"Não é mensagem de delinquente do PCC", diz Moraes sobre conversa entre Ramagem e Bolsonaro
Em seu voto, ministro Alexandre de Moraes também questionou alegações de que ABIN poderia interferir nas urnas eletrônicas
Guilherme Anjos e Mareu Araújo
Publicado: 09/09/2025 às 12:24

Relator do caso, ministro Alexandre de Moraes é o primeiro a votar no julgamento da trama golpista no STF (Foto: Rosinei Coutinho/STF)
Durante o julgamento do núcleo 1 da trama golpista, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), comparou a “mensagens de delinquentes do PCC” uma conversa entre o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
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A mensagem seria parte do documento intitulado “Presidente TSE”, cujo titularidade foi assumida por Ramagem. Segundo a acusação, o arquivo argumenta contra o sistema de voto eletrônico, e imputa fraudes nas eleições à Justiça Eleitoral. Alexandre de Moraes aponta que o conteúdo é “exatamente idêntico” ao que foi dito por Jair Bolsonaro em live.
A mensagem de Ramagem, lida por Moraes nesta terça-feira (9), diz: “Mantenho total certeza que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do senhor no primeiro turno. A urna já se encontra em total descrédito perante a população. A prova da vulnerabilidade já foi feita em 2018 antes das eleições. Resta somente trazê-la novamente e constantemente. A credibilidade da urna já se esvaiu, assim como a reputação de ministros do Supremo Tribunal Federal”.
De acordo com o ex-diretor da Abin, essa mensagem seria uma anotação particular, como em um diário. “Meu querido diário”, ironizou Moraes.
O ministro comparou o conteúdo da mensagem a uma conversa entre integrantes da facção criminosa PCC. “Isso não é uma mensagem de um delinquente do PCC para o outro. Isso é uma mensagem do diretor da Abin para o então presidente da República. A organização criminosa já iniciava os atos executórios para se manter no poder”, disparou.
Moraes também argumentou que o documento é claramente dirigido ao ex-presidente, visto que Ramagem se refere diretamente a ele no texto. De acordo com a acusação, o conteúdo teria sido alterado dois dias antes de ser reproduzido em live de Bolsonaro, “para fazer acreditar que seria um diário”.
O magistrado criticou, ainda, alegações de que a Abin teria poder de intervir nas urnas eletrônicas. “Nas sustentações orais no recebimento da denúncia, foi dito que era a função da Abin interferir nas urnas eletrônicas. Desde quando a Abin deve interferir em eleições?”, questionou.

