Anistia vira moeda de troca para as eleições de 2026
Segundo especialista, perdão para os envolvidos na trama golpista produz "efeitos políticos profundos e ambivalentes" para as eleições e participação de Tarcísio de Freitas nas articulações foi uma "jogada política"
Publicado: 21/09/2025 às 22:00

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
A articulação em torno da aprovação do projeto de anistia para os envolvidos na trama golpista e nos ataques do 8 de janeiro é vista pelo cientista político e advogado Sandro Prado como uma jogada de risco com profundas implicações para as eleições de 2026.
Para o especialista, embora o projeto tenha uma "probabilidade moderada de passar pela Câmara dos Deputados", tem "probabilidade baixa de ser aprovada pelo Senado" e "muito pequena de ser sancionada". Mesmo se ultrapassar as barreiras legislativas, ele afirma que o texto enfrenta uma "forte probabilidade de litígio judicial e de uma derrota via jurídica".
Ainda de acordo com Prado, a aprovação de uma anistia para os envolvidos na tentativa de golpe poderia produzir "efeitos políticos profundos e ambivalentes" para 2026. “De um lado, (a aprovação) pode fortalecer eleitoralmente o campo bolsonarista - extrema direita - pela possibilidade de uma união da base e da reivindicação de vitimização, estratégia muito usada pela ala extremista e que foi determinante para a eleição de Bolsonaro”, pontua.
Por outro lado, continua o cientista político, o projeto pode causar "repulsa em setores moderados e independentes", o que, por consequência, consolidaria a candidatura de Lula e reforçaria a polarização política. “A iniciativa também pode atrair o risco de isolamento internacional e impacto sobre a confiança de agentes econômicos", explica.
“Dessa forma a anistia aumenta a volatilidade e radicalização do processo eleitoral de 2026, beneficiando a extrema direita radical”, complementa.
Participação de Tarcísio de Freitas
A participação do governador de São Paulo e presidenciável, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na articulação pela anistia é vista por Prado como uma "jogada política de alto risco e friamente calculada". “É uma estratégia política para fidelizar o eleitorado bolsonarista e para sinalizar lealdade, porém é muito perigosa pois coloca em xeque a construção de sua imagem como opção alternativa moderada para ser o candidato à presidência em 2026”, afirma.
Ainda de acordo com Prado, “ao articular em favor da anistia, Tarcísio procura angariar os votos do PL e das alas que exigem proteção a Bolsonaro, o que é um movimento para assegurar apoio a sua pré-candidatura e neutralizar rivais no campo da direita”.
No entanto, o cientista político avalia que “a associação de Tarcísio a uma manobra que a opinião pública pode entender de forma ampla como supressora de responsabilização dos golpistas contra a ordem democrática, pode causar um desgaste irreversível junto a eleitores que valorizam a estabilidade das instituições".
“Politicamente, Tarcísio pode ganhar no curto prazo, mas arrisca sua janela estratégica de atrair o eleitorado do ‘centro’, algo fundamental em uma eleição para presidência da República. Dessa forma, ele teria ganho tático para aniquilar concorrentes a vaga de presidente dentro do campo da direita, porém perderia em estratégia eleitoral para 2026 ao desestimular o voto dos eleitores mais ao centro”, conclui.

