Cortejo com frevo e emoção marca despedida do maestro Lessa
Figura conhecida do carnaval e da música instrumental no estado, Lessa também ganhou destaque nacional ao integrar trilhas sonoras de filmes como "Agente Secreto" e "Retratos Fantasmas"
Publicado: 23/07/2025 às 15:11

Cortejo com frevo e emoção marca despedida do maestro Lessa (Reprodução)
Ao som vibrante do frevo e sob aplausos emocionados, o cortejo fúnebre do Maestro Lessa percorreu nas ruas de Santo Amaro nesta quarta-feira (23), até o cemitério de mesmo nome, reunindo familiares, músicos e admiradores. Comandada por uma orquestra que prestou suas últimas homenagens, a despedida foi mais que um adeus: foi a celebração da vida e da arte de um dos maiores nomes da música popular do estado.
Aos 89 anos, Maestro Lessa partiu de forma repentina na última terça-feira (22), após o infarto. Conhecido por sua rigidez profissional, generosidade com os colegas e paixão inabalável pelo frevo, em todas as suas formas e dos mais antigos aos mais novos, ele transformou a orquestra em extensão de sua própria alma. Apesar da tentativa de socorro feita pelos filhos, o coração de Lessa não resistiu.
“Ele nunca tinha ficado doente. Saúde de ferro. Com 89 anos, dizia que não sentia dor de cabeça, não pegava gripe”, contou Givanildo José, um dos filhos. “Foi um pai honesto, sincero, respeitoso. Nunca vi igual.”
A despedida, embalada por frevos clássicos que ele sempre incluía em seu repertório, foi reflexo da trajetória de um homem que viveu para a música. Segundo o músico Sidengard Pereira, que tocava com o maestro desde o final dos anos 2000, Lessa foi um verdadeiro pai para os músicos da orquestra. “Ele era rígido. Não aceitava atrasos, nem roupas fora do padrão. Mas era extremamente generoso. Já me ajudou a comprar instrumento, pagou benefício atrasado para colegas se aposentarem.”
Além de disciplinador, Lessa foi incentivador. “Muitos músicos que tocaram com ele hoje são maestros”, lembrou Sidengard. A sua atuação ultrapassou fronteiras: levou o frevo à Bélgica, Holanda, Alemanha e participou de produções cinematográficas como Agente Secreto e Retratos Fantasmas. Foi figura central em blocos como tradicionais como Pitombeira e Elefante, mas também de blocos mais novos como Tá Maluco e Amantes de Glória. À frente da Pitombeira, foi também responsável por transformar o feriado da Independência, em Olinda, em uma abertura não oficial do carnaval.
O maestro também teve uma vida longe dos palcos. Era pedreiro de ofício, profissão que fazia questão de manter na carteira de trabalho, e também guarda municipal. “Não gostava que chamassem ele de músico. Dizia que era pedreiro. Sempre foi trabalhador até o fim”, acrescentou Sidengard.
Amigo de décadas, o também Maestro Oséas resume o legado deixado: “Conheço Lessa desde menino. Nossa vida inteira foi de parceria. Ele fazia questão de estar comigo. Me pedia para arrumar músicos para a orquestra dele, me chamava para tocar, para dividir a cena. O maior legado que ele me deixou foi essa convivência: de confiança, de irmandade.”
O frevo, perdeu um de seus maiores defensores. Mas como ecoou no cortejo pelas ruas de Santo Amaro, o som da orquestra que o homenageou não soou como fim, mas como continuidade.

