Clube Português discute construção de novo shopping em sede na Rosa e Silva
Além do shopping, projeto imobiliário prevê construção de três torres residenciais e de um empresarial na sede do Português
Publicado: 16/07/2025 às 08:00

Projeto prevê shopping, três torres residenciais e um empresarial (Cortesia)
O Clube Português do Recife tem discutido a construção de um Shopping Center em sua sede. O projeto foi apresentado pela CM Construtora em uma reunião com sócios da instituição, localizada no bairro das Graças, na Zona Norte do Recife, e também inclui a implementação de três torres residenciais e um empresarial.
Fontes ouvidas pelo Diario de Pernambuco relataram que o projeto utilizaria toda a capacidade de construção dos 26 mil metros quadrados da área do clube. Com térreo e três pavimentos, o novo centro de compras deve ter o dobro de lojas do Shopping Plaza, no bairro de Casa Forte, que reúne cerca de 160 empreendimentos.
Já o empresarial seria construído virado para a Praça do Entroncamento, segundo uma fonte que prefere não se identificar. O projeto prevê ainda que as três torres residenciais fiquem integradas ao shopping, através de uma laje.
Com alturas entre 60 e 70 metros, elas ficariam dispostas em forma de “U”. Os apartamentos, previstos para ter de 50 a 70 m², devem ficar voltados para a Avenida Agamenon Magalhães.
O Clube
Fundado em 1934, o Clube Português é uma das mais tradicionais agremiações sociais, esportivas e culturais do Recife. Com forte ligação com a comunidade portuguesa local, a instituição desempenha importante atuação no esporte, com destaque no Handebol, no Hóquei e na Natação. A sede conta com ampla estrutura esportiva e cultural, que inclui campos de futebol, salões de festa e áreas de lazer.
Em novembro do ano passado, a Câmara Municipal do Recife aprovou um projeto de lei que transforma o Clube Português em Patrimônio Cultural Imaterial da cidade. Apesar disso, com área construída prevista em 130 mil m², o projeto imobiliário em discussão representaria a supressão quase total da atual estrutura da agremiação, que passaria a funcionar na cobertura do shopping.
Questionado pelo Diario de Pernambuco, o Clube Português informou que o projeto ainda não possui estudo de impacto ambiental, mas que a instituição realizou um estudo de impacto de trânsito. O trabalho foi feito a pedido da Prefeitura do Recife, que já teve acesso ao projeto.
Segundo o clube, o estudo apontaria melhorias no trânsito da área caso o projeto seja construído. "Haverá uma melhor fluidez do trânsito no local, já que no pavimento térreo haverá vias internas liberadas para os veículos entrarem para não haver retenção de veículos no entorno do empreendimento", diz, em nota. Um estudo de impacto de vizinhança também teria sido encomendado.
Questionamentos
Sócios do Português têm questionado os processos internos de votação acerca do projeto imobiliário. No último dia 16 de junho, o juiz Ossamu Narita, da 20ª Vara Cível da Capital do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), determinou a reativação imediata do título de sócia-proprietária número 385, pertencente à médica Margareth Rose de Oliveira Maciel.
Ela descobriu que havia perdido os direitos associativos sob justificativa de inadimplência, às vésperas de uma assembleia marcada pelo clube para discutir o projeto do shopping. Nos autos, a defesa da médica afirma que seu procurador chegou a se dirigir ao clube com o objetivo de regularizar eventuais débitos, mas foi informado de que o título estava “bloqueado” e que nenhuma informação financeira ou boleto para pagamento seriam fornecidos.
O procurador em questão era o tabelião Nogue Maciel, filho de Margareth, para quem ela transmitiu seus direitos de sócia. “Os sócios-proprietários não pagavam mensalidades no clube. Isso mudou de três anos para cá, mas ninguém nos informou. Apenas depois, fiquei sabendo que a convocação dos associados inadimplentes tinha acontecido no jornal interno do clube, por meio da numeração dos títulos. A gente nem lembrava desse número”, explica Nogue.
Segundo a defesa de Margareth, outros sócios passaram pela mesma situação. “O ‘bloqueio’ de 179 (cento e setenta e nove) títulos tem por finalidade manipular o placar das assembleias, a fim de facilitar a aprovação do negócio [a construção do shopping] pelo quadro social”, diz a peça do advogado Rafael Carneiro Leão.
Neto de um ex-presidente do clube, Nogue acredita que a permuta com a construtora não atende aos interesses da instituição. “Eu até estranhei. A gente sabe que, no mercado imobiliário, uma permuta numa área privilegiada daquelas seria de pelo menos 25% para o proprietário do terreno. A proposta é de 14,5%”, comenta.
Ele também chama atenção para os possíveis impactos urbanísticos da obra. “A gente sabe que a situação do trânsito da Rosa e Silva já é calamitosa. Seria algo que aumentaria muito a circulação de pessoas naquela região, acredito que a prefeitura nem aprovaria esse projeto”, completa.
Na nota, o Clube Português informou que as deliberações internas sobre o empreendimento devem ocorrer até o final de agosto. A instituição também contesta a versão de que teria excluídos sócios contrários ao projeto.
"O Clube Português, com base no estatuto vigente, notificou os sócios inadimplentes para quitar os valores de contribuições em atraso e, posteriormente, ante a inércia de quase 200 sócios, realizou procedimento de retomada dos títulos, notificando todos por correspondência via AR no endereço declarado pelo sócio na secretaria, publicou no boletim informativo do clube e em jornal de grande circulação, concedendo prazo para regularização", afirma.
"Os sócios que não regularizaram tiveram os títulos retomados, de acordo com os normativos internos do clube. Portanto, não existe sócio inadimplente excluído de votar, existe pessoas que não são mais sócios, por perderem essa condição, querendo participar de uma discussão que não lhes cabem", completa.

