Preso disparou mandado de prisão falso contra Felca, mostra investigação
Segundo o documento, o pedido de prisão contra Felca foi fraudado e enviado para inclusão no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP)
Publicado: 27/08/2025 às 15:33

(Reprodução)
Investigação da Polícia Civil de São Paulo mostra que Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, chegou a inserir um mandado de prisão falso contra o youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, no sistema oficial de procurados da Justiça. O suspeito foi preso em Olinda, no Grande Recife, na segunda-feira (25).
A informação consta em ofício do Núcleo de Observação de Análise Digital (NOAD), da Secretaria de Segurança Pública (SPP) paulista, ao qual o Diario de Pernambuco teve acesso. Segundo o documento, o pedido de prisão contra Felca foi fraudado e enviado para inclusão no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP) no dia 13 de agosto.
No documento falso, o criminoso informa o nome e CPF do youtuber e afirma que o pedido de prisão preventiva, com prazo de 365 dias, teria sido decretado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). A reprodução do mandado falso pode ser vista abaixo.
Em interrogatório, Cayo Lucas negou ameaças contra Felca, mas admitiu que invadia sistemas governamentais e faturou mais de R$ 500 mil com documentos falsos. Segundo depôs, ele cobrava R$ 15 mil por um alvará de soltura fraudado. Para autenticar os documentos, invadia login e e-mail de juízes.
Investigação
A investigação do caso começou após uma especialista em psicologia infantil, que participou de um vídeo de Felca, receber uma série de ameaças de morte e estupro, por e-mail e WhatsApp, no início do mês. A vítima registrou boletim de ocorrência em São Paulo.
Segundo a Polícia Civil paulista, os ataques foram orquestrados e realizados por integrantes do “Country”, uma organização criminosa que atua no Telegram e no Discord, também envolvida com pedofilia e exploração de crianças e adolescentes. De acordo com o relatório, o grupo teria feito 400 vítimas no país.
Uma das mensagens, enviada por WhatsApp, dizia: “Você tem até 23:00 para apagar o seu perfil do Instagram e cortas os laços com o felca. A country vai atrás de TODA a sua família. Sua vadia asquerosa. Está achando que é quem? vou te destruir, vou torcer o teu pescoço e beber teu sangue. Abraços do lucifage (sic)”.
Anteriormente, a vítima já havia recebido outro e-mail, assinado por “Robert Country”. “Você vai morrer sua vagabunda do caralho. Você mexeu em um ninho de abelhas, vamos matar você e a sua família se o Felipe Bressanim Pereira não apagar o vídeo”, diz um trecho do texto.
No inquérito, os investigadores identificaram dois autores do ataque. Um deles seria um adolescente de 17 anos, morador de Arapiraca, em Alagoas. Já o outro seria Cayo Lucas, usuário dos codinomes “Lucifage” ou “f4LLEN”, que teve a prisão temporária decretada pela Justiça paulista.
Prisão
Apesar de morar em Gravatá, no Agreste, Cayo Lucas foi capturado no bairro Jardim Brasil, em Olinda, onde se preparava para alugar uma casa.
Fora do radar da polícia até então, o amigo dele, Paulo Vinicius de Oliveira Barbosa, de 21, que também estava no local, acabou autuado em flagrante. Segundo a política, estava acessando o sistema da Secretaria de Defesa Social (SDS) no momento da operação. O preso alega inocência.
Na investigação, Cayo Lucas é apontado como um “especialista” em comercialização de logins governamentais. Segundo o inquérito, ele teria acesso ilegal aos sistemas do Judiciário, da Saúde e das polícias de ao menos três estados: Pernambuco (“Polícia Ágil”), Ceará (“Cerebrum”) e São Paulo (“Analítico”).
Ele também seria responsável por fornecer os serviços ilícitos, que incluem vazamento de dados sensíveis reais e falsificação de documentos, para o Country, no qual ocuparia posto de liderança, de acordo com investigadores. “Valendo-se desses recursos ilegais, o grupo COUNTRY exige de suas vítimas dinheiro ou materiais sensíveis”, diz o relatório.
“Elas são, em sua maioria, meninas menores de idade cooptadas nos jogos online e nos grupos de bate-papo. Após o período de aliciamento, que é o webnamoro, elas são assediadas e chantageadas, sofrendo extrema violência física e psicológica”, registra a investigação.
Depoimento
Na delegacia, Cayo Lucas admitiu usar contas de laranjas, que ficavam com 20% do valor, e investimentos em criptomoedas. Um dos possíveis laranjas já foi identificado no inquérito. Ele negou, no entanto, que fizesse parte do Country.
Segundo alega o investigado, ele chegou a ter contato com integrantes do grupo, mas teria cortado a relação após perceber menções ao nazismo.
Em audiência de custódia, na terça-feira (26), o juiz José de Andrade Saraiva Filho, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), decidiu manter a prisão de Cayo Lucas e Paulo Vinícius. Os dois foram mandados para o Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife.
“Os relatos dos autos são extremamente graves - havendo indícios de que os autuados integrem organização criminosa para invasões de sistemas de segurança, a nível nacional”, registra o juiz. “Além disso, não vislumbro como as medidas cautelares possam cessar a reiteração delitiva de ambos em razão da peculiaridade do delito analisado.”

