Agressão em academia expõe preconceitos
A vítima é Kely Moraes, de 45 anos, atleta de fisiculturismo e profissional de Educação Física, que relata ter sido confundida com uma mulher trans por uma aluna da academia
Publicado: 27/05/2025 às 21:46

Confundida com trans, mulher cis é agredida em academia de Boa Viagem (Reprodução/Redes Sociais)
Uma personal trainer foi impedida de usar o banheiro feminino, agredida verbal e fisicamente dentro de uma academia da rede Selfit, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. O caso aconteceu no último dia 26 de maio e foi registrado na Delegacia de Boa Viagem como constrangimento ilegal, vias de fato e ameaça.
A vítima é Kely Moraes, de 45 anos, atleta de fisiculturismo e profissional de Educação Física, que relata ter sido confundida com uma mulher trans por uma aluna da academia e posteriormente agredida também por um homem que interveio na discussão.
Kely conta que havia acabado de chegar à academia após um acidente leve de moto, ainda trêmula pelo susto, quando foi abordada por uma mulher na escada de acesso ao banheiro. “Ela me chamou e disse: ‘Você sabia que você não pode ir nesse banheiro?’. Achei que era brincadeira, mas ela apontou o dedo e afirmou: ‘Você é um homem. Banheiro de trans é lá embaixo’”, relata a personal. Mesmo se identificando como mulher, mãe e avó, Kely afirma que a aluna insistiu em impedi-la de entrar.
A situação se agravou quando um homem, também frequentador da unidade, se aproximou e reforçou que havia um banheiro “inclusivo” no andar inferior. “Foi a primeira vez que algo tão violento aconteceu comigo dentro de uma academia. Já vivi outras situações constrangedoras por causa do meu corpo, mas nada assim. Me senti ofendida, humilhada”, contou Kely, que, devido ao porte físico acredita ter sido julgada apenas pela aparência.
O caso ganhou repercussão nas redes sociais após Kely registrar parte da discussão em vídeo. Os agressores foram posteriormente desligados da academia. Em nota oficial, a Selfit lamentou o ocorrido, declarou repúdio a qualquer ato de preconceito ou violência e informou que “a equipe local agiu para conter os ânimos e garantir a segurança das pessoas envolvidas”, além de colaborar com as investigações.
A Polícia Civil de Pernambuco também se pronunciou: “Foi instaurado inquérito policial. As diligências foram iniciadas imediatamente após a comunicação do fato e seguirão até a completa elucidação”.
O episódio levantou debates sobre transfobia e racismo. Para Kely, que há 24 anos vive a rotina de treinos e que vê a academia como seu espaço de acolhimento e liberdade, o impacto emocional foi profundo: “A academia sempre foi o lugar onde eu podia ser eu, onde ninguém me olhava atravessado. Ver isso acontecer ali me deixou arrasada”.
Além do abalo emocional, Kely afirma que está sendo acompanhada por dois advogados e que já tomou as medidas legais cabíveis. “Eu não queria provar nada para ninguém. Mas chegou um momento em que eu percebi que precisava expor, porque alguém tinha que ver, tinha que haver uma prova”.
A profissional também destaca que o preconceito pode ter outras camadas além da transfobia. “Eu estava com roupa de chuva, coberta, não tinha como ela decidir o que eu era pelo meu corpo. Ou ela já me observava e se incomodava, ou foi pela cor da minha pele. Se eu fosse uma mulher branca, talvez ela nem tivesse dito nada”.
O Conselho Regional de Educação Física da 12ª Região (CREF12/PE) emitiu uma nota oficial de repúdio. No texto, o Conselho afirma prestar total apoio à profissional e ressalta: “Somos veementemente contra qualquer forma de racismo, discriminação, abuso, assédio, agressão ou violência, incluindo a transfobia”. O órgão informou que já entrou em contato com Kely Moraes e acompanha de perto o andamento do caso.

