a insegurança que sente no exercício da profissão, e que já vivenciou várias situações de violência.
“Já sofri agressões várias vezes, tanto verbal como física. Só não apanhei porque reagi a tempo para não deixar o agressor chegar perto de mim. Não existe segurança para o motorista de ônibus, é a gente e Deus, principalmente tarde da noite, a gente se depara com bandidos, usuários de drogas e agressores no percurso, a gente só tem a escolha de nos defender sozinhos mesmo com Deus e só”.
Ação das empresas
O entrevistado destacou que as empresas não protegem os motoristas vítimas de agressões. “A empresa se resguarda com o B.O feito pelo motorista tanto pelo vandalismo sofrido, quanto a agressão física, para não se envolver com nada que possa causar prejuízos para empresa, independente se o funcionário está certo ou errado, é mais fácil ela punir do que ajudar o funcionário”.
Ele também apontou que ações de conscientização para a população poderiam ajudar a compreensão dos usuários. “Eu acho que deveriam existir ações de conscientização para os usuários e a população em geral para a valorização do profissional que transporta a vida deles e que colocar a vida em risco para levar o usuário com segurança para casa”.
O que diz a Urbana
Em resposta ao Diario de Pernambuco, a Urbana-PE afirmou que não possui nenhum registro de violência contra motoristas de ônibus.