"Relatos extremamente graves", diz juiz ao decretar prisões por ameaças a Felca
Presos em Olinda, Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, e Paulo Vinicius de Oliveira Barbosa, de 21, foram encaminhados ao Cotel, em Abreu e Lima
Publicado: 26/08/2025 às 17:21

A Polícia Civil prendeu Cayo e Paulo na segunda-feira (25) (Foto: Reprodução/Polícia Civil)
O juiz José de Andrade Saraiva Filho, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), decretou, nesta terça-feira (26), a prisão preventiva de Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 22 anos, e Paulo Vinicius de Oliveira Barbosa, de 21, suspeitos de ameaçar o youtuber Felca. Ambos negam o crime.
Na decisão, obtida pelo Diario de Pernambuco, o magistrado determina que os investigados sejam encaminhados ao Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife, e diz que a medida seria necessária para “garantir a ordem pública” e evitar novos crimes.
“Os relatos dos autos são extremamente graves - havendo indícios de que os autuados integrem organização criminosa para invasões de sistemas de segurança, a nível nacional”, registra o juiz. “Além disso, não vislumbro como as medidas cautelares possam cessar a reiteração delitiva de ambos em razão da peculiaridade do delito analisado.”
Identificado como um dos autores das ameaças, Cayo Lucas foi alvo de mandado de prisão temporária e acabou detido no bairro Jardim Brasil, em Olinda, no Grande Recife, na segunda-feira (25). Já Paulo Vinicius foi autuado em flagrante por supostamente invadir um sistema da Secretaria de Defesa Social (SDS) no momento da ação.
Faturou mais de R$ 500 mil
Conforme revelou o Diario, Cayo Lucas admitiu ataques a sites governamentais e disse que cobrava R$ 15 mil para emitir alvará de soltura falso e até invadia login e e-mail de juízes para autenticar os documentos. Segundo depôs, ele teria faturado mais de R$ 500 mil com os serviços ilícitos. Ele, no entanto, negou participação nas ameaças contra Felca.
Também relatou que fazia “compra e venda de logins de usuários de sistemas governamentais” e vendia os acessos “em qualquer lugar”. Para lavar os valores, ele usaria contas de laranjas, que ficavam com 20% do valor, e investimentos em criptomoedas.
Entre os serviços ilícitos, o investigado citou que oferecia consulta de dados sigilosos de terceiros, bloqueio de contas bancárias, inclusão de dívidas no Serasa e alteração de informações no sistema da Receita Federal (RF) e do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele admitiu, ainda, invasões a sistemas da polícia de ao menos dois estados: o “Cerebrum”, no Ceará, e o “Polícia Ágil”, em Pernambuco.
De acordo com o interrogatório, uma das bases atacadas foi a do Instituto de Identificação Tavares Buril (IITB), responsável, por exemplo, pelas emissões de RGs em Pernambuco. O investigado teria coletado “dados de qualificação e fotografia das pessoas”. As informações foram vendidas por R$ 50 mil.
“Ele paga para pessoas realizarem um ‘dump’ (cópia) da base de dados de órgãos públicos. Ele envia o site e as credenciais para a pessoa que contratou e realiza a cópia do banco e lhe entrega”, registra o documento.
Ainda segundo o depoimento, Cayo Lucas também “contrata pessoas para criar programas e jogos e coletam credenciais de acesso”. “São trojans [um tipo de vírus] que vêm encapsulado em programas. Quando o usuário instala, ele passa a coletar as credenciais e envia direto para um Bot [robô] no Telegram”, diz o documento.
Investigação
A investigação do caso começou após uma especialista em psicologia infantil, que participou de um vídeo de Felca, receber uma série de ameaças de morte e estupro, por e-mail e WhatsApp, no início do mês. A vítima registrou boletim de ocorrência em São Paulo.
Segundo a Polícia Civil paulista, os ataques foram orquestrados e realizados por integrantes do “Country”, uma organização criminosa que atua no Telegram e no Discord, da qual Cayo Lucas seria um dos líderes. Esse grupo também teria envolvimento com pornografia infantil e exploração de crianças e adolescentes, de acordo com a investigação.
No interrogatório, Cayo negou que fizesse parte da organização. A reportagem não localizou a defesa do investigado. Já a família de Paulo Vinícius nega acusações e diz que ele seria inocente.

