A um ano das eleições, Pernambuco se prepara para disputa polarizada
Pano de fundo da disputa pelo executivo nacional carrega uma polarização forte, enquanto no estado a disputa já tem tendências a se concentrar entre a atual governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB)
Publicado: 06/10/2025 às 01:00

Eleições (br.freepik.com)
O calendário eleitoral marca a contagem regressiva: um ano para as eleições de 2026. O cenário político já começa a tomar forma no Brasil e em Pernambuco. O pano de fundo da disputa pelo executivo nacional carrega uma polarização forte, enquanto no estado a disputa já tem tendências a se concentrar entre a atual governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB).
Na disputa presidencial, o debate segue sendo dividido entre governo e oposição. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem a vantagem atualmente, com uma aprovação crescente nas pesquisas, somado à ausência de uma liderança consolidada na direita, após a condenação do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) por liderar a trama golpista.
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A avaliação é do cientista político Arthur Leandro, que lembra que a direita ainda não conseguiu emplacar um nome que apareça de forma competitiva nos levantamentos recentes. Para ele, sem uma liderança consolidada, a oposição segue fragmentada, o que pode facilitar a reeleição de Lula.
A cientista política Priscila Lapa destaca que a direita, apesar de ter sido majoritária no Legislativo em 2022, enfrenta dificuldades para repetir o mesmo desempenho no Executivo.
“Isso criou a falsa impressão de que agora venceria todas as eleições, em todos os níveis, seja quem fosse o candidato. Mas a realidade é mais complexa do que apenas esse olhar generalizante”.
“Hoje existe muita expectativa de poder e sempre que isso ocorre dentro de um grupo/tendência política, torna complexa a escolha de quem será o candidato que unirá as tendências e se tornará o representante de toda a direita. Substituir Bolsonaro nessa missão não é simples. O bolsonarismo é maior do que Bolsonaro, mas encontrar unicidade não é tão simples”, destaca Priscila.
Em Pernambuco, o cenário é diferente da última disputa para o governo, quando havia até cinco nomes competitivos. Para 2026, a tendência é de polarização entre Raquel Lyra e João Campos, que já se revela hoje em discursos e colocações dos dois lados. Leandro aponta que o prefeito do Recife larga com vantagem inicial nas pesquisas, mas ainda há espaço para mudanças, caso a governadora trabalhe no que o cientista político chama de “três eixos do tabuleiro”: entregas de governo, alianças locais (prefeitos e deputados com bases locais fortes), e rejeição.
“Raquel Lyra pode reequilibrar o jogo se acelerar entregas, unificar centro e direita e reduzir rejeição ao seu nome”, aponta.
Priscila Lapa também avalia que o desgaste do poder do PSB, que favoreceu Raquel em 2022, e o processo de renovação de lideranças, com candidatos fortes em suas cidades de origem, não se repete neste pleito.
Segundo a cientista política, o cenário atual mostra uma disputa mais concentrada em dois polos já consolidados, representados por João e Raquel, que reforçaram suas posições a partir das eleições municipais de 2024. “Não se poderá desprezar a conjuntura nacional como orientadora das decisões dos eleitores”, afirma.
Apesar de parecer que a vitória de João Campos seria “inevitável” na conjuntura atual de 2025, Priscila também ressalta que ainda existem fatores que, até o início propriamente dito da corrida eleitoral, podem tornar a disputa favorável à reeleição da governadora, “como o cronograma das entregas de obras estruturantes que estão em curso e o fortalecimento político da base nos municípios, com o numeroso grupo de prefeitos hoje aderentes à governadora”.
O especialista também destaca o impacto direto das eleições nacionais no eleitor pernambucano. Leandro lembra que o ‘tabuleiro nacional’ segue relevante com a possibilidade do presidente Lula manter o diálogo aberto com mais de uma disputa para o palanque de Pernambuco, enquanto a direita observa e negocia uma posição.
“Há riscos que podem embaralhar o jogo, crises de segurança, eventos climáticos, tropeços na gestão, e janelas de oportunidade, como inaugurações e parcerias federais. Em geral, João Campos preserva favoritismo, e busca expandir apoios no interior e defender bem as realizações à frente da prefeitura do Recife”, observa.
“No fim, deve se consagrar vitorioso quem mostrar resultado concreto, construir alianças estáveis e manter diálogo amplo até a campanha oficial”, conclui Leandro.
LEGISLATIVO
As duas cadeiras de Pernambuco no Senado também serão outro ponto central da disputa em 2026. A corrida pelas cadeiras na Casa Alta do Congresso Nacional se projeta como peça estratégica não apenas para a composição da representação federal, mas como parte da engrenagem da sucessão estadual, segundo o cientista político Arthur Leandro.
Na análise do especialista, a disputa para o Senado se torna o “tabuleiro central” onde se joga a sucessão estadual. Com destaques aos nomes de Humberto Costa (PT), Miguel Coelho (UB) e Anderson Ferreira, a disputa na prática, seria instrumento nas estratégias dos pré-candidatos ao governo, Raquel e João Campos, buscando gerar um “efeito de arrasto”, transferindo prestígio e votos para toda a coligação e atraindo recursos da esfera federal.
“Cada um enxerga no seu postulante ao Senado um ativo crucial para equilibrar a chapa, seja consolidando o alinhamento ideológico com o Palácio do Planalto, seja ampliando a capilaridade em regiões estratégicas do estado”, aponta.
Neste cenário, Leandro ressalta que o eleitor que busca racionalmente votar no "melhor candidato", se depara com um cálculo complexo entre sua lealdade ou rejeição a um “projeto nacional” que orbita na figura de Lula e a avaliação pragmática sobre quem melhor representa os interesses do Estado.
“A corrida senatorial não é um evento paralelo, mas o campo decisivo onde a hegemonia política no estado será, em grande parte, definida”, avalia.
A disputa para a Assembleia Legislativa em Pernambuco e para a Câmara Federal deve ser marcada por dificuldades para os partidos. Desde a reforma eleitoral de 2017, coligações proporcionais estão proibidas, o que obriga as legendas a montarem chapas próprias ou apostarem em federações.
Leandro lembra que a nova regra favorece partidos grandes e organizados, como PSD, PL, PT e União Brasil, deixando legendas menores enfrentarem dificuldades crescentes para atingir o quociente eleitoral necessário à eleição de representantes.
“A fragmentação do sistema partidário brasileiro, com proliferação de legendas de baixa densidade eleitoral, amplifica esses desafios, forçando lideranças políticas a migrarem para partidos viáveis ou buscarem federações ou fusões estratégicas”.
Para o especialista, esse cenário aponta para uma alta probabilidade de reconfiguração das bancadas federal e estadual, com tendência ao fortalecimento de partidos com maior capacidade de coordenação e mobilização de recursos, reduzindo a representatividade de grupos políticos periféricos.
Priscila Lapa lembra que o processo eleitoral de 2022, foi marcado por uma dispersão de parlamentares em partidos diversos, tornando o processo ainda mais competitivo e imprevisível, já que bancadas perderam espaço para siglas menores. A mudança de partido da governadora Raquel Lyra no início do ano também mexeu nas expectativas, segundo a cientista política, alterando perspectivas de reeleição e fortalecendo a bancada governista, que pode ganhar corpo dependendo da sua capacidade de articulação até 2026.
Outro ponto relevante é a influência da política nacional sobre os palanques locais. Para a especialista, o apoio do presidente Lula também pode ser determinante na formação de chapas proporcionais mais competitivas, especialmente para partidos aliados do governo federal.

