"Penso no Governo do Rio", diz Glauber Braga após suspensão de mandato
Em entrevista exclusiva ao Diario, o deputado federal Glauber Braga (Psol) falou sobre seu processo de cassação e futuro político
Publicado: 18/12/2025 às 16:43
Glauber Braga prevê meses de mobilização e discussão de futuro político. (Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
Em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco, o deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) disse que pensa em disputar o Governo do Rio de Janeiro nas eleições de 2026. Após a suspensão de seu mandato por seis meses, ele também pondera sobre voltar a pleitear uma vaga no Congresso.
No dia 10 de dezembro, a Câmara dos Deputados aprovou a suspensão do mandato do deputado por 318 a 141 votos e três abstenções. A votação aconteceu depois da aprovação de uma emenda do Partido dos Trabalhadores (PT) que propôs a suspensão como alternativa à cassação, que vinha sendo defendida pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.
Braga foi acusado pelo partido Novo de ter praticado quebra do decoro parlamentar ao expulsar, com chutes e empurrões, o integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) Gabriel Costenaro da Câmara. O deputado afirma que Costenaro proferiu ofensas contra sua mãe, que à época sofria de Alzheimer avançado. Ela faleceu menos de um mês depois do incidente.
Na última terça-feira (16), seu mandato foi assumido pela suplente da chapa, Heloísa Helena (Rede-RJ). Confira a entrevista na íntegra.
DP: Deputado, a que o senhor atribui a suspensão de seu mandato?
GB: Ao final desse processo, todos os veículos de comunicação dizem o seguinte: quem fez com que esse processo fosse para frente foi o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira. Isso é uma realidade que ninguém pode ocultar, porque ficou evidente que se tratou de uma perseguição política dele, principalmente por conta das denúncias do mandato em relação ao orçamento secreto.
Durante todo esse processo, a arrogância dele foi total. Ele dizia aos interlocutores que me caçaria com mais de 400 votos, mas não teve condições de concretizar esse cenário, porque a gente apostou desde o início em uma mobilização que fosse para a rua, com a presença de sindicatos e movimentos sociais em todas as reuniões.
DP: Como o senhor percebeu o gesto da presidência da Câmara de unir a votação de sua cassação com a do deputado Alexandre Ramagem e da ex-deputada Carla Zambelli?
GB: Eu entendi imediatamente que se tratava de uma tática para me caçar, com um combo golpista. Por quê? Porque eles votavam aquilo que chamam de dosimetria ao mesmo tempo em que se tratava de uma anistia. Eles colocaram minha cassação com a da Zambelli, só que a Zambelli, na prática, já estava cassada, porque ela não tem mais direitos políticos pelos próximos oito anos.
Quem sofreria consequências de uma cassação seria eu, porque ficaria inelegível neste período. Nesse combo, eles preservariam o direito político do Eduardo Bolsonaro, desligando ele por faltas, e deixariam o caso do Ramagem para a próxima semana. Isso esfriaria o “combo”, aí não teria necessidade de deliberar sobre o caso dele. Foi como eu fiz a leitura da situação imediatamente quando recebi essa informação.
DP: Houve alguma orientação para Heloísa Helena na continuidade de seu mandato?
GB: Tenho certeza de que nós vamos ter à frente da Câmara, neste período de seis meses, um mandato ético, que faz a defesa dos direitos da classe trabalhadora de uma forma bastante intensa, como sempre foi a característica da atuação da Heloísa. Ela é uma militante experiente e não precisa de nenhuma orientação minha.
DP: E o que esperar do senhor nos próximos seis meses?
GB: Espero percorrer os municípios do estado do Rio de Janeiro, formando núcleos de esquerda de acompanhamento popular das ações, percorrer estados brasileiros para onde eu for convidado a partir daquilo que a gente tem a possibilidade de fazer, defendendo também a organização política para que a gente derrote de maneira definitiva a extrema-direita. Quero continuar fazendo a discussão pública sobre a necessidade de acabar o orçamento secreto.
Além disso, a gente sempre fala tanto de uma necessidade de trabalho de base, né? De formação de núcleos… O nosso mandato sempre fez isso... Mas agora, evidentemente, eu tenho mais tempo para me dedicar de maneira plena a essa ação, com enfoque no Rio de Janeiro, mas me colocando também à disposição das outras regiões. Acumulei experiência percorrendo os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. Acho que isso pode contribuir para as duras batalhas que a gente terá pela frente.
DP: E em termos eleitorais?
GB: Eu já tinha começado um conjunto de 100 reuniões, percorrendo os 92 municípios do Rio. A gente discute programa de governo, conjuntura nacional e tática eleitoral. Na tática eleitoral, a gente vinha votando nas plenárias para saber o que as pessoas acham. A votação estava em 58% para que eu fosse candidato a governador e 42% para que eu fosse candidato a deputado.
É natural agora, com o desfecho de tudo que aconteceu, que se amplie uma pressão positiva pela pré-candidatura a deputado federal, mas a gente ainda tem tempo para essa tomada de decisão. Em uma pesquisa Big Data, saí em segundo lugar para o governo, então se intensifica uma mobilização pela candidatura ao governo.
Há um calendário que vai até março para a inscrição de candidaturas, com a tomada de decisão em abril, então penso no Governo do Rio ou na candidatura para deputado. Até lá, vou ampliar essa mobilização para consulta nas cidades.