Educação
Após mais de um mês, professores e alunos de Pernambuco relatam rotina de aulas online
Por: Emannuel Bento
Publicado em: 15/06/2020 11:52 | Atualizado em: 15/06/2020 11:56
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Aula online de Erica Rosangela Pereira, 46 anos, professora de língua portuguesa na escola Estadual Aluísio Germano (Foto: Zoom/Reprodução e Cortesia) |
Alunos e professores de escolas estaduais e privadas em Pernambuco já estão há um mês exercitando o ensino 100% à distância. Conforme apurado pelo Diario, o início do processo trouxe alguns desafios, mas a rotina possibilitou uma necessária adaptação para que crianças e adolescentes não interrompessem seus processos educacionais, com aulas, atividades e, em alguns casos, até avaliações. A realidade varia de escola para escola, sobretudo quando se considera questões socioeconômicas - tópico que foi bastante citado durante o debate sobre o adiamento do Enem. No estado, as aulas seguem suspensas até o fim de junho. O setor ainda não chegou a ser citado nos planos de reabertura, embora o secretário Fred Amancio já tenha dito em coletivo que diretrizes gerais estão sendo discutidas.
Erica Rosangela Pereira, 46 anos, é professora de língua portuguesa na escola Estadual Aluísio Germano, do município de Carpina, na Zona da Mata de Pernambuco. Em 18 de março, um dia após a recomendação do isolamento, profissionais da escola organizaram grupos de WhatsApp com turmas. Foi o primeiro passo para estabelecer uma comunicação direta. “A maioria dos alunos entenderam a necessidade de não ficar em casa por ficar, de não perder o vínculo com a escola”, conta Érica, que atua no Ensino Fundamental II e Médio.
“Estamos realizando aulas virtuais em plataformas como Zoom e Google Meet, enquanto o espaço com atividades e slides fica no Google Classroom. A secretaria de educação tem um site chamado Educa PE, que também nos auxilia em conteúdo e atividades, mas a cada professor tem liberdade. Eu geralmente explico minha visão sobre o tema e peço que eles assistam lá também”.
Para a professora, um dos principais desafios é compreender quando o aluno não está atento às aulas. “Percebemos ausências nas transmissões e atividades que não são entregues. É com base nisso que conseguimos mapear alunos desatentos, fazendo com que a direção telefone para os responsáveis. Esperamos parcerias com os pais nesse sentido, mas alguns não conseguem dar tanta atenção”. Também existe o desafio material, com estudantes sem acesso a equipamentos necessários. Na Aluísio Germano, aqueles que não contam com computador ou notebook em casa estão assistindo as transmissões e acessando as atividades em celulares.
“Existem alunos que entregam a atividade às 23h, mas porque é o tempo necessário para os pais chegarem em casa e disponibilizarem seus celulares. Tem uma menina que pede desculpa, pois não tem banda larga em casa e o pai só coloca crédito no celular uma vez por mês. Então quando o pacote de dados móveis acaba, não tem como acompanhar. Existe um outro que mora no Engenho Cotunguba, na Zona Rural, e só tem um único telefone em casa, mas consegue entregar tudo”.
Kauã Francisco, 12 anos, mora em Tracunhaém, é matriculado na Aluísio Germano e tem usado o telefone celular para estudar. “Eu assisto aulas pelos vídeos do portal Educa PE. Gosto muito porque tem assuntos bons, os professores são muito bons e explicam bem. Usamos o Zoom quando o professor precisa explicar algo ou tirar dúvidas”, conta o garoto, que tem feito reforço de matemática e está com saudades do cotidiano na escola. “Sinto falta dos meus amigos e dos professores. Dá mais saudades do que nas férias”.
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Fernando Montenegro, 15, cursa o primeiro ano do Ensino Médio no Santa Maria de Boa Viagem (Foto: Cortesia) |
João Bosco Carneiro, 42, ensina a disciplina de Geografia nas unidades do Santa Maria de Boa Viagem e do Paiva. “Já tinha gravado vídeos para turmas EAD em faculdade, mas nunca tive a prática como rotina diária. No início foi um pouco difícil, porque em casa não temos a estrutura da escola. Meu quarto é a sala de aula, então é preciso um esforço para melhorar a qualidade da transmissão. A partir de situações próprias do ensino à distância é que vamos melhorando, buscando novas soluções”, conta o educador, que trabalha com Fundamental II e o primeiro ano do Médio.
As avaliações também têm sido uma problemática nas escolas. No Santa Maria, elas estão sendo realizadas através de formulários do Google. “Ficamos conectados em uma reunião e enviamos os links. Os alunos contam com horários fixos para responder e entregar. As questões objetivas são automaticamente corrigidas pela ferramenta, mas as subjetivas nós lemos como uma prova de papel”, explica. “Ainda assim, sinto falta da interação física, de entender o aluno pelo olhar ou pelas brincadeiras. A sala de aula não consegue ser totalmente substituída antes do ensino superior”, opina Bosco, que também tem vivido o desafio de acompanhar o ensino à distância enquanto pai de João Lucas, 6, João Henrique 1 e João Miguel, 8 meses. “O mais velho tem assistido aulas no notebook da mãe. Ele é bem aplicado. O do meio tem assistido vídeos apenas, pois está no Maternal I”.
Fernando Montenegro, 15, está cursando o primeiro ano do Ensino Médio no Santa Maria de Boa Viagem, integrando uma turma voltada para cursos militares como ITA e AFA. “Eu tinha uma pequena experiência de ensino virtual por ver algumas salas no YouTube, mas no geral o EAD foi uma realidade muito nova. Desde o primeiro contato, o colégio tem nos dado um suporte mandando aulas, gravadas ou ao vivo, e atividades”, conta. “Eu moro em Candeias, então enfrentava muito trânsito para chegar até Boa Viagem, ocasionando até alguns atrasos. O estudo totalmente em casa tem sido bom nesse sentido, pois é um tempo em que posso estudar mais ou resolver questões. Mas sinto falta das aulas presenciais pelo contato humano, o convívio com amigos, mas são sacrifícios para enfrentar o problema”.
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